Atividade física mínima e longevidade

mulher alongando a perna para praticar a atividade física mínima necessária para manter a saúde

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Publicado em: 14 de novembro de 2022

Revisado em: 11 de novembro de 2022

Que atividade física traz benefícios à saúde já sabemos. Mas qual a atividade física mínima necessária para aumentar a longevidade? Leia o artigo do Dr. Drauzio.

 

Há muito sabemos que a atividade física traz benefícios à saúde. Mas pouco se sabe sobre o mínimo de atividade necessário para reduzir a mortalidade e a incidência dos agravos que mais óbitos provocam na população: complicações cardiovasculares e câncer.

Pesquisadores ingleses publicaram, nesta semana, um estudo sobre esse tema no “European Heart Journal”. Participaram 71.893 pessoas de ambos os sexos, com idades entre 55 e 67 anos (média 62,5 anos), que tiveram o tempo semanal de atividade física vigorosa (AFV) medido por um acelerômetro de pulso, durante pelo menos 16 horas por dia.

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Grosso modo, atividade física vigorosa corresponde a andar a pé à velocidade de cerca de 7 km/h, ou de bicicleta, no plano, a uma velocidade ao redor de 20 km/h.

Os níveis de AFV foram relacionados com a mortalidade por qualquer causa, por doenças cardiovasculares e por câncer.

No decorrer de um período médio de acompanhamento de 5,9 anos, a mortalidade do grupo, que não praticou exercícios, atingiu 4,2%. Entre os que praticaram até 10 minutos/semana de atividade vigorosa, os índices de mortalidade caíram para 2,1%. No grupo que praticou entre 10 e 30 minutos de AFV, esse número diminuiu para 1,8%. Nos de AVF entre 30 e 60 minutos semanais, caiu ainda mais: 1,5%. Os mais ativos com AFV acima de 60 min/semana apresentaram índice de 1,1%, ou seja, quase ¼ da mortalidade dos sedentários.

O nível considerado ótimo de atividade física vigorosa, aquele com mortalidade mais baixa, foi o dos que praticaram 53 minutos/semana. Acima desse nível, o de pequeno número de participantes não atingiu significância estatística.

Houve uma relação inversa entre o volume de atividade vigorosa, mortalidade geral, por doença cardiovascular e por câncer: quanto mais AFV menos mortes.

O volume mínimo de exercícios vigorosos semanais para reduzir a mortalidade geral e o número de mortes por câncer foi de apenas 15 minutos/semana. Para começar a diminuir o risco de óbitos por doença cardiovascular, o volume mínimo foi de 19 minutos/semanais.

Entre os que participaram da pesquisa, apenas 20% se empenharam em praticar mais de 15 minutos de atividade vigorosa por semana. É um exemplo claro de que o sedentarismo é uma epidemia.

Outro dado importante veio da análise do impacto da frequência semanal da AFV na mortalidade geral. Aqueles que fracionaram a prática em várias vezes (um pouco de cada vez) reduziram a mortalidade em 27%.

A Organização Mundial da Saúde estima que o sedentarismo provocará, no século 21, um número de mortes da mesma ordem do que o tabagismo (a estimativa é de que cerca de 800 milhões de pessoas perderão a vida por causa do cigarro, até 2100).

Baseados em tais previsões e nas melhores evidências científicas, a OMS, as autoridades de saúde americanas e europeias recomendam 150 a 300 minutos semanais de atividade de moderada a intensa por semana.

Recomendar é uma coisa, bem diferente é convencer. Veja os números neste estudo: somente 20% dos participantes conseguiram praticar mais de 15 minutos semanais de AFV. Não parece utópico insistir em campanhas para praticar, no mínimo, 150 minutos de AVF semanais, quando 80% não conseguiram dedicar míseros 15 minutos/semana a ela?

Um estudo anterior havia mostrado que 60 a 90 minutos de AFV semanais, acumulados em sessões de 10 a 15 minutos cada, aumentam a expectativa de vida em mais 3 anos. E que para cada 15 minutos a mais, o risco de morrer cai 4% ao ano. Três anos é pouco? São mais de mil dias.

O objetivo do estudo publicado na última semana foi o de testar a hipótese de que existe relação inversa entre a prática de atividade física vigorosa realizada mesmo por pouco tempo, diversas vezes por semana, e o risco de morte prematura por doenças cardiovasculares ou câncer.

Se pensarmos na saúde pública, é mais sensato abandonarmos o objetivo utópico de insistir na prática de 150 a 300 minutos semanais de atividade moderada a intensa, para explicar que 15 a 20 minutos semanais já reduzem a mortalidade geral, o risco de morrer de câncer, infarto do miocárdio, AVC e de outros problemas cardiovasculares. Que desculpa você tem para não dedicar 15 a 20 minutos semanais, para viver mais e melhor? E, se você puder investir mais tempo para viver bem mais e muito melhor? Por que não?

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