O uso de recipientes plásticos com BPA é, com frequência, considerado nocivo à saúde. Mas será que a substância oferece mesmo danos aos seres humanos?
Potes plásticos usados para guardar alimentos, mamadeiras, copos infantis e garrafões de água mineral são alguns dos produtos que utilizam BPA em sua fabricação, substância apontada como capaz de produzir diversos efeitos nocivos à saúde.
Será que é verdade? DROPS verificou.
QUEM DISSE? Folha Vitória2
O QUE DISSE? “Comer e beber em recipientes de plástico pode provocar disfunção erétil e aumentar riscos de câncer.”1
QUANDO DISSE? 20/03/2018
CHECAGEM
- “Comer e beber em recipientes de plástico pode provocar disfunção erétil e aumentar riscos de câncer.”: FALSO
- “O BPA pode migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura (tanto aquecimento quanto refrigeração) ou quaisquer danos à embalagem.”: VERDADEIRO, MAS
- “O BPA reduz os hormônios masculinos, principalmente a testosterona.”: AINDA É CEDO PARA DIZER
CONTEXTO
A substância conhecida popularmente por bisfenol A (BPA) é utilizada principalmente na fabricação de plásticos policarbonatos e vernizes epóxi. 3 Produtos que utilizam BPA em sua composição incluem embalagens de plásticos usadas para guardar alimentos (marmitas e containers), mamadeiras e copos infantis, garrafões de água mineral, garrafas plásticas, materiais odontológicos, revestimentos de embalagens metálicas de alimentos, entre muitos outros.
Apesar de seu amplo uso, o BPA ainda causa polêmica, como na reportagem do jornal “Folha Vitória”: “Comer e beber em recipientes de plástico pode provocar disfunção erétil e aumentar riscos de câncer”.1
Será que é verdade? DROPS verificou.
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VERIFICAMOS
Em 2010 a Organização Mundial da Saúde (OMS) observou que, embora um grande número de estudos sobre os efeitos do BPA na saúde humana tenha sido publicado, existiam discrepâncias consideráveis entres seus resultados, tanto nos efeitos observados como nos níveis em que eles ocorrem. Para acabar com a controvérsia dentro da comunidade científica e esclarecer os fatos para a população, a Organização das Nações Unidas para Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizaram uma encontro de especialistas para avaliar a segurança do BPA.4
As conclusões dessa reunião mostraram que os efeitos nocivos à saúde causados pelo BPA, quando existentes, ocorriam pincipalmente em doses muito elevadas da substância. Mas, por considerar que bebês e crianças pequenas estariam mais expostos à substância e seriam mais suscetíveis a seu efeitos nocivos potenciais, por precaução alguns países optaram por proibir a importação e fabricação de mamadeiras que contenham BPA – caso do Brasil.
Já em 2014, a agência regulatória dos Estados Unidos US Food and Drug Administration (FDA), após a revisão de diversos estudos sobre os efeitos do BPA na saúde humana, publicou um relatório5 no qual considerou que existe uma margem de segurança adequada para o BPA nos níveis de exposição aos quais a população está sujeita atualmente.
Por fim, em 2015 foi a vez da agência regulatória europeia European Food Safety Authority (EFSA) ter reavaliado o risco da exposição ao BPA6 através de alimentos e outras fontes de exposição. Em sua conclusão, a agência diz:
“A conclusão geral é que o BPA não representa risco para a saúde dos seres humanos, porque os níveis atuais de exposição estão bem abaixo do estabelecido como seguro. Isso também se aplica às mulheres grávidas e aos idosos”.
Com base na revisão de todos esses documentos, DROPS verificou três afirmações da reportagem do jornal “Folha Vitória”.
“Comer e beber em recipientes de plástico pode provocar disfunção erétil e aumentar riscos de câncer.”
FALSO: Para que isso acontecesse, seria necessária a exposição a doses extremamente altas de BPA que não refletem a realidade atual.
“O BPA pode migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura (tanto aquecimento quanto refrigeração) ou quaisquer danos à embalagem.”
VERDADEIRO, MAS: Sim, o BPA pode mesmo migrar nessas circunstâncias. No entanto, isso não significa que ele passará, assim, a oferecer risco a saúde; a migração está prevista nos limites de segurança estabelecidos.
“O BPA reduz os hormônios masculinos, principalmente a testosterona.”
AINDA É CEDO PARA DIZER: Devido à estrutura química do BPA ser parecida com hormônios estrogênicos, é possível que ele interaja com receptores hormonais. Entretanto, o mecanismo que faria com que isso ocorresse ainda não é conhecido e são necessários novos estudos8 para esclarecer a questão.
Referências
Acesso em 08/06/2018:
² https://novo.folhavitoria.com.br/
³ http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/embalagens/bisfenol-a
⁵ https://www.fda.gov/downloads/NewsEvents/PublicHealthFocus/UCM424266.pdf
⁶ http://www.efsa.europa.eu/sites/default/files/corporate_publications/files/factsheetbpa150121.pdf
⁷ http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/embalagens/bisfenol-a
⁸ http://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/bisphenol
https://echa.europa.eu/documents/10162/36b05a93-3e3c-44b1-bc8d-bff66b4b37ae
http://orbit.dtu.dk/files/110762088/BPA_MST_project_No_1710_2015.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2254523/
https://www2.mst.dk/Udgiv/publications/2015/05/978-87-93352-24-7.pdf
https://www.fda.gov/newsevents/publichealthfocus/ucm064437.htm