Ouça o primeiro DrauzioCast, sobre estilo de vida e os desafios para prevenir doenças muito prevalentes no mundo moderno.
É inacreditável a resistência do ser humano ao sofrimento físico. Já vi doentes enfrentarem cirurgias mutiladoras, tratamentos agressivos, resistirem a dores muitos fortes e ainda assim lutarem para preservar a vida. O heroísmo com o qual defendemos nossa existência, quando ameaçada, contrasta com a incapacidade de mudarmos os estilos de vida que conduzirão a doenças gravíssimas no futuro. Não me refiro apenas a mudanças radicais, como largar de beber, deixar de fumar ou de ter relações sexuais desprotegidas com múltiplos parceiros, mas especialmente aos comportamentos rotineiros: comer um pouco mais do que o necessário, passar o dia sentado, esquecer de tomar remédios e de fazer controles periódicos de saúde.
Não faltam justificativas para essa irresponsabilidade na prevenção dos problemas de saúde que aflige o homem moderno — doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão, reumatismo, osteoporose e outras enfermidades degenerativas. “Saio cedo, perco horas no trânsito e volto tarde, morto de fome. Como vou fazer para levar a vida saudável?” é a desculpa que damos a nós mesmos para justificar o descaso com um bem que a natureza nos ofertou: o corpo humano.
O corpo humano é uma máquina construída para o movimento. Só que ao contrário de outras máquinas desenhadas para o movimento, como o avião, o carro, que se desgastam enquanto se movimentam, o organismo humano se aprimora com a movimentação — a falta dela contraria as forças seletivas que forjaram as características de nossa espécie.
Antes do advento da agricultura, nossos antepassados eram forçados a consumir quantidade substancial de energia para conseguir água e alimentos — atualmente disponíveis ao alcance da mão. Se fossem pessoas sedentárias como somos hoje, teriam dificuldade de sobrevivência num mundo sem carro, telefone e supermercado na esquina.