Estudo recente sobre as novas drogas para tratamento da obesidade, como o Ozempic e Wegovy, mostra benefícios e efeitos adversos das drogas agonistas do receptor GLP-1. Leia no artigo do dr. Drauzio.
Pela primeira vez na medicina dispomos de drogas capazes de provocar perdas significativas de peso. São os chamados agonistas do receptor GLP-1, entre os quais a semaglutida (Ozempic, Wegovy) e a liraglutida (Saxenda, Victoza).
Desenvolvidos para controle do diabetes, esses agonistas passaram a ser indicados para o emagrecimento, tanto por problemas de saúde como por razões estéticas. Apesar do interesse, a eficácia e os riscos desses medicamentos não tinham sido avaliados de forma sistematizada.
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Yan Xié e colaboradores acabam de publicar na revista Nature Medicine uma revisão na qual analisaram seus possíveis impactos em 175 problemas de saúde.
Resumidamente: com base no banco de dados do US Department of Veterans Affairs, os autores acompanharam 215.970 participantes tratados com semaglutida ou liraglutida e 536.068 tratados com três classes de drogas mais antigas (sulfonilureias, inibidores DPP4 e inibidores SGLT2). O grupo controle foi formado por 1,2 milhão de pessoas com diabetes que continuaram com os medicamentos que recebiam antes.
Números dessa ordem dão credibilidade estatística às amostras estudadas. No caso dos 175 agravos de saúde, os agonistas GLP-1 apresentaram diversos efeitos benéficos:
1 – Transtornos psiquiátricos
Redução do número de casos de esquizofrenia, transtornos psicóticos, transtornos neurocognitivos (incluindo Alzheimer e outras demências) e doença de Parkinson.
No grupo tratado foram identificados efeitos antidepressivos, diminuição da incidência de ideações suicidas e de tentativas de suicídio.
2 – Abuso de drogas
Houve queda no consumo de álcool, maconha, anfetaminas, opioides e tabaco. O mecanismo pelo qual os agonistas interferem com as compulsões não está elucidado.
3 – Sistema cardiovascular
Diminuição dos casos de insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal, aguda ou crônica.
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4 – Coagulação
Redução de tromboses venosas profundas, embolias pulmonares, flebites crônicas, hipertensão pulmonar e sequelas depois de episódios trombóticos. Como a obesidade aumenta a probabilidade de formação de trombos, não está claro se esses benefícios se devem à ação direta dos medicamentos ou ao emagrecimento.
5 – Aparelho respiratório
Diminuição do número de pneumonias e de complicações das doenças pulmonares obstrutivo-crônicas (DPOC), como o enfisema. Essa ação é mediada pela redução do processo inflamatório e do estresse oxidativo associados aos efeitos metabólicos proporcionados pela perda de peso.
Um estudo realizado com a semaglutida já havia revelado redução das mortes por infecção pulmonar e por covid-19.
6 – Outros sistemas
Redução do número de casos de falência hepática, de doença inflamatória intestinal (doença de Crohn, retocolite ulcerativa e outras) e de diverticulites agudas, atribuíveis às propriedades anti-inflamatórias e aos efeitos metabólicos do emagrecimento.
A esta altura, você, leitora, deve estar pensando: “Também quero”. Mas não vamos esquecer que não existe medicamento sem efeitos indesejáveis.
As principais causas de abandono do tratamento são náuseas, vômitos, diarreias, refluxo gastroesofágico, retardo do esvaziamento gástrico e pancreatite induzida por droga, complicação que exige acompanhamento com exames laboratoriais periódicos (amilase e lipase). Pessoas que apresentarem crises de dores abdominais devem ter os medicamentos suspensos até que o quadro seja esclarecido.
Além da toxicidade gastrointestinal, podem surgir cefaleia, dores nas juntas e artrites, cálculos renais e um tipo mais raro de nefrite (intersticial). Alterações hemodinâmicas com queda da pressão arterial são causa de tonturas e síncopes.
A indução precoce da saciedade pode levar à desnutrição, com perda de massa muscular, déficit de proteínas e de micronutrientes que levam à queda de cabelo, flacidez da pele e do tecido subcutâneo e mudanças da fisionomia.
Esses medicamentos custam caro. Todas as evidências mostram que devem ser mantidos por longos períodos, para evitar a recuperação rápida do peso perdido a duras penas. É preciso usá-los com sabedoria e não devem se prestar a caber naquele vestido de casamento.