Insuficiência cardíaca congestiva: sintomas, causas e tratamentos disponíveis

Especialistas explicam mais sobre a condição que afeta milhões de brasileiros.   


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Cardiovascular

close na mão de mulher segurando boneco de coração. insuficiência cardíaca congestiva afeta milhões de pessoas todos os anos

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Publicado em: 26 de junho de 2023

Revisado em: 28 de junho de 2023

Especialistas explicam mais sobre a insuficiência cardíaca congestiva, condição que afeta milhões de brasileiros.   

 

Ao longo dos últimos 21 anos, o Brasil tem observado uma tendência decrescente na mortalidade por insuficiência cardíaca congestiva em indivíduos com mais de 50 anos, segundo um estudo da “Revista Brasileira de Epidemiologia“. Essa condição crônica afeta milhões de pessoas em todo o mundo e seus principais sintomas são falta de ar, inchaço nas pernas e fadiga. 

A enfermidade se manifesta quando o coração não realiza a circulação sanguínea adequadamente para suprir as demandas do organismo. Dessa forma, pode ocorrer o acúmulo de líquidos nas pernas, pulmões e demais tecidos em todo o corpo.

Segundo a dra. Fátima Dumas Cintra, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), os sintomas são bastante típicos. São eles::

  • Cansaço: inicialmente, o paciente pode apresentar cansaço ao realizar esforços, como subir um lance de escada. No entanto, com a progressão da doença, o cansaço pode surgir mesmo em atividades mínimas, como tomar banho, pentear o cabelo ou se vestir.
  • Falta de ar: é um sintoma comum da insuficiência cardíaca. O paciente pode sentir dificuldade para respirar durante ou após atividades físicas, além de experimentar episódios de dispneia paroxística noturna (desconforto respiratório ao repouso). Nesses casos, a pessoa acorda durante a madrugada com falta de ar, procurando um lugar arejado para recuperar o fôlego antes de voltar a dormir.
  • Intolerância ao exercício: o paciente pode apresentar fadiga e dificuldade em realizar atividades físicas que antes eram facilmente executadas.
  • Edema e ganho de peso: o acúmulo de líquido nos tecidos pode levar ao inchaço, especialmente nas pernas, tornozelos e pés. Esse edema pode resultar em um aumento de peso significativo.
  • Dor abdominal: alguns pacientes podem experimentar dor abdominal devido ao acúmulo de líquido no fígado e no sistema digestório.
  • Tosse noturna: a insuficiência cardíaca congestiva pode desencadear tosse persistente, especialmente durante a noite, quando o paciente está deitado. Isso ocorre devido ao acúmulo de líquido nos pulmões.
  • Perda de apetite: pode ser um sintoma associado à insuficiência cardíaca congestiva. A doença afeta o funcionamento adequado do sistema digestório, levando à perda de interesse pela alimentação.
  • Aumento da frequência urinária noturna: algumas pessoas com insuficiência cardíaca podem apresentar um aumento na produção de urina durante a noite, o que pode afetar o sono e contribuir para a sensação de incômodo.

A profissional ressalta que a presença desses sintomas não deve ser atribuída ao sedentarismo. É fundamental diferenciar a falta de ar e o cansaço causados pela insuficiência cardíaca dos efeitos do sedentarismo, para que o diagnóstico adequado possa ser realizado e o tratamento adequado seja iniciado.

        Veja também: Pesquisa mostra como o exercício físico protege o coração

 

Quais as causas da insuficiência cardíaca congestiva?

A cardiologista afirma que as causas da doença são diversas e abrangentes. Um fator de destaque é a doença isquêmica do coração, resultante da presença de placas de aterosclerose nas artérias coronárias, o que pode levar a lesões no músculo cardíaco e, consequentemente, à insuficiência cardíaca. “A hipertensão arterial também desempenha um papel importante, dada sua alta prevalência na população mundial”, completa.

Além disso, a médica menciona outras causas, como  doença valvar, que afeta as valvas cardíacas, doenças congênitas, cardiomiopatias (que podem ter origem genética) e  insuficiência cardíaca alcoólica, associada ao consumo excessivo de álcool. Outros fatores incluem a cardiomiopatia devido à taquicardia (quando o coração bate excessivamente rápido), as miocardites (inflamação do músculo cardíaco) e outras causas relevantes para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca.

Já o dr. Alexsandro Fagundes, cardiologista e vice-presidente da Sobrac, destaca que a idade e comorbidades adicionais desempenham um papel significativo no prognóstico dos pacientes com insuficiência cardíaca. Situações como insuficiência renal, diabetes, tabagismo, doenças neurológicas, arritmias como a fibrilação atrial, e doenças respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crônica, contribuem para agravar a condição e comprometer o prognóstico dos pacientes. “Especialmente em idades avançadas, a presença de comorbidades, a dificuldade de manejo devido à fragilidade do paciente idoso e as limitações em diversos órgãos e sistemas afetam negativamente a expectativa de vida dos pacientes com insuficiência cardíaca”, explica.

Além das causas citadas, a pressão alta também é um fator. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais da metade dos casos de doença cardíaca no Brasil é causada pela hipertensão e pelo entupimento das artérias coronárias, que estão associados à hipertensão arterial.

 

Tratamentos disponíveis

Existem várias opções de tratamento disponíveis para a insuficiência cardíaca congestiva. Segundo o dr. Alexsandro essas opções incluem:

  • Mudanças no estilo de vida: é fundamental adotar hábitos saudáveis, como reduzir a ingestão de sal e líquidos, praticar atividade física moderada sob supervisão adequada, e seguir um programa de reabilitação cardiovascular;
  • Medicamentos: existem diferentes classes de medicamentos que podem aumentar a sobrevida dos pacientes com insuficiência cardíaca. Essas classes incluem betabloqueadores, vasodilatadores, como inibidores da enzima de conversão de angiotensina, bloqueadores dos receptores da angiotensina, antagonistas do mineralocorticoide, como a espironolactona, e inibidores do co-transportador de sódio e glicose, como as gliflozinas;
  • Transplante cardíaco: em casos avançados, quando outros tratamentos não são suficientes, o transplante cardíaco pode ser indicado como terapia substitutiva. É uma opção para pacientes selecionados.

O dr. Alexsandro também cita terapias em desenvolvimento: “Estão em andamento pesquisas sobre novas terapias que visam controlar os mecanismos inflamatórios e mediadores inflamatórios na insuficiência cardíaca. Também estão sendo investigadas terapias que combinam vasodilatadores com antagonistas da quebra dos peptídeos natriuréticos, como a associação entre neprilisina [enzima que desempenha um papel importante na degradação de peptídeos no organismo humano] e valsartana [medicamento utilizado no tratamento da hipertensão arterial], conhecida como ‘entresto’. Além disso, estão sendo exploradas abordagens não farmacológicas para melhorar a sobrevida em determinados cenários”, explica.

A dra. Fátima salienta a importância de um acompanhamento médico regular e multidisciplinar para assegurar a adesão ao tratamento não farmacológico. “Assegurar que o paciente faça uso correto da medicação e que o paciente tenha um estilo de vida muito apropriado. Tudo vai impactar com certeza na sobrevida e na qualidade de vida.”

        Veja também: Síndrome cardiorrenal: condição afeta o coração e os rins de forma simultânea

 

Sobre o autor: Caio Coutinho é graduando em jornalismo, gosta de política, futebol, música e cultura pop, mas já escreveu pautas de saúde para o G1. Quer explorar vários temas.

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