O lipedema tem ganhado cada vez mais visibilidade, assim como a divulgação de tratamentos alternativos. Saiba o que realmente é indicado para lidar com a condição.
Nas últimas semanas, o lipedema voltou a ser destaque nas redes sociais, especialmente no TikTok. Isso reacendeu discussões importantes sobre diagnóstico, acolhimento e opções de tratamento, incluindo aquelas chamadas “alternativas” – ou seja, que não seguem as diretrizes médicas convencionais.
Com sintomas que vão muito além da estética, o lipedema é uma condição subdiagnosticada, que afeta majoritariamente mulheres. Diante da escassez de informações acessíveis e da falta de profissionais especializados, muitas pacientes acabam recorrendo às redes sociais em busca de conselhos e identificação.
Mas até que ponto as terapias e dietas promovidas por influenciadores – e até por quem se apresenta como profissional de saúde – têm embasamento científico? E o que de fato é recomendado para garantir uma melhora na qualidade de vida?
Ao longo desta reportagem o dr. Diego Torrico, médico nutrólogo e especialista em tratamento avançado de lipedema, compartilha informações sobre os limites e as possibilidades dessas abordagens.
O que é lipedema e como é tratado?
O lipedema é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura, geralmente nos braços e nas pernas, que provoca dor, inchaço e dificuldade de locomoção. Apesar de afetar diversas mulheres em todo o mundo, a condição ainda é frequentemente confundida com obesidade comum ou linfedema, o que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento.
“Infelizmente, o lipedema ainda não tem cura, mas a boa notícia é que existe controle”, explica o dr. Diego. Segundo ele, o tratamento mais eficaz é multidisciplinar, com foco principal no controle da inflamação. Isso inclui:
Dietas anti-inflamatórias;
- Dietas anti-inflamatórias;
- Uso de antioxidantes;
- Atividades físicas de baixo impacto (como hidroginástica, caminhadas e pilates);
- Drenagem linfática;
- Apoio psicológico.
“Essas abordagens trazem resultados muito promissores: alívio da dor e do inchaço, melhora do aspecto estético das pernas e, principalmente, da qualidade de vida. Muitas pacientes relatam voltar a usar roupas que antes evitavam, como uma saia, um vestido curto ou um biquíni, com mais autoestima e conforto”, relata.
Veja também: Lipedema e linfedema: qual a diferença?
Sinais de atenção para um diagnóstico de lipedema
Conheça alguns sinais que podem indicar a presença da condição:
- Acúmulo desproporcional de gordura nos quadris, coxas e pernas (poupando os pés);
- Dor ao toque;
- Sensação de peso nas pernas;
- Hematomas frequentes;
- Inchaço que piora ao longo do dia.
Outro indicativo importante é a dificuldade de emagrecer nessas regiões, mesmo com dieta e exercícios.
Por que os tratamentos alternativos ganharam espaço?
O fenômeno das terapias alternativas nas redes sociais não surgiu do nada. Para o dr. Diego, esse fenômeno está diretamente ligado a anos de invisibilidade e estigmas enfrentados por mulheres com lipedema. “Muitas passaram a vida sendo mal interpretadas, vistas como desleixadas, preguiçosas ou acusadas de ‘comer escondido’. Essa é uma condição médica real que, por muito tempo, foi confundida com outras”, afirma.
A visibilidade de figuras públicas, como a influenciadora Yasmin Brunet – que falou sobre o diagnóstico no programa Fantástico e durante o BBB 25 – também encorajou outras mulheres a buscarem ajuda. O alerta, porém, é para a importância de diferenciar o que tem base científica do que é, nas palavras do médico, “marketing ou promessa vazia”.
Dietas específicas: moda ou ciência?
Entre as estratégias mais divulgadas nas redes estão as dietas com apelo anti-inflamatório, como a cetogênica. “Hoje, se buscarmos nos bancos de dados científicos, como o PubMed, encontraremos ainda poucos estudos sobre lipedema, e menos ainda associando diretamente a dieta cetogênica ao tratamento”, contextualiza.
Apesar da escassez de estudos clínicos robustos, o especialista aponta que a prática clínica já observa benefícios. “A cetogênica, quando bem orientada, pode ser uma excelente aliada por seu perfil anti-inflamatório. Ela reduz carboidratos refinados e é rica em gorduras boas, como ômega 3, castanhas e sementes, o que ajuda a controlar processos inflamatórios, comuns no lipedema”.
No entanto, ele reforça que não existe fórmula mágica, e que a dieta precisa ser individualizada e orientada por um nutricionista com experiência.
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Suplementação e outros complementos
Além da alimentação, outras estratégias como suplementação com antioxidantes, vitaminas, fitoterápicos e até o uso de hormônios análogos de GLP-1 e GIP (medicações originalmente usadas no tratamento do diabetes) também têm sido exploradas. De acordo com o especialista, essas abordagens podem ajudar, mas não substituem o essencial: alimentação balanceada, exercícios e saúde emocional.
“Cuidar de uma paciente com lipedema vai muito além da prescrição de dieta ou suplemento. O que realmente faz diferença é escutar com empatia e sensibilidade. Muitas chegam exaustas de não serem levadas a sério”, destaca.
Os riscos do “faça você mesma”
Com tantas informações circulando na internet, muitas pessoas se sentem tentadas a seguir tratamentos por conta própria, o que pode ser perigoso. “O maior risco é a frustração. Cada paciente responde de forma diferente ao tratamento. Sem acompanhamento adequado, a pessoa pode se sentir ainda mais perdida e sem esperança”, alerta.
Além disso, práticas inadequadas podem mascarar sintomas, atrasar o diagnóstico correto e agravar o quadro clínico. “O lipedema é progressivo. Quanto mais tempo se perde, mais difícil pode ser controlar a dor e garantir qualidade de vida.”
Redes sociais e medicina: como equilibrar?
Apesar dos riscos, o especialista vê com otimismo a ampliação do debate sobre o lipedema nas redes sociais. “Estamos finalmente dando visibilidade a uma doença que, por anos, foi ignorada. Mas isso exige responsabilidade”, afirma.
A internet pode ser uma grande aliada na disseminação de informação e no acolhimento de pacientes, especialmente quando ajuda a reconhecer sinais de alerta e encoraja a busca por diagnóstico. No entanto, ela não substitui o olhar clínico e o acompanhamento de profissionais especializados.
Tratamentos sem respaldo científico podem ser mais prejudiciais do que benéficos pois, além de atrasar o diagnóstico adequado, podem agravar a condição e gerar falsas expectativas. Por isso, é fundamental usar os recursos digitais com cautela, buscando sempre fontes confiáveis e mantendo o diálogo aberto com médicos, nutricionistas e outros especialistas envolvidos no cuidado. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de evitar a progressão da doença e garantir uma vida com menos dor e mais liberdade”, conclui o médico.
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