A principal hipótese é que o déjà-vu seja uma falha no processo de interpretação do cérebro. Entenda.
Déjà-vu, do francês, “já visto”, é aquela sensação de que você já conhece um lugar que nunca tinha frequentado antes ou já tenha vivido uma situação que acabou de acontecer pela primeira vez. Para além das suposições de vidas passadas, existe uma explicação científica por trás dessa experiência.
O que é o déjà-vu, segundo a ciência?
“Esse fenômeno já deu gás a teorias da conspiração e explicações místicas, no entanto, ele pode ser explicado ao analisarmos o que ocorre no cérebro”, tranquiliza Fabiano de Abreu, neurocientista e mestre em psicanálise.
De acordo com o especialista, quando nós vemos algo, o cérebro busca memórias no lobo temporal e no hipocampo para confirmar o que foi visto e interpretá-lo adequadamente. Só que, no cérebro, esse circuito de transmissão de informações leva um tempo — alguns milésimos de segundos.
No déjà-vu, o que acontece é que esse circuito é ativado em um momento em que não deveria. É daí que surge a sensação de estar se lembrando de algo, quando não está. A pessoa tem a ideia de uma lembrança, mas, na prática, não viveu aquela situação antes. É como se fosse um “delay” do cérebro, um atraso na interpretação do que acabou de acontecer.
Por que o déjà-vu acontece?
Não existem causas totalmente explicadas para o déjà-vu, mas as pesquisas indicam que o fenômeno pode ser multifatorial. Segundo Fabiano de Abreu, alguns dos motivos possíveis são:
Duplo processamento
O cérebro falha ao tentar interpretar o acontecimento e resgatar memórias para sua melhor compreensão. “É uma falta de sincronia na mente. Embora o indivíduo acredite que já viveu certo acontecimento, ele sabe que isso nunca aconteceu”, explica o neurocientista.
Fenômenos neurológicos
O déjà-vu também pode decorrer de problemas sérios, como convulsões epilépticas, desmaios, lesões no lobo temporal, esquizofrenia, entre outros.
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Confusão com memórias
Mais uma razão pode ser a confusão com lembranças similares, dando a impressão de que são iguais. “É possível você formatar memórias daquilo que não existe. Você viu um filme com algo parecido e o cérebro interpreta como se fosse o que você acabou de presenciar. Aí você pensa: ‘Já vivi isso antes’”, exemplifica Fabiano.
Falta de atenção
Por fim, outra causa provável é a distração. Quando você está distraído, não consegue gerar memórias claras. “Ao resgatar essas memórias, elas podem ser reconhecidas como uma sensação familiar, já que o cérebro não consegue lembrá-las completamente devido à distração no momento em que aconteceram”, pontua o especialista.
Ter muitos déjà-vu pode indicar um problema
Estima-se que cerca de 70% da população já tenha tido pelo menos um déjà-vu ao longo da vida, principalmente entre os 15 e 25 anos. Com o tempo, acredita-se que o cérebro tende a evitar novas falhas ou ter dificuldade em percebê-las, diminuindo a periodicidade do fenômeno.
“Mas, caso aconteça com frequência, pode ser sinal de alguma condição mais grave”, alerta o neurocientista.
Isso porque o déjà-vu está relacionado a falhas no lobo temporal, responsável pelo processamento da audição, linguagem e memória. Ansiedade, cansaço e estresse em excesso são alguns dos causadores da atrofia nessa região do cérebro.
“Vá a um psicólogo ou psiquiatra para analisar primeiro se não é um problema derivado da ansiedade. Se você sente que tem outras questões adjacentes que podem ser mais sérias, como alucinações, convulsões e crises de epilepsia, aí você tem que ir a um neurologista”, recomenda o especialista.
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