Alta prevalência de HPV em homens: por que não vacinamos os meninos? - Portal Drauzio Varella
Página Inicial
Sexualidade

Alta prevalência de HPV em homens: por que não vacinamos os meninos?

close em mão de médico segurando seringa e ampola, prestes a aplicar em braço de rapaz. HPV em homens tem alta prevalência
Publicado em 14/09/2023
Revisado em 14/09/2023

Alta prevalência de HPV em homens mostra que precisamos vacinar os meninos contra o vírus sexualmente transmissível. Leia na coluna de Mariana Varella. 

 

Não há dúvidas de que as vacinas representam um dos maiores avanços para a saúde pública mundial. Graças a elas, diminuímos a taxa de mortalidade infantil, aumentamos a expectativa de vida e evitamos o sofrimento de milhões de pessoas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas evitam a morte de 2 a 3 milhões de pessoas todos os anos. 

Veja também: Mitos sobre a vacinação infantil

Ainda assim, nem todos os países têm acesso gratuito às vacinas. Felizmente, não é o caso do Brasil, que tem um dos maiores programas de vacinação gratuita do mundo, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), que este ano completa 50 anos.

Apesar disso, nossas taxas de cobertura vacinal para todas as vacinas ofertadas pelo PNI têm caído desde 2016. Os motivos são vários: pouca divulgação das campanhas, desinformação acerca dos imunizantes, horário limitado de funcionamento dos postos, entre outros.

A falta de informação, sem dúvida, é um dos motivos que levam à baixa adesão às campanhas de vacinação. Pouca gente sabe, por exemplo, que os meninos de 9 a 14 anos podem e devem se vacinar contra o HPV, vírus que causa câncer de colo do útero, garganta, ânus, pênis, entre outros. 

 

HPV em homens

A revista “The Lancet Global Health” acaba de publicar uma revisão sistemática e meta-análise de estudos publicados em 35 países, entre 1995 e 2022, sobre a prevalência do vírus entre meninos e homens de 15 anos ou mais.

Os dados são alarmantes: cerca de um a cada três homens está infectado com ao menos um subtipo do vírus, e aproximadamente um a cada cinco tem um ou mais dos subtipos de alto risco, que causam câncer.

O HPV é um vírus com mais de 200 subtipos, altamente transmissível, que se aloja tanto na mucosa quanto na pele da região genital, por isso o preservativo, apesar de evitar muitas transmissões do vírus e prevenir outras doenças sexualmente transmissíveis, nem sempre evita a contaminação pelo HPV. Desse modo, a melhor forma de combater sua disseminação é vacinar a população não contaminada. 

O SUS oferece gratuitamente a vacina contra o HPV em duas doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos e para pessoas de 9 a 45 anos com imunossupressão, como pessoas com HIV/aids, pacientes oncológicos e aqueles que realizaram transplantes de órgãos sólidos ou medula óssea (nesses casos, o esquema é de três doses).

A vacina oferecida pelo SUS é a quadrivalente, que cobre os quatro subtipos mais prevalentes de HPV (6, 11, 16 e 18). Os subtipos 16 e 18 são responsáveis pela maioria dos casos de câncer causados pelo HPV, e os 6 e 11 provocam verrugas genitais que são benignas, mas geram sintomas muito desagradáveis.

Na rede privada, a vacina pode ser aplicada em meninas e mulheres de 9 a 45 anos e em meninos e homens de 9 a 26 anos. No entanto, especialistas reforçam que a vacina é mais eficaz antes do início da vida sexual e do contato com o vírus.

As clínicas privadas também já disponibilizam a vacina nonavalente, que protege contra nove subtipos do vírus. O imunizante ainda não está disponível pelo SUS; no entanto, a quadrivalente cobre os principais subtipos do HPV que causam câncer.

Países com alta cobertura vacinal como Austrália, que oferece a vacina gratuitamente nas escolas desde 2007 e conseguiu vacinar cerca de 80% da sua população jovem, obteve resultados impressionantes: a taxa de infecção pelo HPV sofreu uma redução de 92% em pouco mais de 25 anos. Autoridades sanitárias do país estão otimistas quanto à possibilidade de eliminar o câncer de colo do útero de todo o território australiano até 2035.

Veja também: Dr. Drauzio explica por que é tão importante vacinar as crianças

Suécia, Canadá, Estados Unidos, Dinamarca, entre outros países em que a vacina é oferecida há mais tempo, também têm conseguido reduzir suas taxas de infecção pelo vírus. Ruanda, país africano que tem  94% das meninas vacinadas, é outro exemplo bem-sucedido de país que vem diminuindo a taxa de infecção pelo vírus.

 No Brasil, a situação não é boa. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019, 87,08% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos de idade receberam a primeira dose da vacina. Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, os números também são preocupantes: a cobertura vacinal da primeira dose caiu de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. A meta é vacinar ao menos 80% da população-alvo com duas doses.

Não há nenhum motivo para não vacinarmos meninas e meninos contra o HPV. A vacina é segura e eficaz, e os receios de alguns pais de que vacinar crianças pode causar doenças ou reações graves ou ainda fazê-las iniciar a vida sexual mais cedo não tem nenhum respaldo científico.

Além disso, aqueles que acreditam que o HPV causa apenas câncer de colo do útero ignoram que o vírus está relacionado à maioria dos cânceres de pênis e ânus e de boa parte dos cânceres de garganta.

Vacinar os meninos protege-os contra o vírus e também evita sua disseminação para as mulheres e homens com quem eles se relacionarão sexualmente no futuro, além de ajudar a reduzir a taxa de vários tipos de câncer, poupando vidas e gastos com saúde. São bons motivos, não?

 

Compartilhe