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Crise de ansiedade ou infarto: como diferenciar?

O pico de ansiedade às vezes causa sintomas semelhantes aos do infarto. Saiba as principais diferenças.
Publicado em 11/07/2022
Revisado em 11/07/2022

O pico de ansiedade às vezes causa sintomas semelhantes aos do infarto. Saiba as principais diferenças. 

 

Falta de ar, dor no peito, tontura, palpitações. Esses são alguns dos sintomas que podem ocorrer durante um infarto do miocárdio, mas que também podem estar presentes durante uma crise de ansiedade. Apesar de serem dois problemas de origens completamente diferentes, os sintomas podem confundir, principalmente se a pessoa está passando por uma crise de ansiedade pela primeira vez e ainda não consegue identificar o quadro.  

E, diante da dúvida, a recomendação dos especialistas é procurar atendimento médico para avaliação. 

Segundo o dr. Roberto Yano, médico cardiologista e especialista em estimulação cardíaca artificial pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), é papel do médico avaliar minuciosamente o paciente e diferenciar os quadros de ansiedade de quadros cardiológicos. 

“Isso na grande maioria das vezes é bem simples e pode ser feito através de uma boa anamnese e exame físico. Em casos mais duvidosos ainda podem ser solicitados exames complementares, como o eletrocardiograma e exames de sangue como a troponina para afastar o infarto”, explica. 

Mas é claro que existem algumas características que podem auxiliar na diferenciação dos dois quadros, como explicaremos a seguir. 

 

Características do infarto

O infarto normalmente ocorre quando um coágulo causa o bloqueio do fluxo sanguíneo para o coração. O principal sintoma é a dor no peito, que pode irradiar para os ombros e braços (principalmente o braço esquerdo). Além disso, também podem ocorrer sintomas como falta de ar, tontura, sudorese, náuseas e sensação de morte iminente. Os sintomas mais atípicos são mais comuns em mulheres, idosos e pessoas com diabetes.

Em caso de infarto, o atendimento rápido é fundamental para evitar a morte e prevenir sequelas mais graves ao coração. 

Qualquer pessoa pode sofrer um infarto, mas existem fatores bem conhecidos que aumentam o risco de um episódio cardiovascular: hipertensão mal controlada, diabetes mal controlado, colesterol alto ou triglicérides elevados, tabagismo, sedentarismo, obesidade e estresse. 

Veja também: Quanto tempo temos para chegar ao hospital em casos de infarto?

 

Características da crise de ansiedade

Segundo o dr. Adriano Segal, médico psiquiatra pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro da Comissão de Transtornos Alimentares da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), uma crise de ansiedade é caracterizada por uma onda abrupta de medo ou desconforto intenso que atinge um pico dentro de minutos e durante a qual ocorrem quatro ou mais dos seguintes sintomas:

  1. Palpitações ou batimentos cardíacos fortes e/ou acelerados;
  2. Sudorese aumentada;
  3. Tremores com ou sem sensação de fraqueza;
  4. Sensação de falta de ar ou sufocamento;
  5. Sensação de asfixia;
  6. Dor ou desconforto no peito;
  7. Náusea ou sofrimento abdominal;
  8. Sensações de tontura, “cabeça leve”, instabilidade ou de que vai desmaiar;
  9. Calafrios ou sensação de calor;
  10. Parestesias (sensação de dormência ou formigamento);
  11. Desrealização (sentimentos de irrealidade) ou despersonalização (sendo desvinculado de si mesmo);
  12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”;
  13. Medo de morrer. 

Repare que a lista de possíveis sintomas é extensa e inclui sintomas psíquicos que não estão presentes no infarto. A crise pode ser rápida (em torno de 5 minutos) até mais demorada (em torno de 30 minutos). 

“Na primeira crise, o melhor é procurar um pronto-socorro para que um correto diagnóstico seja feito. Se elas se tornarem frequentes e causas não psiquiátricas forem afastadas, há tratamentos específicos para cada um dos quadros psiquiátricos que podem cursar com crises de pânico e, portanto, nesta situação, a pessoa deve procurar por diagnóstico e tratamento psiquiátricos”, explica o médico. 

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Principais diferenças

Segundo o dr. Roberto, a dor do infarto acontece em forma de aperto e queimação, do lado esquerdo, e normalmente dura mais de 20 minutos. “No geral, se inicia após uma situação de estresse ou após uma grande refeição. A dor pode se irradiar para a região do pescoço, queixo, para o braço esquerdo, para a região do estômago. Pode vir acompanhada de náusea, sudorese fria, falta de ar, palidez, sensação de desmaio”, explica. 

Já a dor no peito causada pela ansiedade costuma ser mais localizada, em forma de pontadas e no meio do peito, sem irradiação. “A pessoa chega ao atendimento médico mais agitada, nervosa, muitas vezes em pânico mesmo. Já o paciente infartado costuma chegar com a mão no peito, mas no geral mais quieto, tentando poupar energia”, afirma. “Lembrando que isso é o mais comum, mas não é regra. E, mais uma vez, é papel do médico saber diferenciar esses quadros, situações bem comuns inclusive no dia a dia do cardiologista.”

O dr. Adriano comenta que a dor no peito causada pela ansiedade nem sempre é caraterística e pode ter diferentes descrições, como contração muscular incomum ou espasmo no peito; queimação, dormência; dor indefinida; dor aguda (como um tiro); tensão ou aperto no peito. Daí a importância de diferenciar os diagnósticos. 

O psiquiatra também comenta que o infarto é mais frequente em homens, enquanto as crises de ansiedade são mais comuns em mulheres. 

“Na crise de pânico, não há comumente irradiação da dor peitoral. Outro aspecto é que pode haver menor número de sintomas de ordem psíquica no infarto”, aponta. “Mas, a rigor, não há como garantir que seja um ou outro quando está ocorrendo a crise, especialmente nas primeiras vezes e antes que tratamentos específicos tenham sido instituídos, sem uma avaliação clínica e laboratorial.” 

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