A infecção urinária pode se manifestar de maneira diferente na população idosa. Saiba como evitar o problema.
A infecção urinária é uma das infecções mais frequentes em pessoas idosas, principalmente nas mulheres. Essa prevalência maior nelas ocorre em qualquer faixa etária, já que a uretra da mulher é mais curta que a do homem, facilitando a passagem de bactérias para a região. Mas o tempo adiciona alguns fatores extras: com o envelhecimento, ocorre uma mudança na flora vaginal e uma queda nos níveis de estrogênio, o que também favorece a infecção no sexo feminino.
Além disso, pessoas acamadas que têm incontinência urinária e utilizam fraldas também estão mais propensas a desenvolver esse tipo de infecção. Mas é preciso uma atenção especial aos sintomas, pois nem sempre os idosos manifestam os sinais característicos da infecção urinária, como ardência para urinar, aumento da frequência urinária e febre.
“No idoso, geralmente não há febre nem sintomas urinários. A infecção se manifesta de uma forma muito inespecífica, por exemplo, com sonolência, confusão mental, diminuição do apetite. São sintomas mais atípicos e por isso o diagnóstico é mais difícil”, explica a dra. Ana Cristina Speranza, médica geriatra e secretária-geral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Isso não significa que os sintomas típicos não podem ocorrer também, mas não se deve esperar eles aparecerem para buscar um diagnóstico. “E no caso de um idoso acamado que não consegue se comunicar porque tem alguma doença neurológica, ele não vai conseguir dizer que está com ardência para urinar, por exemplo. É preciso ficar atento a outros sintomas”, afirma.
Como prevenir?
A especialista explica que para os idosos que fazem uso de fralda, a higiene e a troca frequente são muito importantes na prevenção. “É muito comum que se diga que as fraldas aumentam o risco de infecção urinária no idoso, mas na verdade não são as fraldas, é a incontinência urinária do idoso, que faz com que ele use a fralda, que aumenta o risco. O idoso com incontinência pode ter um certo grau de retenção urinária, ou seja, a bexiga não esvazia por completo, e isso faz com que a infecção se perpetue”, esclarece.
Nos idosos que não usam fralda, a higiene adequada também é fundamental. Um dos principais cuidados é sempre passar o papel higiênico de frente para trás e não o contrário, para evitar que resíduos da região anal sejam levados ao canal da urina e causem uma infecção urinária. O uso de toalhas umedecidas também pode ajudar na limpeza da região (com o mesmo cuidado de passar de frente para trás). “Para algumas mulheres que têm queda de estrogênio e têm ressecamento vaginal, o uso de estrogênio tópico pode ajudar a prevenir os episódios de infecção”, afirma a dra. Ana Cristina.
Vale lembrar que pessoas com incontinência urinária não acamadas podem utilizar absorventes ou roupas íntimas específicas para a condição (eles impedem vazamentos e ajudam a neutralizar o odor de urina). Para as pessoas com mobilidade reduzida, que usam fraldas, normalmente é um cuidador o responsável pela higiene íntima, por isso, é muito importante se informar sobre o assunto e tomar os cuidados recomendados para prevenir infecções na região.
Além disso, existem as dicas de prevenção geral para evitar a infecção urinária que servem para todo mundo: não segurar o xixi por muito tempo, sempre urinar após as relações sexuais, evitar usar roupa íntima muito apertada, evitar ficar muito tempo com roupa íntima molhada, fazer troca de absorventes higiênicos com frequência e beber bastante líquido.
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Infecção de repetição
Para pacientes que têm mais de três episódios de infecção por ano, o que é chamado de infecção de repetição, pode ser usada uma dose baixa de antibiótico regular por alguns meses para prevenir o problema, segundo a médica. Outros recursos também podem ser aliados na prevenção. “Existem alguns suplementos que na literatura já mostraram benefício em prevenir episódios de infecção, como o cranberry, por exemplo.”
A médica destaca ainda que a infecção é muito heterogênea, existem muitas causas possíveis e não dá para generalizar. “Não existem muitas recomendações que servem para todos os idosos. É preciso sempre individualizar e ver qual o fator está causando a infecção naquele idoso. Muitas vezes, o que a gente precisa é procurar esses fatores, investigar se a bexiga está funcionando direitinho, se a próstata está aumentada, etc.”
Bacteriúria assintomática
A geriatra chama a atenção para uma outra questão que poucas pessoas conhecem: a bacteriúria assintomática, uma condição que causa o surgimento de bactérias na urina, mas não provoca nenhum sintoma. É muito importante diferenciar esse problema da infecção urinária, já que ele normalmente não deve ser tratado, pois o uso de antibióticos sem necessidade pode favorecer o surgimento de mais bactérias que podem se tornar superbactérias. A diferença é que, no quadro de infecção urinária, há sintomas. E nesse caso, sim, é feito o tratamento com antibióticos.
“Isso é muito comum, em muitos idosos a gente vai colher urina, vai aparecer bactéria, mas aquela bactéria não necessariamente está causando infecção. Se não tiver sintomas, em geral, a gente não trata. Isso é uma coisa muito importante e que a população não sabe, e muitas vezes as pessoas cobram um tratamento quando veem o resultado do exame.”
De acordo com a geriatra, hoje em dia não se recomenda mais que se faça exame de urina de rotina nos idosos (que normalmente era solicitado junto dos exames de sangue periódicos). “A gente só recomenda colher exame de urina quando realmente a gente está suspeitando de infecção, porque nos idosos é muito frequente a bacteriúria assintomática.”
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Importância da hidratação
A ingestão de líquidos é uma das principais formas de prevenir pedra nos rins e também pode ser uma aliada na prevenção da infecção urinária, apesar de não ser, sozinha, uma causa comum do problema. Isto é, não é porque a pessoa bebe pouca água que ela terá infecção com frequência. Mas isso não significa que podemos deixar esse cuidado de lado. Ingerir líquidos é extremamente importante, principalmente para as pessoas idosas, que estão mais vulneráveis aos efeitos de um quadro de desidratação.
“O idoso, principalmente o idoso com saúde frágil, tem uma tendência maior a descompensar por qualquer motivo. Ele tem uma dificuldade em recuperar o equilíbrio. Uma alteração de hidratação da qual o jovem se recupera rápido, o idoso já não se recupera tão rápido, porque é um organismo que não responde de forma rápida. E uma coisa leva a outra: a desidratação leva a uma queda de pressão que leva a um desmaio e aí a gente segue numa cascata de problemas”, explica a especialista.
Outra questão é que as pessoas idosas muitas vezes têm uma desregulação no centro da sede. Ou seja, elas sentem pouca sede e demoram a manifestar os sintomas da desidratação. Quando eles aparecem, é porque a pessoa já está extremamente desidratada. “Esse é um alerta muito importante: o idoso em geral não sente sede – mesmo quando ele está desidratado, que seria um sinal de alerta para avisar para ele beber água. Então, ele tem que se forçar a beber água mesmo sem estar com sede. No verão, a orientação é beber pelo menos de 5 a 7 copos de líquido por dia”, recomenda.
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