O novo coronavírus tem baixa letalidade, mas se dissemina depressa.
*Publicado em 4/3/20
Esse coronavírus tem duas características: disseminação rápida e letalidade baixa.
Detectado pela primeira vez na China, em dezembro 2019, em menos de três meses infectou cerca de 80 mil pessoas e causou mais de 2,6 mil mortes naquele país.
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Em poucas semanas, o vírus viajou para o Japão, Coreia do Sul, Singapura, Filipinas, Vietnã, Tailândia e outros países asiáticos.
No Japão, as autoridades protagonizaram um episódio digno das epidemias de peste negra, na Idade Média: os passageiros de um transatlântico foram impedidos de desembarcar. Como consequência dessa quarentena insólita, 20% adquiriram o vírus. Na segunda-feira de Carnaval, o Japão contava com 850 pessoas afetadas pela doença, das quais 691 infectadas no navio.
Como nas epidemias de gripe suína e de outros coronavírus (como SARS e MERS), a ofensiva da Covid-19 em território chinês dá sinais de arrefecimento. Há um mês, ocorriam 2 mil casos novos por dia; na segunda-feira passada, 508. O número de novos diagnósticos diários já é mais baixo do que a somatória dos que ocorrem fora da China.
Além dos cuidados óbvios como lavar as mãos, não tossir nem espirrar na cara dos outros e usar máscara ao cuidar de um familiar doente, é preciso não perder a racionalidade.
Na mesma data, já havia quase mil casos na Coreia do Sul e pelo menos 12 mortes no Irã. As informações oficiais de que existiriam somente 61 iranianos infectados, colocam os números iranianos sob suspeição. Como acreditar neles se, na Coreia do Sul, ocorreram apenas sete mortes?
Neste momento, as autoridades internacionais consideram o Irã, o segundo foco de disseminação, atrás apenas da China. Os casos diagnosticados no Afeganistão, Kuwait, Iraque, Omã, Líbano e Emirados Árabes tiveram origem iraniana.
Nada se compara, no entanto, à insegurança que se espalhou pelo mundo – e pelas bolsas de valores – com a notícia de que, no último fim de semana, o número de casos na Itália quadruplicou em dez cidades nas proximidades de Milão e Veneza, a partir das quais o vírus se espalharia para outras regiões e para países vizinhos.
E nós, agora que surgiu o primeiro brasileiro infectado?
O período de incubação de 3 a 14 dias e a possibilidade de transmissão, na ausência ou na presença de sintomas mínimos, dificultam o controle sanitário. Não será possível nem desejável isolar o país. Estudo publicado pela “London School of Hygiene and Tropical Medicine” calculou que em cada cem viajantes infectados, 46 podem passar despercebidos pelos aeroportos de saída e de entrada.
Embora já haja estudos com vacinas, não há evidências de que chegarão a tempo de imunizar todos. Da mesma forma, a indústria farmacêutica não conseguirá concluir os testes com novos medicamentos em tempo hábil para proteger os mais velhos.
A taxa de letalidade da Covid-19 é baixa, porém desigual. Na China, a mortalidade dos doentes com menos de 40 anos foi de 0,2%, contra 14,1% naqueles com mais de 80 anos.
A considerar a experiência internacional, o vírus infectará grande número de brasileiros, antes de desaparecer do mapa. Quase todos desenvolverão quadros respiratórios semelhantes aos do resfriado comum. Alguns, entretanto, com o sistema imunológico debilitado pela idade avançada, por doenças crônicas ou com os pulmões afetados pelo maldito cigarro, terão quadros respiratórios mais agudos, que exigirão encaminhamento para unidades hospitalares que disponham de aparelhos de ventilação mecânica.
A infraestrutura do SUS será suficiente para atender a todos? Vai depender do número de doentes graves. Se forem milhares, é provável que não, razão pela qual todos os esforços da sociedade e das secretarias de saúde devem estar concentrados na prevenção. Até agora, pelo menos, as medidas adotadas pelo Ministério da Saúde têm sido irrepreensíveis.
Além dos cuidados óbvios como lavar as mãos, não tossir nem espirrar na cara dos outros e usar máscara ao cuidar de um familiar doente, é preciso não perder a racionalidade. Correr para o pronto-socorro, ao primeiro sinal de tosse ou febre, é o pior a fazer.
As epidemias de gripe têm demostrado que as aglomerações nas salas de espera das unidades de pronto atendimento, são o lugar ideal para quem gosta de ficar gripado. Só devem procurar os hospitais aqueles que sentirem falta de ar e aumento da frequência respiratória. Na quase totalidade dos casos, os resfriados causados pelo coronavírus atual deverão ser tratados em casa, do jeito que nossas bisavós recomendavam: repouso e canja de galinha.