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Doenças e sintomas

Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB)

Idosa sentada no chão com mão na testa indicando vertigem, principal sintoma da vertigem posicional paroxística benigna (VPPB).
Publicado em 03/09/2019
Revisado em 11/08/2020

Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é um distúrbio da orelha interna, que causa crises de vertigens desencadeadas por determinadas mudanças na posição da cabeça.

 

Vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é o nome, aparentemente complexo, empregado para definir um distúrbio comum da orelha interna, que produz crises agudas, de início súbito e inesperado (paroxísticas) de tontura rotatória recorrente (vertigens) de curta duração, desencadeadas por certas mudanças na posição da cabeça (posicionais/posturais) em determinadas direções. Por que benigna? Por seu caráter, em princípio autolimitado, sem sinais de malignidade nem alterações neurológicas.

A orelha (nome do órgão que substituiu a palavra ouvido na nova terminologia médica) possui três regiões anatômicas distintas — a externa, a média e a interna – com duas diferentes funções: a audição e o equilíbrio corporal. Exceção feita ao pavilhão auditivo que se situa do lado de fora da cabeça, todas as outras estruturas da orelha (ouvido) estão incrustadas no osso temporal, localizado na lateral do crânio.

 

Veja também: Síndrome de Ménière

 

A parte do organismo diretamente envolvida na manifestação da VPPB é a orelha interna dos vertebrados. Ela é formada por canais semicirculares em forma de laço, três de cada lado, que constituem o labirinto ósseo, e por dois órgãos otolíticos, o sáculo e o utrículo. Unidas, essas duas estruturas formam o vestíbulo (ou labirinto membranoso), pequena cavidade cheia de líquido, que ocupa o espaço existente entre a cóclea (responsável pela audição) e os canais semicirculares (responsáveis pelo equilíbrio). Na verdade, é esse conjunto de órgãos que compõe o sistema (ou aparelho) vestibular da orelha interna dos vertebrados. Seu interior é revestido por células sensoriais – os estereocílios – que se encarregam de enviar ao cérebro as informações indispensáveis não só para a percepção dos movimentos e manutenção do equilíbrio do corpo, mas também para estabilizar a visão, coordenar a orientação espacial, manter e regular o tônus muscular.

Imersos num líquido chamado endolinfa que preenche o interior das câmaras existentes no sistema vestibular (o sáculo e o utrículo), existem cristais de carbonato de cálcio denominados otólitos ou otocônias, que têm por função controlar a posição do corpo, ou seja, manter o equilíbrio postural.

A presença de fragmentos danificados desses cristais que se deslocaram para o interior dos canais semicirculares, especialmente para o canal posterior, acaba irritando as terminações nervosas ali existentes e favorece a incidência de crises de vertigem rotatória que se repetem, desencadeadas por certas mudanças bruscas na posição da cabeça (a inclinação da cabeça para trás ou para baixo é apenas um exemplo), por algum tipo de traumatismo craniano, ou por condições degenerativas próprias do envelhecimento. Mais recentemente, levantou-se a hipótese de que a enxaqueca e a carência de vitamina D também podem funcionar como gatilho das crises.

A VPPB também é conhecida como “doença dos cristais do labirinto”, e afeta mais as mulheres que homens. O transtorno pode manifestar-se em qualquer idade, mas é raro na infância e mais frequente a partir dos 60/65 anos, quando o risco de quedas e fraturas se transforma-se numa complicação da doença que requer atenção e cuidados especiais.

 

Causas da vertigem posicional paroxística benigna

 

Conforme já dissemos, a vertigem posicional paroxística benigna é um distúrbio da orelha interna. É também a causa mais comum de episódios de tontura rotatória recorrente de curta duração. Atualmente, a teoria mais aceita para explicar o mecanismo do transtorno é que ele decorre de certos movimentos específicos da cabeça que promovem o deslocamento de fragmentos  das otocônias existentes no utrículo para os canais semicirculares, especialmente para o canal posterior. Como ali não conseguem ser reabsorvidos, passam a produzir uma irritação capaz de desencadear crises breves de tontura, quando a pessoa muda a posição da cabeça em ações comuns no dia a dia, seja para amarrar os sapatos, ou virar na cama a fim de levantar-se bem depressa

Na maioria dos casos, perto de 70% deles, a doença é idiopática, ou seja, a causa primária é obscura, indeterminada, não esclarecida.

Atualmente, a explicação mais aceita para entender o mecanismo do distúrbio é que ele decorre do deslocamento de fragmentos danificados dos cristais de carbonato de cálcio existentes no utrículo, para os canais semicirculares, onde produzem uma irritação capaz de desencadear crises breves de tontura.

 

Sintomas da vertigem posicional paroxística benigna

 

Os episódios de VPPB podem variar quanto à duração, recorrência e gravidade dos quadros. Em geral, o principal sintoma é uma  sensação falsa de rodopio que a pessoa realiza em torno de si mesma, ou a impressão de que o ambiente gira ao seu redor. No mais das vezes, essas vertigens costumam ser desencadeadas por mudanças bruscas na posição da cabeça, que o paciente consegue identificar.

Também são considerados sinais do distúrbio: náuseas, vômitos, perda do equilíbrio, instabilidade postural e o nistagmo,  alteração do sistema vestibular que se caracteriza pela ocorrência de movimentos oscilatórios, rítmicos e involuntários de um ou dos dois olhos em várias direções, mesmo que a cabeça esteja completamente imóvel.

Não há evidências de que os episódios de vertigem que não chegam a durar um minuto, estejam associados à perda de audição ou ao zumbido, mas sabe-se que interferem na nitidez da imagem e que podem regredir aos poucos mesmo sem tratamento. O problema é quando a vertigem ocorre de repente, numa situação de maior risco, quando a pessoa está dirigindo um veículo, descendo escadas, atravessando ruas de movimento, por exemplo.

 

Diagnóstico da vertigem posicional paroxística benigna

 

É possível determinar o diagnóstico clínico da VPPB considerando o levantamento da história do paciente, suas queixas e sintomas, assim como os dados decorrentes de um exame físico criterioso.

No entanto, a manobra de Dix-Hallpike é o teste mais usado na clínica para confirmar o diagnóstico da doença com maior segurança e identificar os locais do labirinto que estão comprometidos. Além disso, o médico pode pedir exames de imagem, como a eletronistagmografia, que ajuda a localizar movimentos oculares anormais, e a ressonância magnética, importante para estabelecer o diagnóstico diferencial com outras enfermidades que possam apresentar sintomas semelhantes.

 

Tratamento da vertigem posicional paroxística benigna

 

A VPPB tem cura, desde que convenientemente tratada. O procedimento pode ser realizado no próprio consultório médico, durante a consulta. Ele se restringe à aplicação da “manobra de reposicionamento canalicular”, preconizada por dr. John Epley, otorrinolaringologista americano de Portland.

Valendo-se da ação da gravidade, a proposta dessa técnica é trazer de volta para o utrículo, no vestíbulo da orelha interna, as partículas de cristais de carbonato de cálcio (otocônias) que penetraram indevidamente nos canais semicirculares, especialmente no semicircular posterior, onde estimulam as terminações nervosas responsáveis pela ocorrência das vertigens.

O procedimento leva apenas alguns minutos para ser executado. Basicamente, consiste na realização de uma série de movimentos e posições da cabeça e do corpo que visam à liberação e o reposicionamento das partículas de cristais que se desprenderam do utrículo e migraram para os canais semicirculares.

Os pacientes costumam responder bem logo à primeira aplicação das manobras de Epley, o que representa uma forma rápida e segura de aliviar os sintomas e reduzir o risco de quedas e fraturas, especialmente nos idosos. Normalmente realizadas por profissionais da saúde – médicos otorrinos e neurologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas — elas podem ser executadas pelo próprio paciente, desde que convenientemente treinado.

Caso a recuperação não seja completa, as manobras de liberação e reposicionamento podem ser repetidas enquanto forem necessárias, já que são as partículas de cristais de carbonato de cálcio fora do espaço anatômico adequado que servem de gatilho para as manifestações clínicas do distúrbio. A cirurgia para oclusão desse canal, embora seja uma das opções terapêuticas, raramente é utilizada.

Nas 48 horas que se seguem à realização das manobras, a fim de evitar recaídas, a orientação é a pessoa repousar recostada em almofadas ou travesseiros, de tal forma que a cabeça seja mantida em posição mais elevada do que o resto do corpo.

São também contraindicados, os movimentos bruscos com a cabeça para frente e para trás, para cima e para baixo ou para os lados, uma vez que podem facilitar o retorno dos fragmentos de otocônias para o canal semicircular.

 

Semelhanças e diferenças entre vertigem posicional paroxística benigna e labirintite

 

Importante destacar, ainda, que labirintite e a VPPB são duas entidades clínicas diferentes. Os casos de labirintite são raros e podem ter várias causas diferentes. Em geral, indicam uma infecção viral ou bacteriana, que afeta o labirinto e pode comprometer tanto o equilíbrio quanto a audição. Tumores, doenças neurológicas, alterações genéticas, alergias e o uso de certos medicamentos são exemplos de causas secundárias que podem explicar  quadros de labirintopatias, termo correto para essa classe de doenças, haja vista que labirintite é apenas uma delas.

A vertigem posicional paroxística benigna, ao contrário, é um distúrbio bastante comum e frequente. As crises de tontura que se repetem, em geral, são causadas por uma mudança brusca na posição da cabeça, movimento que desaloja as partículas dos cristais de carbonato de cálcio que existem dentro do labirinto. Fora do lugar apropriado, elas enviam ao cérebro informações desencontradas sobre a posição do corpo, que afetam o equilíbrio e geram os episódios de vertigem.

 

Perguntas frequentes sobre vertigem posicional paroxística benigna

 

Vertigem posicional paroxística benigna tem cura?

Sim. O tratamento inclui manobras que devem ser aplicadas por um especialista, em geral no próprio consultório do especialista.

 

Como é feita a manobra usada para tratar a vertigem posicional paroxística benigna?

A manobra consiste na realização de uma série de movimentos e posições da cabeça e do corpo que visam à liberação e o reposicionamento das partículas de cristais que se desprenderam do utrículo e migraram para os canais semicirculares.

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