A associação entre o alumínio presente em vacinas e autismo não foi comprovada pela ciência baseada em evidências.
Grupos de pessoas contrárias à vacinação de crianças e adultos divulgam, de tempos em tempos, uma série de boatos envolvendo as vacinas. O mais recente afirma que o alumínio presente nas vacinas causa autismo.
QUEM DISSE? Site “Coletividade Evolutiva”1
O QUE DISSE? “Estudo confirma que alumínio nas vacinas causa autismo”
QUANDO DISSE? 12/03/2019
CHECAGEM: FALSO
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CONTEXTO
Mesmo estando diante de uma das maiores descobertas do século 20, o movimento antivacina não se intimida e continua angariando adeptos. Nos últimos anos, o Brasil começou a sentir seus reflexos.
O próprio dr. Drauzio Varella foi um dos profissionais que se manifestou sobre o assunto em sua coluna da Folha de Sao Paulo do dia 29 de maio de 2017 2 “Os argumentos para justificar suas crenças (dos adeptos aos movimentos antivacinas) contradizem as evidências científicas mais elementares (…)”.
Dentro desse cenário, uma das justificativas usadas pelos adeptos da não vacinação é que substâncias presentes nas vacinas teriam o potencial de causar autismo. Muitos são os sites, blogs e posts em redes sociais que defendem esse posicionamento. Mas será que é verdade? DROPS checou.
O QUE DIZ A CIÊNCIA
As vacinas possuem entre seus componentes, além do antígeno (partícula ou molécula que ativa o sistema imune), diversos ingredientes que têm a função de melhorar sua eficiência ou conservá-la.
Em 1998, foi publicado na renomada revista científica “Lancet”um artigo em que o médico britânico Andrew Wakefield afirmava ter encontrado relação entre o mercúrio utilizado na vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e o autismo. Mais tarde, descobriu-se que o artigo era uma farsa e o autor foi criminalmente responsabilizado, teve o registro médico cassado e o artigo foi retirado dos arquivos da revista onde fora publicado.
O artigo de Wakefield abriu um precedente para o surgimento de diversos outros mitos relacionados a supostos efeitos prejudiciais das vacinas, como por exemplo os efeitos do uso de alumínio empregado como adjuvante em vacinas. Em uma recente publicação, o site de noticias “Coletividade Evolutiva” (que se descreve como “uma mídia independente e pluralista, porque damos espaço a todas as correntes de pensamento e grupos sociais”) afirma que “uma nova pesquisa da Universidade de Keele encontrou uma ligação entre inoculações contendo alumínio e autismo”.1
O site justifica sua afirmação usando como base o artigo científico Aluminium in brain tissue in autism,3 publicado pelo controverso cientista inglês Chris Exley. A publicação de Exley enfureceu a comunidade científica e fez com que ele fosse proibido de obter patrocínio para suas pesquisas futuras.4 Em tempo, a análise criteriosa deste artigo aponta diversas falhas no método científicos que impedem que seus resultados sejam conclusivos.
O alumínio é empregado em vacinas como um adjuvante que tem a função de melhorar a resposta do sistema imunológico aos antígenos que estão sendo combatidos. Segundo o FDA (Food and Drug Administration),5 o CDC (Center for Desease Control,6 e a OMS (Organização Mundial da Saúde)7 a quantidade de alumínio utilizada em vacinas é controlada a fim de garantir a segurança dos pacientes.
Todas as substâncias químicas podem oferecer risco à saúde humana, entretanto esse risco depende diretamente do modo como as pessoas são expostas às substâncias e da sua quantidade. Dessa forma, dizer que vacinas possuem aditivos perigosos à saúde é uma afirmação que, apesar de verdadeira, necessita de contextualização e complementação.
No que diz respeito ao autismo, a fundação americana Autism Science Foundation 8 é categórica ao dizer que não há nenhuma evidência científica que o associe a qualquer tipo de substância presente nas vacinas.
REFERÊNCIAS
² http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2017/05/1887700-sabios-antivacinais.shtml#_=_
³ https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0946672X17308763#tbl0005
⁵ https://www.fda.gov/BiologicsBloodVaccines/SafetyAvailability/VaccineSafety/ucm187810.htm
⁶ https://www.cdc.gov/vaccinesafety/concerns/adjuvants.html
⁷ http://www.who.int/vaccine_safety/committee/reports/Jun_2012/en/
⁸ http://autismsciencefoundation.org/what-is-autism/autism-and-vaccines/