O surgimento de fios brancos costuma ser associado ao envelhecimento, mas muitas pessoas percebem que o fenômeno pode se intensificar em momentos de nervosismo. A relação entre estresse e perda de pigmento nos cabelos tem sido investigada por diferentes áreas da ciência, e já há evidências de que situações de sobrecarga emocional podem acelerar esse processo.
O embranquecimento dos fios é, em grande parte, determinado pela genética e pela idade. No entanto, fatores ambientais e condições de saúde também exercem influência. A pergunta que se repete entre pacientes e especialistas é se o estresse pode, de fato, antecipar o aparecimento dos cabelos brancos e se ele pode ser revertido.
Como o estresse interfere nos fios
De acordo com Débora Terra, dermatologista e membro da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia (EADV), a genética continua sendo o principal fator para o embranquecimento do cabelo, mas o estresse pode acelerar o quadro em pessoas predispostas.
“O corpo reage ao estresse liberando substâncias como a noradrenalina. Essa descarga química pode afetar as células do folículo capilar responsáveis pela produção de melanina. Além disso, o estresse aumenta o chamado estresse oxidativo, que danifica essas células. Com o tempo, o fio passa a nascer sem cor”, afirma a dra. Débora.
Segundo a médica, há registros de pessoas que recuperaram a cor natural de alguns fios após a redução do estresse, mas esses casos são raros. Entre os fatores que também podem antecipar o embranquecimento capilar estão etnia, deficiências nutricionais, doenças autoimunes e tabagismo.
Sergio Jordy, neurologista do Hospital Rede D’or São Luiz Itaim, em São Paulo, explica que há evidência experimental em modelos animais e também associações observadas em seres humanos. “Em camundongos, o estresse ativa o sistema simpático, libera noradrenalina nos folículos e esgota rapidamente as células-tronco de melanócitos, levando a fios novos sem pigmento. Esse efeito é irreversível nesse modelo”, afirma.
Em humanos, a dinâmica pode ser diferente. Pesquisas que analisaram a cor ao longo de fios individuais mostraram trechos de fios que perderam e depois recuperaram o pigmento, em paralelo a fases de maior ou menor estresse. “Isso sugere uma reversibilidade parcial em pessoas mais jovens quando a sobrecarga emocional diminui”, completa o neurologista.
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Cabelos brancos podem ser sinal de alerta?
Embora, na maioria das vezes, os fios brancos sejam apenas uma característica estética e genética, especialistas recomendam atenção quando eles aparecem de forma muito precoce. Nesses casos, é importante investigar possíveis deficiências nutricionais, alterações na tireoide ou doenças autoimunes.
O dr. Sergio acrescenta que o embranquecimento acelerado pode justificar uma triagem clínica simples, incluindo exames de vitamina B12, ferro, vitamina D e função da tireoide.
O surgimento dos fios brancos pode ainda estar relacionado com doenças cardiovasculares. “Pode ser entendido como um marcador de envelhecimento biológico, o que reforça a importância de checar fatores de risco tradicionais, como pressão arterial, colesterol e glicemia”, afirma.
Existe tratamento?
Até o momento, não há terapias cientificamente comprovadas para reverter ou prevenir o cabelo branco. “Ainda que alguns compostos estejam sendo estudados, o que temos hoje de forma consolidada é apenas a camuflagem com tinturas, que continua sendo o padrão estético”, explica o médico.
Mudanças de estilo de vida podem ajudar a retardar o processo, como controlar o estresse, manter uma alimentação equilibrada, corrigir deficiências nutricionais quando diagnosticadas e evitar o cigarro.
“Na maioria dos casos, é apenas uma característica estética e genética. Mas quando aparecem muito cedo, pode ser importante investigar”, conclui a dra. Débora.
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