A condição surge após cirurgias abdominais e demanda cuidados para evitar complicações.
A hérnia incisional é uma protuberância que surge na região de uma cirurgia abdominal, causada pelo enfraquecimento ou pela abertura dos músculos e tecidos que não cicatrizam adequadamente. Pode ocorrer tanto após uma intervenção aberta quanto em procedimentos minimamente invasivos.
Nesses casos, a operação compromete a resistência da parede abdominal, permitindo que partes do intestino ou da gordura interna atravessem essa área enfraquecida. Essa saliência geralmente aparece próximo à cicatriz e pode se manifestar dias, semanas ou até anos após o tratamento.
“A hérnia incisional não é uma condição rara. Cerca de 70% das hérnias abdominais ocorrem na virilha (inguinais) e 30% na parede abdominal anterior (ventrais). Dentro desse grupo, metade são hérnias incisionais, o que representa aproximadamente 15% de todos os casos”, afirma Gustavo Soares, cirurgião do aparelho digestivo e presidente da Sociedade Brasileira de Hérnia (SBH).
Sintomas e fatores de risco
Os principais indícios que sinalizam a presença da hérnia incisional são dor local e o aparecimento de um caroço ou abaulamento na área da cicatriz cirúrgica. Entre os fatores que retardam a cicatrização e podem aumentar o risco de hérnia incisional estão:
- atividades exageradas no pós-operatório, como carregar peso ou fazer exercícios intensos;
- idade avançada;
- diabetes;
- obesidade;
- problemas pulmonares, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
- uso prolongado de imunossupressores ou corticosteroides;
- infecções no local da cirurgia.
Diagnóstico feito por cirurgião
A identificação da hérnia incisional geralmente começa com uma conversa detalhada entre o paciente e o médico (anamnese), seguida de exame físico realizado por um cirurgião. Na maioria dos casos, esses passos já são suficientes para levantar ou confirmar a suspeita.
Quando necessário, o exame de imagem mais indicado é a tomografia computadorizada do abdômen e da pelve, geralmente feita sem contraste. O procedimento confirma a presença da hérnia e fornece informações importantes sobre seu tamanho, localização e conteúdo, o que ajuda no planejamento da cirurgia mais adequada.
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Tipos de hérnia incisional
As hérnias incisionais variam conforme a localização, o tamanho e as características do defeito na parede abdominal. Os principais tipos são:
- simples: ocorre na cicatriz cirúrgica, com abertura pequena e conteúdo facilmente reposicionado;
- complexa: envolve defeitos maiores, tecido cicatricial extenso ou infecção, exigindo técnicas cirúrgicas especiais;
- recidivada: retorna após cirurgia anterior, com maior risco de complicações;
- gigante: compromete ampla área da parede abdominal e órgãos internos.
Tratamento pode ou não ser cirúrgico
O tratamento da hérnia incisional costuma ser cirúrgico, mas varia de acordo com os sintomas apresentados por cada indivíduo. Em casos de hérnias pequenas, que não causam dor ou incômodo, deve-se apenas acompanhar o quadro. No entanto, é essencial destacar que a hérnia pode aumentar de tamanho ao longo do tempo, elevando o risco de complicações durante e após a intervenção.
O objetivo da cirurgia para hérnia incisional é aproximar as bordas do defeito na parede abdominal sem tensão, restaurando a integridade e a função da região.
“A cirurgia pode ser feita por acesso aberto ou minimamente invasivo, como videolaparoscopia ou robótica. A escolha depende das condições do paciente, do tamanho da hérnia e da experiência do cirurgião. Embora não haja consenso internacional, técnicas minimamente invasivas, especialmente a robótica, têm ganhado espaço nos últimos anos”, explica Sergio Roll, cirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein.
Complicações e prevenção
A hérnia incisional, quando não cuidada corretamente, pode crescer com o tempo, dificultando o tratamento. Entre as complicações mais graves estão o estrangulamento, quando parte do intestino fica preso e perde circulação, exigindo cirurgia urgente, e a obstrução intestinal, que causa dor intensa, vômitos e distensão.
Mesmo após a correção cirúrgica, há risco de recorrência, principalmente se persistirem fatores como sobrepeso, força exagerada ou má cicatrização.
“As recomendações no pós-operatório evoluíram com o avanço da cirurgia de parede abdominal. O foco atual é evitar o aumento excessivo da pressão abdominal, moderando atividades físicas intensas nas primeiras semanas, e manter cuidados locais com curativos e higiene”, afirma o presidente da SBH.
Prevenir a hérnia incisional passa pelo controle de doenças que prejudicam a cicatrização, como diabetes e obesidade, e também por não fazer esforços físicos intensos no pós-operatório. “Sempre que houver alterações na região da incisão, é fundamental procurar avaliação médica para diagnóstico precoce e prevenir complicações”, finaliza dr. Gustavo.
Ouça: O que causa a hérnia umbilical e como tratar? – Por Que Dói? #42