Suicídio em 7 perguntas | Carlos Cais

Luiz Fujita Jr é jornalista, editor do Portal Drauzio Varella e criador do podcast Entrementes, sobre saúde mental. @luizfujitajr

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O suicídio é uma questão controversa do ponto de vista filosófico e moral, mas quando se trata de saúde, há orientações bem consolidadas. Especialista esclarece dúvidas comuns sobre suicídio em 7 perguntas. 

 

O suicídio provoca choque, tristeza, incompreensão, culpa e muitos outros sentimentos. Mas é um fenômeno prevenível, e para reduzir sua ocorrência é necessário falarmos sobre ele. O psiquiatra Carlos Cais, do departamento de Psicologia Médica e de Psiquiatria da Universidade de Campinas (Unicamp), responde a dúvidas comuns sobre o assunto.

 

É possível determinar o perfil de quem tem tendência a cometer suicídio?

Não é possível olhar alguém e determinar que aquela pessoa tem risco. Há algum nível de previsibilidade, mas não do ponto de vista determinístico. Que características seriam essas? Pessoas mais impulsivas, agressivas, com histórico e tendência a desenvolverem transtornos mentais e pessoas que já apresentaram comportamento suicida no passado.

 

Toda pessoa que comete suicídio tem, necessariamente, algum transtorno mental?

Não. Suicídio é uma combinação de fenômenos, porém o transtorno mental é algo que está presente na maioria absoluta dos suicídios (cerca de 90% dos casos). Na ausência de transtorno, é difícil se montarem as condições.

 

Veja também: O especialista falou na estreia do Entrementes, nosso podcast sobre saúde mental. Ouça aqui

 

Dizer que kamikazes da Segunda Guerra ou aqueles que colidiram com o World Trade Center tinham transtornos mentais é equivocado. Porém, o transtorno mental é um vulnerabilizador quase necessário.

 

Como percebo se há risco de uma pessoa cometer suicídio?

Dois terços das pessoas que falecem por suicídio dão sinais explícitos de que estão pensando. Costumam dizer cosias bem características, como “eu sou um fardo”, “eu não sirvo para nada” e frases que indicam culpa e pessimismo.

O outro terço mostra sinais por vezes relacionados a transtornos como depressão. O indivíduo perde o interesse nos prazeres do cotidiano, fala de forma diferente da tristeza que sente. Também há mudança de comportamento, como intensificação de uso de substâncias lícitas e ilícitas.

 

O que fazer se uma pessoa ameaçar se suicidar?

A primeira coisa: ninguém é responsável pela vida do outro. Quando você perceber alguém em risco, isso não deve virar um peso para que você se sinta responsável pela vida do outro, deve virar uma mobilização para que você a leve a uma ajuda externa, que vá aliviar o sofrimento.

 

Veja também: Como ajudar alguém que está pensando em suicídio

 

É possível se livrar de um pensamento suicida?

Sim, o que chamamos de ideação suicida está associado a um sofrimento psíquico. Todos nós temos um limite do que nosso aparelho psíquico pode lidar. A partir do momento em que aquele limite é superado, os pensamentos de morte começam a aparecer como solução.

Tudo o que aliviar esse sofrimento irá refletir na ideação, que se dilui espontaneamente ao tratar as causas do sofrimento.

 

É possível prevenir o suicídio?

Sim, a maioria dos casos de suicídio são preveníveis. Depressão é tratável, assim como o uso de substâncias psicoativas. A maior parte dessas condições, mesmo as não ligadas à saúde, como isolamento, podem ser, senão totalmente diluídas, grandemente mitigadas.

 

O que você recomendaria para quem tem pensamentos suicidas?

A recomendação para alguém que reconhece que está passando por um sofrimento muito importante naquele momento da vida é procurar ajuda profissional, nos vínculos afetivos, na sociedade (como o CVV).

 

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