Cigarro eletrônico ajuda a parar de fumar? | Coluna

Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

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O cigarro eletrônico é uma estratégia da indústria tabagista que afeta principalmente os mais jovens. Entenda.

Olha, é o seguinte: cigarro eletrônico é cigarro. O que é o cigarro eletrônico? É um dispositivo para administrar nicotina, pra jogar nicotina nos pulmões. E o que é o cigarro comum? A mesma coisa. Um dispositivo para administrar nicotina. A nicotina é a droga que mais vicia, é a droga que mais causa dependência.

Então, o que fez a indústria? Como ela sentiu que essa onda do cigarro tava saindo fora de moda, o cigarro dá mau hálito, mau cheiro na roupa, ela diz:  “Vamos inventar um jeito de viciar os meninos, as meninas e os adolescentes de um modo geral em nicotina, pra eles ficarem usando nicotina pro resto da vida”. Só que fica chato apresentar essas coisas como realmente são, aí eles inventaram essa história de redução de danos.

“Então aquele que quer largar de fumar tem agora uma opção: o cigarro eletrônico. Que não tem alcatrão, que não tem, enfim, que não tem as substâncias cancerígenas do cigarro.

Primeiro, isso não está demonstrado. Segundo, é mentira que o cigarro eletrônico faça você largar do cigarro. O que pode acontecer, na melhor das hipóteses, é você substituir o cigarro comum pelo eletrônico, mas você vai continuar dependente de nicotina.

Então, eu queria dizer o seguinte: não entrem nessa! Eu já fui fumante, eu sei quanto dói a gente tentar ficar livre da dependência de nicotina. A nicotina é uma droga que escraviza, que a cada 20, 30 minutos, uma hora no máximo te deixa desesperado pra fumar outra vez.

Você perde o principal valor da juventude, que é o quê? O desejo da liberdade. Você perde a liberdade, você fica dependente de uma droga e vai ficar dependente dessa droga pra sempre, porque a gente deixa de ser fumante mas não deixa de ser dependente. Eu parei de fumar há mais de 40 anos. Se eu pegar um cigarro agora e der uma tragada, eu tenho certeza que eu vou comprar um maço, porque vai despertar o leão da dependência dentro de mim. Não entre nessa! A juventude tem que se abrir pro mundo, pra novos valores, mas pra isso precisa de liberdade. Você não vai ficar escravizado por uma droga pra atender os interesses comerciais de um bando de criminosos que fica viciando os nossos jovens.

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