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Toxicologia

Como identificar sinais de intoxicação ou envenenamento?

Publicado em 01/07/2025
Revisado em 01/07/2025

Quadros podem se manifestar em minutos ou dias e exigem atenção imediata. Alterações na pele, pupilas e respiração estão entre os principais indicativos.

Os sinais podem ser sutis: uma dor de cabeça insistente, um mal-estar repentino, tontura. À primeira vista, sintomas corriqueiros. Mas, em certos casos, o corpo está dando indícios de algo mais sério, como uma possível intoxicação ou envenenamento. O desafio é saber reconhecer o alerta e buscar atendimento médico rapidamente, antes que o quadro evolua.

“A diferença entre o remédio e o veneno está na dose.” A frase atribuída ao médico e filósofo Paracelso, no século 16, serve até hoje como ponto de partida para compreender a gravidade das intoxicações. Quem reforça essa ideia é o dr. Paulo Correia, médico coordenador do pronto-socorro do Hospital Brasília, da Rede Américas.

Segundo ele, substâncias aparentemente inofensivas, como analgésicos, antitérmicos e até xaropes para tosse, podem se transformar em agentes perigosos se ingeridas em grandes quantidades. “Mesmo medicações de uso habitual e diário, usualmente desvalorizadas pela população, podem gerar graves intoxicações quando ingeridos acidentalmente em doses elevadas”, alerta.

        Veja também: Saiba o que fazer em casos de intoxicação

Principais sinais de alerta

Cada substância provoca uma combinação específica de sinais clínicos (chamada toxíndrome), mas alguns sintomas são recorrentes em praticamente todas as situações. “Diarreia, náuseas e vômitos, tontura ou desmaio, confusão mental, agitação ou sonolência, dor de cabeça, dificuldade para respirar, batimentos cardíacos acelerados ou lentos, sudorese excessiva ou ausência de suor, convulsões, alterações na cor da pele ou lábios (azulados, pálidos, avermelhados), pupilas muito pequenas ou muito dilatadas”, descreve o especialista.

A dra. Marina Salgado, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, reforça essa lista de sinais de alerta, acrescentando outros sintomas importantes, como dor abdominal, boca seca ou salivação excessiva, alterações visuais, dificuldade na deglutição ou na fala, e sonolência extrema ou até perda de consciência. “São sinais que, quando presentes, exigem avaliação médica imediata, especialmente quando aparecem subitamente ou sem causa aparente.”

A evolução dos sintomas pode ser imediata ou tardia, dependendo do agente tóxico. “Depende da substância e da quantidade ingerida, inalada ou em contato com a pele. Alguns sintomas surgem minutos após o contato (como produtos de limpeza fortes ou venenos de animais), enquanto outros podem demorar horas ou até dias para aparecer (como certos medicamentos, agrotóxicos ou metais pesados)”, explica o dr. Paulo. Por isso, ele recomenda que mesmo quando não há sinais logo após a exposição, o estado geral da pessoa seja monitorado com atenção redobrada nas horas e dias seguintes.

Entre os principais sinais físicos, ele destaca:

  • Olhos: pupilas muito pequenas ou muito dilatadas, olhos vermelhos ou amarelados ou lacrimejamento;
  • Pele: pálida, avermelhada, azulada ou com manchas; pode haver sudorese ou ressecamento;
  • Boca: salivação excessiva, gosto metálico, feridas ou queimação;
  • Respiração: hálito com odor diferente, respiração acelerada, lenta ou irregular;
  • Movimentos: tremores, convulsões, sonolência e desorientação.

“Quaisquer desses sinais são motivo de importante preocupação e devem motivar a busca imediata ao pronto-socorro”, reforça o médico.

Diferenças entre intoxicação alimentar e envenenamento

Outro ponto de atenção está na distinção entre uma intoxicação alimentar comum e um envenenamento, o que nem sempre é fácil. Intoxicações alimentares costumam ter causas bacterianas ou virais, e seu impacto é concentrado no trato gastrointestinal.

“Intoxicação alimentar comum geralmente acontece após ingestão de alimentos contaminados por bactérias ou toxinas (como maionese estragada ou frutos do mar mal-conservados), que podem levar a irritação importante do trato gastrointestinal e, usualmente, a náusea, vômitos, dor abdominal e diarreia, com início da manifestação usualmente ocorrendo em até 24 horas após a ingesta alimentar contaminada”, afirma o dr. Paulo.

Apesar do incômodo e da intensidade dos sintomas, esses quadros geralmente não envolvem o sistema nervoso, cardiovascular ou respiratório. “Apesar de poder tratar-se de sintomas intensos e eventualmente incapacitantes, raramente levam a sintomas neurológicos, respiratórios ou cardíacos”, esclarece ele. Já em casos de intoxicações por produtos químicos ou medicamentos, é frequente que esses sintomas estejam presentes. Quando sinais como confusão mental, batimentos cardíacos irregulares, dificuldade para respirar ou alterações na coloração da pele aparecem, é preciso ficar alerta. 

Segundo a dra. Marina, a distinção pode ser feita observando o tempo de início dos sintomas e o contexto. “Envenenamentos tendem a ter início mais súbito e manifestações mais graves. Já a intoxicação alimentar costuma afetar várias pessoas que comeram o mesmo alimento e envolve sintomas mais limitados ao sistema digestivo”, explica. Perguntar se outras pessoas adoeceram, verificar se há histórico de exposição a produtos químicos ou ambientes suspeitos, e observar sinais como queimaduras, pupilas alteradas ou cheiro incomum na respiração são medidas importantes na avaliação inicial.

Na dúvida, a recomendação do especialista é clara: não arrisque. “Em caso de dúvida, principalmente diante de sintomas graves ou sinais atípicos, que não acometam apenas o sistema digestivo, sempre procure atendimento médico imediato.”

Mais do que identificar a causa exata, o atendimento precoce pode salvar vidas, especialmente em casos de crianças, idosos ou pessoas com doenças pré-existentes, que têm menos reserva fisiológica para lidar com o impacto de substâncias tóxicas no organismo.

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