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Morre o Rio Doce, vivem os mosquistos

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Publicado em 23/12/2015
Revisado em 11/08/2020

A contaminação do Rio Doce por lama tóxica em Colatina gerou prejuízos, transtornos, desconfiança e o cenário perfeito para dengue, chikungunya e zika.

 

Desde 19 de novembro de 2015, algumas calçadas de Colatina, cidade do Espírito Santo com 122 mil habitantes, amanhecem com objetos diversos cuidadosamente organizados. Cacos de azulejo, pedaços de madeira, tijolos e garrafas PET com etiquetas improvisadas marcam os lugares que pouco a pouco serão ocupados pelas pessoas que os colocaram ali. Elas vão formar uma fila para, às 17h, receber fardos de água mineral distribuídos pela mineradora Samarco.

 

Veja também: Assista à reportagem especial sobre a contaminação do Rio Doce em Colatina

 

O rompimento da barragem do Fundão em Mariana, Minas Gerais, no dia 5 de novembro, derramou 55 milhões de m3 de lama contendo arsênio, chumbo, manganês e outros rejeitos tóxicos de minério de ferro. O equivalente a 22 mil piscinas olímpicas de barro misturado a esses materiais inundou a cidade mais próxima da barragem, Bento Rodrigues, e varreu 663,2km de rios até chegar ao oceano pela foz do Rio Doce, no Espírito Santo.

 

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Foto: Gislaine Miyono

 

Em Colatina, o verde escuro original do Rio Doce enferrujou no dia 18/11. Vinte dias depois, quando nossa equipe chegou à cidade, não havia qualquer sinal de que o rio estava se recuperando. As três toneladas de peixes mortos já haviam sido recolhidas dias antes e o laranja ainda dominava toda a extensão de água que era possível avistar.

 

Peixes encalham nos congeladores

 

Próximo da ponte Florentino Avidos, que atravessa o Rio Doce, fica a principal peixaria de Colatina, uma casa pequena com freezers e pias que funciona também como sede da Associação de Pescadores. Ao saber que a lama chegaria, um empresário da região mobilizou pescadores na operação “Arca de Noé”, que buscava resgatar o maior número possível de espécies de peixes para que fossem levadas ao IFES (Instituto federal do Espírito Santo), onde poderiam procriar e ser preservadas até que a situação normalizasse.

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Valdomiro mostra congeladores com peixes estocados. Foto: Gislaine Miyono

Ao mesmo tempo, os trabalhadores pescaram o que puderam para ter o que vender durante o período que o rio ficasse interditado. Não adiantou. Os pescadores perambulam pela cidade sem ter o que fazer e os pescados sobram nos congeladores. “As pessoas não confiam que os peixes que a gente tem foram pegos antes de a lama chegar. Hoje estamos parados. As vendas caíram 95%”, afirma o vice-presidente da associação, Valdomiro Jesus da Rocha.

Antes um pescador tirava entre mil e 1200 reais por semana. Agora, a Samarco dá um salário mínimo (atualmente 788 reais), mais 20% disso (157,60 reais) por dependente, mais uma cesta básica no valor de 338 reais por mês. “O pescador saía de manhã e chegava à tarde com 50 quilos de peixe. Agora a gente só vem aqui e fica reunido sem fazer nada, no seguro-defeso pelo menos até 23 de fevereiro. Mas um salariozinho não dá nada”, diz Valdomiro.

 

Distribuição de água 

 

A partir da 0h do dia 18/11, quando a lama atingiu o Rio Doce no município, as torneiras secaram. Neste dia, o abastecimento de água foi feito por caminhões-pipa que captaram água de lagos e fontes da região.

No dia 19/11 começou a distribuição pela Samarco em somente 18 pontos da cidade. No bairro Santos Dumont houve tumulto, com pessoas subindo no caminhão de entrega e se pendurando em outro que passava pelo local para levar garrafas até um bairro próximo. Confusões em vários outros locais agilizaram o aumento do número de locais de entrega de água para 60.

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Objetos com etiquetas improvisadas marcam lugar na fila de distribuição de água. Foto: Gislaine Miyono

No bairro Novo Horizonte, as primeiras pessoas chegam às 4h da manhã para deixar seu lugar marcado e partem para suas tarefas cotidianas. Às 16h elas começam a retornar. Vinte minutos depois chegam dois policiais militares. Sua missão é manter a organização de mais de 500 pessoas que vão tentar pegar seu fardo. Assim que eles chegam, pessoas começam a reclamar: “tem é que acabar com esse negócio de marcar lugar, amanhã eu vou vir e tirar tudo esses entulhos aí.”

De acordo com moradores, a quantidade de água de distribuída varia de acordo com o dia e o local de forma aparentemente aleatória. No ponto que visitamos, um caminhão com 8 mil litros de água em garrafas de 1,5 litro aparece na esquina às 16h30. Algumas pessoas ajeitam os carrinhos de mão ou de bebê que levaram para facilitar o carregamento, e o alvoroço aumenta. Alguns gritam denunciando fura filas. O máximo que um dos PMs pode fazer é se aproximar e pedir calma com certa intimidação. É o suficiente para evitar uma briga.

O primeiro pacote é entregue a um cadeirante sem as duas pernas e seu ajudante que puderam receber sem pegar a fila. Três homens ficam em cima do caminhão entregando os fardos com oito garrafas, um por pessoa. Quem pega pode voltar ao final da fila e tentar receber mais um. Por conta disso, a fila não diminui até se esgotarem as garrafas. Pelo contrário, ela aumenta. Por volta de 17h20 a fila começa a formar uma espiral dando a volta não só no quarteirão, mas em torno de si mesma.

 

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Foto: Gislaine Miyono

 

Como a regra estabelecida é um pacote por pessoa, é raro ver alguém dividindo as garrafas. Cada um, jovem ou não, pega um fardo para aproveitar ao máximo seu direito. Um idoso sai carregando o fardo no ombro, dá alguns passos cambaleantes, para e o coloca no chão. Arrisca carregar segurando pelo plástico, mas é pior. Volta ao ombro e aperta o passo para tentar cumprir uma distância maior até que seus braços voltem a tremer e ele precise se livrar do peso mais uma vez. Assim ele vai até desaparecer na esquina.

Às 17h40 acaba a água, a fila dispersa e recém-chegados lamentam. “Já acabou? Pô, e quem sai do trabalho cinco da tarde como é que faz? Eles têm que distribuir mais tarde. Eu sou sozinha, estou voltando agora do trabalho e já acabou. Como é que fica?”, reclama uma moradora.

 

Água tratada gera desconfiança

 

No dia 22/11, quatro dias após a chegada da lama, o abastecimento com água tratada do Rio Doce foi retomado, mas recebido com desconfiança pela população. Questionados se ingeriam a água, todos respondiam com um veemente “eu não!”. Não é incomum restaurantes e bares fixarem como propaganda avisos de que ali só se cozinha com água mineral.

Colatina não tem uma secretaria do meio ambiente. A criação de uma é batalha antiga do Ministério Público dali, mas por enquanto quem faz esse papel e acumula as funções de coleta e tratamento de água e esgoto é uma autarquia chamada Sanear (Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental).

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João Virgílio mostra tabela de controle de análise da água do Rio Doce. Foto: Daniel Satta

A purificação da água não é um processo simples. O principal agente usado na floculação e coagulação (etapas em que resíduos são agregados para que possam decantar e serem separados da água) antes da tragédia era o sulfato de alumínio, que se mostrou insuficiente para tratar a água após o desastre, pois a lama tóxica tem uma consistência gelatinosa mais difícil de separar que o barro e os detritos comuns em rios. “Agora nós precisamos utilizar outro agente, o Tanfloc. Como se trata de um produto diferente, é difícil estimar quanto de sulfato de alumínio seria preciso para tratar a água na situação em que ela se encontra agora. Mas é possível dizer que a quantidade seria muito maior. Antes, a água que chegava do rio tinha uma turbidez (medida de transparência de água) de cerca de 20 UTN. Neste momento, estamos com cerca de 2500, 3000 UTN, ou seja, aumentou mais de 100 vezes”, explica João Virgílio Avancini, engenheiro sanitarista da Sanear.

Embora a água saia límpida da estação de tratamento, a população relata que nos primeiros dias de retorno do abastecimento ela tinha um cheiro muito forte de cloro. Além disso, tem receio das substâncias nocivas que podem continuar presentes sem afetar a transparência. “Realmente, nós precisamos usar mais cloro para tornar a água potável, mas ainda assim é dentro do limite. Quanto à presença de substâncias como metais pesados, que seriam invisíveis, nós analisamos a água de hora em hora e disponibilizamos laudos diários feitos por um laboratório independente para visualização na internet, atestando a qualidade”, diz Virgílio.

Em uma pequena sala na unidade do Ministério Público Estadual em Colatina, o promotor de Justiça, Marcelo Volpato, luta por alternativas à captação do Rio Doce. Mesmo com ações conjuntas do MPE, Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho, a prefeitura de Colatina mantém a defesa do tratamento apoiando-se nos laudos de potabilidade. Porém, Volpato afirma que utilizar a Resolução 357 Conama e a Portaria 2915 do Ministério da Saúde como referência para classificar a água como potável é um erro. “Esses dois instrumentos normativos são voltados para análise de cursos hídricos em condições normais, e não para tratamento de resíduo industrial”, afirma.

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Marcelo Volpato, promotor do Ministério Público que defende alternativas à captação e tratamento de água do Rio Doce. Foto: Daniel Satta

O promotor afirma ainda que é necessário trabalhar com o princípio jurídico da precaução. “Mesmo que um laudo diga que a água não tem arsênio, não tem alumínio, se a população não confia você não pode fazê-la consumir. Além disso, a água é um corpo dinâmico, então não sabemos até que ponto um registro de um momento é confiável. Não podemos depender de relatórios dizendo ‘agora pode, agora não pode’”, diz.

Para o MP, a saída seria colocar o rio em quarentena e montar estruturas para captar água de outras fontes da região até que o rio estabilize e seja possível fazer análises mais seguras. O engenheiro da Sanear considera impraticável. “No meu entendimento, é um parecer absurdo, porque nenhuma cidade no Brasil tem reservatório que aguente 40 horas – não vamos pensar nem 40 dias – esperando. Além disso, estamos passando por um período de seca. Os principais afluentes na nossa região estavam com vazão próxima de zero. Mas estamos procurando soluções alternativas, fazendo estudos de potenciais abastecimentos por outros rios, cavando poços profundos e estudando trazer água de lagos de Colatina. Isso não é a solução imediata porque demanda de 45 a 100 dias para ser executada”, diz.

A juíza federal Mônica Lucia do Nascimento Frias autorizou que a Samarco parasse de distribuir água a partir do dia 18/12, considerando que o abastecimento na cidade já havia sido normalizado. Menos de 24 horas depois, a Justiça Federal determinou que a distribuição fosse mantida, atendendo a pedido dos Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho, segundo os quais a suspensão da entrega de água mineral poderia gerar “caos social e danos imensuráveis à população”.

 

Armazenamento de água favorece proliferação do Aedes 

 

Por estar distante da barragem, Colatina pôde se preparar para, pelo menos por um tempo, não depender da água da torneira. Todos sabiam que, quando a lama chegasse, o fornecimento de água teria de ser interrompido. Porém, os danos vão além dos infligidos à água, flora e fauna. O governo precisou orientar que a população armazenasse água enquanto pudesse, mesmo sabendo que isso levaria a um outro problema: a formação de um cenário convidativo para a proliferação do Aedes aegypti.

“Embora os meses de verão sejam reconhecidamente períodos de aumento no número de criadouros, os lagos da região estão quase secos, então não esperávamos ter que lidar com essa preocupação”, afirma Débora Gatti Carvalho, secretária municipal de saúde de Colatina. Preocupação ainda maior porque na mesma época confirmou-se a relação entre gestantes infectadas por Zika virus, doença transmitida pelo mesmo mosquito da dengue, e fetos com microcefalia, condição caracterizada pelo tamanho menor do crânio. A má-formação pode provocar efeitos variáveis, entre eles déficit cognitivo grave, comprometimentos de visão, audição, fala e até convulsões.

 

Veja também: Recomendações do dr. Drauzio a respeito da microcefalia

 

O trabalho para conter o Aedes é contínuo. Cinquenta e oito agentes e sete supervisores realizam visitas à procura de criadouros e fecham relatórios a cada dois meses. No período de 60 dias eles conseguem abranger cerca de 1000 imóveis dos 66.400 de Colatina.  Mesmo antes do fim do ano, o número de focos encontrados no ciclo novembro-dezembro já era de 35 a 40% maior que o de setembro-outubro. Em novembro de 2014, o Índice de Infestação Predial (IIP) de Colatina no LIRAa (Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti) — instrumento usado para mapear os criadouros de dengue no país — era 0,7 (faixa “Satisfatório”). Em novembro de 2015, estava em 1,6 (faixa “Alerta”, que vai até 3,9).

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Agentes da Vigilância Ambiental procuram por criadouros do Aedes aegypti. Foto: Gislaine Miyono

Quando acompanhamos agentes vistoriando as casas, não precisamos esperar muito para o primeiro possível foco do dia ser encontrado. Já na segunda casa, dentro de uma lata de tinta com água, havia larvas de mosquito. Se for confirmado que se tratam de larvas de Aedes (o que ocorre em 95% dos casos), será o suficiente para contabilizar o local como mais um ponto na estatística. “Não é só nas casas que o mosquito se prolifera, mas contamos muito com a ajuda da população. Em uma das últimas semanas, encontramos 48 focos. Desse total, 29 estavam em recipientes de armazenamento, como baldes e caixas d’água que as pessoas tiveram que providenciar às pressas por conta do desastre”, afirma Eleandro Sérgio Cassaro, coordenador de Vigilância Ambiental de Colatina.

Até meados de dezembro de 2015, não havia dados consolidados de número de casos de dengue, Chikungunya e zika vírus, mas a expectativa era que eles acompanhassem o aumento do número de focos. “Se não houver uma fiscalização rigorosa, pode ocorrer uma epidemia de dengue. Quanto ao zika vírus, nós já temos casos confirmados no Espírito Santo, então em Colatina entendo que nós teremos, sim, notificações positivas”, afirma a secretária municipal de Saúde, Débora Gatti.

 

Colatina aguarda os impactos do zika vírus 

 

Assim como não foi preciso esperar para encontrar uma casa com foco de Aedes, também foi rápido encontrar um paciente com suspeita de infecção por Zika virus. Em meia hora na sala de atendimento da Vigilância Epidemiológica de Colatina, chegaram quatro casos.

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Rodrigo aguarda para coletar sangue. Foto: Gislaine Miyono

Rodrigo Gil de Souza, de 25 anos, chegou ao pronto socorro fazendo um malabarismo para conseguir coçar os braços sem derrubar o filho Rian, de 7 meses, do colo. Reclamava também de dor de cabeça, nos olhos e febre. A pedido de uma enfermeira, levantou a camisa e revelou o tórax e as costas completamente tomadas por pequenas bolinhas vermelhas. Muitos do presentes não conseguiram segurar as expressões de espanto nem deixar de soltar um contido “nossa…”.

Rodrigo estava com os sintomas há três dias, e desde então era um a menos na família que poderia tentar pegar sua cota de água mineral. “Antes eu estava indo, mas agora não mais porque estou com dores. Quero só ficar deitado”, diz. Dali ele foi encaminhado para a Policlínica de Colatina, onde coletaria sangue. A cidade não possui os meios para fazer exames que detectem especificamente a presença do vírus Zika, então a amostra sanguínea precisa ser encaminhados para a capital, Vitória, onde o diagnóstico será definido.

Também irá para Vitória o sangue coletado de Sabrina dos Santos Oliveira, de 33 anos, que chegou coçando o tórax sem parar, avermelhando ainda mais a pele já tomada por exantemas semelhantes aos de Rodrigo. Moradora da região rural de Colatina, ela acredita que tenha sido picada enquanto estava trabalhando. “Como é época de mangas, a gente fica muito tempo dentro da mata colhendo. Acho que foi aí que eu peguei a doença.”

 

Veja também: Dr. Drauzio desmente boatos sobre relação entre microcefalia e vacinas vencidas

 

Ao visitar sua casa no Córrego do Almoço, entretanto, vê-se que os potenciais criadouros dentro do próprio terreno são muitos: uma fossa seca, outra para lixo, uma caixa d’água destampada e poças esparsas pelo solo. Ali não há coleta regular de lixo nem fornecimento de água, e o local não faz parte das rotas dos vigilantes ambientais que identificam focos do Aedes e orientam a população sobre formas de prevenção. “A gente aqui fica ouvindo as notícias e acha que é doença que dá só na cidade.”

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Sabrina, paciente com suspeita de ter contraído zika vírus. Foto: Daniel Satta

Municípios como Colatina se viram como podem para receber pacientes, tirar dúvidas, orientar profissionais de saúde e fazer exames. Cada caso da doença precisa ser relatado em detalhes em uma ficha de notificação padrão enviada ao Ministério da Saúde, que irá reunir os dados e compor a estatística oficial. Como os formulários já vêm com a enfermidade específica impressa, os médicos precisam riscar “DENGUE” e escrever à mão “ZIKA”. As incertezas atingem não só a população, mas também quem precisa atendê-la: “claro que a gente se preocupa com várias endemias, mas neste caso existe a microcefalia. Temos um caso em Colatina que ainda está sendo investigado. O telefone não para de tocar, as gestantes ligam com dúvidas, então eu, como cidadã e como profissional, estou muito assustada”, afirma Tarcila Zucoloto Jonath, enfermeira da Vigilância Epidemiológica.

O medo da doença no Brasil surgiu de repente. A presença do zika vírus foi confirmada no país em maio. Naquela época, os males conhecidos da doença eram bem menores, como mostra uma fala do então ministro da Saúde, Arthur Chioro: “o zika vírus não nos preocupa. Trata-se de uma doença benigna que tem uma evolução para cura. A febre é baixa, o maior incômodo é o prurido, manchas vermelhas. Requer muito pouco acesso dos pacientes ao prontos-socorros e serviços médicos. Toda a nossa preocupação é com a dengue, porque dengue mata”.

A partir de outubro, começou a chamar a atenção o aumento do número de casos de microcefalia em Pernambuco. O estado, que tinha média de dez casos por ano, em novembro já contabilizava 268. Em 17/11/2015, o Ministério da Saúde emitiu o primeiro boletim epidemiológico sobre microcefalia, registrando 399 casos em sete estados do nordeste. Um mês depois, o número já chegava a 874, sendo 29 confirmados como relacionados ao vírus Zika.

O vírus não aguarda estudos sobre todos os seus possíveis impactos em gestantes e se alastra rapidamente. Até novembro, casos de microcefalia suspeitos de terem sido causados pela doença estavam restritos ao nordeste. Em meados de dezembro, só seis estados não tinham casos sob investigação: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Paraná e Santa Catarina. Todos os outros 20 mais o Distrito Federal analisavam, ao todo, 2.165 casos. Outros 134 já eram registrados como comprovadamente relacionados ao zika. No Ceará, um óbito confirmado.

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