Sociedade dos primatas – Parte 2 – Outras Histórias #71

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Publicado em: 26 de outubro de 2022

Revisado em: 29 de novembro de 2022

Os hábitos adotados pelos primatas, como orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonovos, explicam as raízes biológicas do comportamento do ser humano.

 

 

 

Entre os primatas, existem alguns comportamentos que os diferenciam. Os orangotangos, por exemplo, vivem de forma solitária em cima das árvores, deixando o cuidado com os filhotes para as fêmeas. Já os gorilas se organizam em haréns, onde o macho reúne a maior quantidade de fêmeas que é capaz de proteger. Os bonovos, por sua vez, são matriarcais: as fêmeas é quem comandam o grupo.

Os chimpanzés são os que mais se aproximam dos seres humanos. Eles adotam um comportamento político em que o líder não é necessariamente o maior, mas aquele capaz de reunir o bando mais forte. Conheça o comportamento dos primatas neste episódio do Outras Histórias e entenda de onde vem a nossa forma de organizar a sociedade.

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O objetivo destas séries de podcasts é falar sobre as características de comportamento e a estrutura social das quatro espécies de grandes primatas, que são: os orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. E nós, grandes primatas como eles, a quinta espécie, temos que ter alguma coisa em comum. E essa vai ser a ideia: falar sobre as raízes biológicas do comportamento humano.

Olá, eu sou Drauzio Varella, e aqui você vai ouvir Outras Histórias.

Vamos começar, então, falando as características principais dos orangotangos. Orangotango é aquele macaco grande, enorme, não é, ele tem uma coloração meio avermelhada e tem o rosto lilás, é meio tecnicolor. É o único grande primata colorido. Ele tem uma mandíbula, assim, protuberante, né, que projeta a boca pra frente. Vive em cima das árvores o tempo todo. E eles são os únicos grandes primatas asiáticos. Eles vivem ali em Sumatra, em Bornéu, na Indonésia, é ali que eles vivem. Parece que existiram em outros lugares da Ásia, mas foram extintos, não é. Eles passam a vida nas árvores e têm um dimorfismo sexual importante: o macho chega a pesar 80, 90 quilos, enquanto a fêmea é menorzinha, pesa 40 quilos. Os primatologistas explicam que, quando você tem um dimorfismo sexual tão grande, isso dificulta a convivência, porque uma fêmea vai gastar muito menos tempo pra alimentar o seu corpo de 40 quilos do que um macho de 90 quilos, que vai ter que passar muito mais tempo atrás de comida pelas árvores, não é, e a comida se encontra esparsa na floresta.

Eles passam quase todo o tempo nas árvores, só descem no chão quando acaba a água empoçada nos troncos e nas folhas, porque o chão é perigoso pra eles, né, que essas regiões têm tigres, têm felinos, grandes felinos. E eles, quando descem da árvore, eles correm até o local que tem água e voltam pra cima das árvores imediatamente. E são solitários, vive cada um num canto, a mulher dum lado, o marido do outro lado, atrás de comida o tempo todo. Quando nasce um filhote, ele fica por conta exclusiva da mãe. O macho, muitas vezes, depois do relacionamento sexual, simplesmente desaparece. E a fêmea fica com o filhote por anos, né, porque leva um tempo pro bebê orangotango ser capaz de se movimentar sozinho no interior das árvores. Ele não pode ser deixado sozinho quando é pequeno, porque cai lá de cima e desaparece, né. O sistema social, então, tem essa característica, eles são solitários. Mas eles tão o tempo inteiro um sensoreando o outro a partir dos sinais que eles emitem.

Os gorilas são completamente diferentes. Gorila é o King Kong, aquele lá é um gorila típico. O gorila típico, o macho chega a pesar 200 quilos. E, quando a gente olha o pelo dele, nas costas, assim, é prateado. Tanto que o macho alfa, esse que chega a esse peso todo, é muito forte, ele é chamado de costas prateadas, esse é o macho dominante. Esse macho dominante vive num harém de quatro, cinco, seis fêmeas, os filhotes dessas fêmeas e os juvenis, que são filhos dele também. E ele tem que ter uma estratégia de sobrevivência. Não adianta ele querer ter 30 fêmeas que ele não vai saber proteger depois, não vai ter condições de proteger. Então, ele tem que ter uma estratégia que ele tenha um número suficiente de fêmeas, o maior número possível pra espalhar os genes dele, mas, ao mesmo tempo, um número de fêmeas que ele tenha condição de manter.

Os gorilas não têm problema de alimentação porque eles são vegetarianos e, nas regiões em que eles vivem, ali, na África Central, eles têm comida mais do que suficiente, não têm problema de alimentação. E eles têm esse hábito alimentar que é farto e isso permite a convivência do macho e das fêmeas no mesmo local, diferente do orangotango, né, que o macho precisa comer muito mais, precisa passar muito mais tempo comendo e tem que procurar comida muito mais do que a fêmea. Os gorilas, não, a comida é farta, eles vivem nessas pequenas tropas, não é. As fêmeas gorilas, caracteristicamente, migram pra outros grupos. Assim que elas começam a amadurecer sexualmente, elas vão embora do grupo. Os gorilas são muito parecidos com nós, seres humanos. Eles têm cerca de 97,5% de identidade genética. Isso quer dizer que o que nos diferencia deles são 2,5% dos nossos 30 mil genes. O que tem de característico na vida social dos gorilas é que o macho vive ali, naquele pequeno harém, né, com algumas fêmeas e os filhotes, machos e fêmeas, né.

Quando as filhas começam a chegar perto da adolescência, começam a chegar próximo do amadurecimento sexual, se ficarem ali, naquele local, naquele mesmo harém, vão acabar mantendo relações sexuais com os irmãos e com o pai, e isso não é saudável na vida animal, aumenta o risco de malformações fetais e diminui as chances de sobrevivência. Então, a fêmea migra para o harém de um outro macho que possa protegê-la. Dessa forma, ela vai ter filhos mais saudáveis. Aí, você vai perguntar: “Mas como é que ela sabe que ela tem que sair dali, por que senão ela vai engravidar de parentes muito próximos e vai ter filhos pouco saudáveis?” Ela não sabe, claro que não. Mas ela sente esse ímpeto, sente uma força interna, que a leva a sair da tropa em que ela vivia, sob a proteção do pai e dos irmãos, que agora passam a representar uma ameaça de relacionamento sexual, e ela vai pra uma outra tropa, onde ela vai se relacionar sexualmente com machos diferentes, mais distintos, do ponto de vista genético, e com isso ela vai ter filhos mais saudáveis. Por isso é que se mantém essa característica da adolescente ir embora de casa, porque as que tiveram esse comportamento levaram vantagem evolutiva, deixaram mais filhos, portanto, mais genes e mais filhas, que vão herdar esse mesmo comportamento de se afastar da tropa em que viviam.

As fêmeas prezam muito essa relação de parentesco, as que são próximas tendem a formar pequenos grupos, e, quando o parentesco vem do lado paterno, as relações são um pouco mais de estranheza. A maioria dos grupos apresenta poucas interações com afinidade e relações menos agressivas. Essas interações entre os machos são bastante diferentes. Os machos, à medida que crescem, vão ficando adolescentes, eles começam a se interessar pelas fêmeas, e o pai, quando percebe que o filhote começa a atacar sexualmente as fêmeas, ele dá uma surra no pequeno que o pequeno nunca mais chega perto dele. O pequeno continua ali, no harém, mas ele não se aproxima de mais nenhuma fêmea. E, quando o pai chega perto, ele sai de perto. Tem documentários muito interessantes, mostrando isso com clareza, na BBC de Londres.

À medida que ele vai ficando mais forte, mais potente, cada vez mais forte, vai crescendo, ele abandona o harém. Ele abandona o harém, mas com uma filosofia diferente daquela da gorila adolescente que abandonou pra se juntar a uma outra tropa e ter relacionamento sexual com pessoas mais diferentes do ponto de vista genético. O macho sai do harém do pai pra tentar construir o próprio harém. Então, ele vai ficar junto com outros machos solteiros, que fizeram a mesma coisa em outras tropas.

Eles vão ficar rondando pelo local pra tentar encontrar um harém, protegido por um macho que tá ficando doente ou que morreu, ou que é mais fraco, e aí eles disputam a posição desse macho e tomam o harém do outro. Primeira providência que eles tomam, qual é? Eles matam todos os filhotes. As fêmeas param de amamentar, vão menstruar outra vez e aí vão engravidar deles. Aí você vai dizer: “Mas que loucura é essa? Como é que se explica isso do ponto de vista da evolução de Darwin? Se ele mata, ele tá indo contra a espécie dele.” Mas a evolução não olha o interesse das espécies. A evolução só olha o interesse do indivíduo. Ele mata os filhotes, mas, com isso, ele consegue jogar os genes dele pra frente, pros seus descendentes.

Os chimpanzés já têm outra característica, que é muito diferente da dos gorilas e dos orangotangos. Os chimpanzés são os mais políticos de todos os grandes primatas, evidentemente, com exceção dos homens, os seres humanos, não é. Eles vivem na África Central também e Ocidental, especialmente na Tanzânia, no Quênia e em outros países da África Central ali. Têm uma identidade genética absurda com nós, homens: 98% a 99% dos nossos genes são iguaizinhos ou muito próximos dos genes deles. Entre os chimpanzés, o dimorfismo é muito menos pronunciado. Lembra que eu disse que o gorila macho pode pesar 200 quilos, a fêmea tem, aí, 70, 80 quilos. O orangotango macho chega a 90 quilos, as fêmeas chegam a pesar 40. Nos chimpanzés, os pesos são mais próximos, os machos têm mais ou menos 20% de peso corpóreo maior do que o das fêmeas, não é.

A gravidez dos chimpanzés tem a mesma duração de gorilas e orangotangos, oito meses de gestação. Os filhotes de chimpanzés nascem com a cara branca, bem clara e, no decorrer da vida, ela vai escurecendo, escurecendo, e o rosto fica preto também. E eles precisam dos cuidados maternos por cinco anos. Todos os grandes primatas, as fêmeas passam grande parte da vida cuidando dos filhotes, não é, porque eles se tornam independentes depois de um tempo longo. As fêmeas, por causa desses cuidados que elas têm que prestar pros filhotes, elas conseguem ter aí três ou quatro descendentes. Vivem em média 40 anos, que é o que a nossa espécie vivia até o século XX, não é.

A semelhança física dos chimpanzés e até a inteligência deles é muito semelhante à humana. Mas o que mais chama a atenção é a complexidade da organização social. Eles vivem num esquema que a gente chama de fusão-fissão. Fusão, o que é? Quando tem comida à vontade ou tem predadores, eles se juntam, passam a viver juntos. Tem comida farta, comem frutas, caçam, eles são carnívoros também, e tem predadores por perto, eles se juntam. Quando falta comida ou desaparecem os predadores, eles se separam, podem viver um mais distante do outro. Primeiro, pra encontrar comida e, segundo, porque não tem ameaça por perto. Isso é o que se chama de fusão e fissão.

Os chimpanzés – tem uma coisa muito interessante, viu –, eles são os únicos animais, além do homem, que se juntam para assassinar o seu semelhante premeditadamente. Isso é bem documentado nos anos 90. Ficou claro que à noite eles formavam um grupo de chimpanzés que saíam pras comunidades próximas e atacavam aqueles que estavam mais sozinhos na comunidade ou aqueles que dormiam num espaço mais distante dos outros. Isso é uma característica da espécie.

Ele tem essa capacidade de ter uma dieta vegetal e, ao mesmo tempo, caçar, e caçam em bando, às vezes, né. Eles sobem nas árvores com facilidade, andam com desenvoltura nos campos, eles andam de quatro, né, apoiados nas mãos e nos pés, e eles não adotaram ainda a posição bípede nos chimpanzés – eles conseguem adotar, mas por um pequeno trajeto, em seguida, eles caem outra vez na posição quadrúpede, não é.

Eles não ficam muito tempo na mesma árvore, eles vão embora e, às vezes, deixam até muitos frutos pra trás, eles têm essa coisa nômade, né. E à noite dormem nas árvores, eles constroem ninhos nas árvores, com galhos, com folhas e dormem nas árvores, que é uma forma de se defender. Eles não são puramente vegetarianos, como eu já disse, né. Eles são caçadores, e a caça é uma ação orquestrada por um grupo de machos, que encurrala pequenos macacos e pássaros nos galhos das árvores, e, aí, devoram tudo. Quando pegam, eles devoram tudo, com osso e tudo. O ritual da divisão da caça reúne os chimpanzés em grandes grupos, às vezes, e por períodos mais prolongados. Essas ocasiões é que servem pra estreitar as interações sociais dos chimpanzés. A carne de forma ritual também é uma característica comum com os seres humanos. Quando eles conseguem carne, eles costumam dividir entre os caçadores, e, se um deles miguela a carne, na hora que caça, dos outros, ele é excluído, a próxima vez que eles forem caçar, eles não distribuem carne pra aquele que escondeu na caça anterior, né.

Os chimpanzés constroem instrumentos, né, os orangotangos também, até os gorilas também constroem. E os chimpanzés constroem estiletes de madeira, que eles esculpem com os dentes pra conseguir chegar dentro das árvores e coletar insetos, formigas etc., né, os gorilas não têm essa capacidade. A vida em grupo traz uma grande vantagem pros chimpanzés, que é a defesa contra os predadores, a produção de fontes de alimentos e a possibilidade de comportamentos cooperativos, como esse que eu falei da caça.

Eles são muito políticos, por quê? Os orangotangos machos alfa são muito fortes, os gorilas nem se fala, chegam aos 200 quilos. O chimpanzé, não, o poder do chimpanzé não está naquele mais forte, está naquele capaz de formar coalizões mais fortes. Então, você tem o chimpanzé que consegue reunir o grupo mais forte em torno dele, ele é o macho alfa. O beta, que dizer, o segundo na hierarquia não conseguiu reunir tanta gente. E o macho alfa, nas discussões, nas brigas internas, nunca fica do lado do macho beta, ele fica do lado dos outros. Se tem uma briga entre o beta e um mais fraco, ele nunca vai do lado do beta, ele vai do lado do mais fraco, porque, aí, se espalha a fama dele de que defende os mais fracos da agressão dos mais fortes e, com isso, ele fortalece a posição política dele.

Quando morre um chimpanzé alfa, não, o chefe do grupo todo, e tem três ou quatro ali disputando essa posição de poder, é muito frequente – isso tá bem documentado –, um deles sobe numa árvore cheia de frutas e começa a jogar as frutas pro bando que tá embaixo. Se ele for escolhido como o chefe do grupo, ele nunca mais repete esse comportamento. A disputa política leva à demagogia pura mesmo, né.

E, depois, vêm os bonobos. Os bonobos são muito curiosos porque, até os anos 30, 40, eles não eram reconhecidos como espécie, eles eram classificados como chimpanzés mesmo. E, na verdade, eles não são iguais, são bastante diferentes dos chimpanzés. A organização social é diferente, o comportamento é diferente também. Os bonobos formam sociedades em que os machos são desunidos e as fêmeas se unem. Então, é uma sociedade matriarcal. Quem manda na sociedade bonobo são as fêmeas e, como elas são muito unidas umas com as outras, as fêmeas não precisam da proteção dos machos. Então, o macho tem uma posição subalterna na sociedade de bonobos, ao contrário dos chimpanzés, onde eles têm a primazia total nas relações sociais, e os bonobos, não.

Os bonobos surgiram há três milhões de anos, com os chimpanzés. Eles são equidistantes dos homens, portanto, eles têm aí os mesmos 98% de identidade genética com a espécie humana, não é. Eles têm as pernas longas, têm os lábios vermelhos, eles têm na cabeça, assim, um pelo comprido repartido no meio, não é, e foram durante muito tempo chamados de chimpanzés pigmeus. O nome era inadequado, não é, porque o macho adulto pesa 43 quilos, em média, e a fêmea, 37, pesam até mais do que muitos chimpanzés, não é. E esse dimorfismo sexual é muito semelhante ao da espécie humana, em que a fêmea atinge 80 e poucos por cento do peso do macho contra 70 e poucos por cento no caso dos chimpanzés e menos de 50% nos gorilas e nos orangotangos. Toda vez que você tem um dimorfismo sexual acentuado é porque houve competição no decorrer da evolução.

No caso dos bonobos, a gravidez também dura os oito meses, em todos os grandes primatas, oito meses, no homem é que são nove meses, né. A mãe amamenta o filhote durante quatro anos e continua tomando conta dele por mais dois ou três anos. Nos bonobos, também acontece o que a gente chama de esterilidade da adolescência porque as fêmeas, quando entram na adolescência e chegam nas fases em que elas começam a ovular, o que acontece aí a partir dos 13, 14 anos, acontece um inchaço nos genitais externos, e os machos ficam muito excitados quando passam por uma fêmea com essas características, né.

Os bonobos vivem aí também entre 40, 50 anos no máximo. A mortalidade infantil é alta, né, como é nos chimpanzés, nos gorilas e em todos, né. Eles andam de quatro também, mas com a coluna bem ereta, e, da mesma forma que os chimpanzés, a inteligência dos bonobos é surpreendente. Eles aprendem a se comunicar pela linguagem de sinais, fazem pose na frente do espelho e resolvem problemas mais complexos de causa e efeito, como os chimpanzés também, né.

Ao contrário dos chimpanzés, os bonobos se caracterizam pelo controle da agressividade. Os chimpanzés têm lutas terríveis uns com os outros. Nos bonobos, essas lutas corporais são mais raras e menos violentas e muito curiosamente a convivência pacífica é obtida através de estratégias sexuais. O comportamento sexual dos bonobos é único entre os primatas. Eles resolvem muitas situações através de atitudes sexuais, que são entre machos e fêmeas, entre fêmeas e fêmeas, e entre machos e machos. Tem fotografias bem documentadas, mostrando que uma briga é separada quando os machos esfregam o pênis endurecido, um pênis no pênis do outro ou as fêmeas que se relacionam. E os bonobos são os únicos animais que fazem sexo na posição humana, que é a chamada posição de missionário, né, com o macho por cima e a fêmea deitada de barriga pra cima. E são os únicos, os outros todos primatas fazem sexo na posição por trás. Muito bem.

Esses grupos que se formam e essas características vão dar origem a uma série de comportamentos que você vai se surpreender de como eles são semelhantes aos nossos.

Semanalmente estarei aqui para contar Outras Histórias. A trilha sonora foi feita pela In Sonoris e a produção é da Júpiter – Conteúdo em Movimento.

Veja também: Sociedade dos primatas – Parte 1 – Outras Histórias #70

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