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Otorrinolaringologia

Apneia do sono: CPAP é o tratamento mais indicado e pode ser fornecido pelo SUS

Publicado em 27/01/2025
Revisado em 27/01/2025

Distúrbio respiratório pode atrapalhar a qualidade de vida e aumentar o risco de doenças.

 

Imagine sentir um grande incômodo durante o sono devido ao ronco alto, ter pausas involuntárias na respiração, cansaço excessivo durante o dia e dificuldade para dormir bem. Todos esses sintomas afetam a energia e o humor e são comuns em pessoas que apresentam a chamada apneia do sono. 

“Trata-se de um distúrbio respiratório que causa paradas temporárias na respiração durante o sono devido à obstrução das vias aéreas superiores. Isso pode levar à queda de oxigênio e sono fragmentado, resultando em cansaço excessivo durante o dia e consequências para saúde em curto e médio prazos. O ronco é um alerta para esse distúrbio”, destaca a dra. Andrea Bacelar, neurologista, médica do sono e vice-presidente da Associação Brasileira do Sono do Rio de Janeiro (ABS-RJ).

Além disso, a apneia do sono provoca dificuldades de concentração e memória, dores de cabeça matinais, irritabilidade e mudanças de humor. Esses sintomas afetam a qualidade de vida e podem resultar em complicações de saúde a longo prazo.

 

Tipos de apneia do sono

A apneia do sono pode ser classificada em três tipos principais:

  • Apneia obstrutiva do sono: é a forma mais comum, ocorrendo quando há uma obstrução parcial ou completa das vias respiratórias na região da garganta. Fatores como sobrepeso, uso de sedativos, consumo de álcool e tabagismo podem aumentar o risco de desenvolvimento dessa condição;
  • Apneia central do sono: o cérebro não envia os sinais necessários para os músculos responsáveis pela respiração, o que causa interrupções na respiração. Esse tipo pode ser decorrente de problemas neurológicos, cardíacos ou genéticos;
  • Apneia mista do sono: combina sintomas e características tanto da apneia obstrutiva quanto da apneia central. 

 

Diagnóstico da apneia do sono

Ao perceber que os sintomas de apneia estão interferindo no sono e no dia a dia, é importante procurar um médico. 

“O diagnóstico da apneia obstrutiva do sono pode ser presumido pela entrevista clínica (anamnese) e pelo exame físico em consulta médica, e confirmado por exame complementar, que é a polissonografia”, explica o dr. Arthur Fernandes, médico de família e comunidade, diretor do departamento de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), que também atua na Unidade Básica de Saúde 5, localizada em Planaltina (DF).

A polissonografia é um exame que costuma ser realizado em um laboratório de sono, onde são monitorados atividade cerebral, movimentos oculares, respiração e batimentos cardíacos durante o sono.

O especialista destaca que também são avaliados fatores de risco como obesidade, idade avançada, gênero (a incidência de apneia é mais alta entre os homens), tabagismo e consumo de álcool. 

        Veja também: Dormir mal pode aumentar o risco de demência

 

Tratamento da apneia do sono

Atualmente, o tratamento mais recomendado para a apneia do sono é o uso do CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas, em tradução livre). Esse dispositivo fornece um fluxo constante de ar por meio de uma máscara, mantendo as vias respiratórias abertas durante o sono.

Entre outras opções de tratamento, dependendo do caso do paciente, destacam-se:

  • Dispositivos intraorais: alguns aparelhos mantêm as vias respiratórias desobstruídas durante o sono, como os avançadores mandibulares;
  • Fonoaudiologia: exercícios específicos podem ser indicados para fortalecer os músculos da garganta e melhorar a respiração noturna;
  • Cirurgia: em casos mais graves ou quando outros tratamentos não funcionam, o tratamento cirúrgico (como correções maxilofaciais, cirurgia para desvio de septo ou remoção das amígdalas e adenoides) pode ser necessário; 
  • Medicamentos: recentemente, a tizerpatida foi aprovada para tratar apneia do sono em pessoas com sobrepeso, mas medicamentos que ajudam a controlar sintomas associados, como depressão e insônia, também podem ser utilizados. 

 

Acesso do CPAP pelo SUS

No Sistema Único de Saúde (SUS), os estados geralmente são responsáveis por fornecer serviços de referência para o tratamento da apneia obstrutiva do sono, como ambulatórios especializados em medicina do sono. 

“Cada estado define, por meio de protocolo clínico, os critérios para o fornecimento do CPAP, que costumam incluir consulta com um pneumologista da rede SUS, prescrição médica com as especificações do aparelho (como fluxo de ar), laudo de polissonografia confirmando o diagnóstico, entre outros. Em alguns casos, os municípios também podem identificar a necessidade de CPAP e fornecer o aparelho como complemento ao atendimento municipal”, explica o dr. Fernandes.

Após reunir a documentação necessária, o paciente solicita o aparelho no setor responsável. O tempo de espera pode variar de acordo com a demanda, como o número de pacientes diagnosticados e as solicitações de CPAP. O processo de aquisição pode ser feito por licitação ou outros métodos, podendo levar alguns meses.

 

Impactos na qualidade de vida e complicações

A apneia do sono pode ter um impacto significativo na rotina da pessoa, afetando diversos aspectos de sua vida. 

“Pode causar cansaço excessivo, dificultando o desempenho durante o dia. Também afeta a concentração e memória, prejudicando tarefas no trabalho ou estudos. A falta de sono adequado pode gerar irritabilidade, mudanças de humor e até sintomas de depressão. Além disso, aumenta o risco de acidentes”, complementa a dra. Bacelar. 

Além disso, a apneia do sono não tratada pode trazer consequências graves à saúde, como:

  • Problemas cardiovasculares: a apneia está associada a um aumento do risco de hipertensão, ataques cardíacos, arritmias e insuficiência cardíaca;
  • Diabetes tipo 2: há uma ligação entre a apneia do sono e a resistência à insulina, que pode levar ao desenvolvimento de diabetes tipo 2;
  • Obesidade: o excesso de peso pode aumentar o risco de apneia, e a apneia pode dificultar a perda de peso;
  • Complicações neurológicas: a queda de oxigênio intermitente, durante a noite, pode levar a danos cerebrais, comprometendo a função cognitiva e aumentando o risco para acidentes vasculares cerebrais (AVC) e demências;
  • Problemas emocionais: a apneia do sono não tratada pode contribuir para irritabilidade, ansiedade e depressão;
  • Problemas de memória: o distúrbio prejudica a função cognitiva, levando a problemas de memória em longo prazo.

        Veja também: Por que as pessoas roncam?

 

Mudanças no dia a dia fazem a diferença

Os especialistas destacam que, em muitos casos, pequenas mudanças na rotina já diminuem os sintomas da apneia do sono e melhoram a qualidade de vida.  

Medidas como reduzir o peso, evitar o consumo de álcool e sedativos, além de parar de fumar, podem facilitar a respiração. Praticar atividades físicas e dormir de lado também são ações úteis. 

Além disso, estabelecer uma rotina regular de sono e evitar refeições pesadas antes de dormir pode melhorar a qualidade do descanso e diminuir a sonolência durante o dia. Essas mudanças, aliadas ao tratamento adequado, podem amenizar os sintomas da apneia.

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