Existem vários subtipos do câncer de pulmão, e alguns deles não têm relação direta com o fumo.
O câncer de pulmão, um dos tumores mais letais, é responsável por 18% de todas as mortes pela doença no mundo.
Enquanto o tabagismo é a causa de cerca de 85% dos diagnósticos desse tipo de câncer, como explicar o diagnóstico daqueles que nunca puseram um único cigarro na boca?
Primeiro é preciso lembrar que existem vários subtipos do câncer de pulmão, e alguns deles não têm relação direta com o tabagismo. Gás radônio (gás radioativo liberado do solo em regiões ricas em minério), fumo passivo e poluição são exemplos de outros fatores de risco.
O oncologista clínico do hospital A.C Camargo Câncer Center, dr. Heleno Carioca Freitas, explica que o câncer de pulmão é dividido entre os de pequenas células (CPPC) e os de não pequenas células (CPNPC).
“A grande maioria dos diagnósticos é de não pequenas células, e dentro dessa categoria de tumor existe o adenocarcinoma (que pode atingir fumantes e não fumantes), que representa 43,3% dos casos”, afirma o médico. “Apesar de o tabagismo ser o maior fator de risco para a doença, existem subtipos mais incidentes em não fumantes, como é o caso do adenocarcinoma com mutação no receptor EGFR7,” complementa.
Portanto, quando um paciente é diagnosticado com um adenocarcinoma, é necessário fazer uma análise molecular do tumor e solicitar pesquisa de alterações genômicas como EGFR, ALK, ROS1, BRAF, pois tais alterações vão direcionar o tipo de tratamento que aquele paciente deve receber.
Como a poluição contribui para o desenvolvimento do câncer?
A poluição ambiental, em especial nas grandes cidades como São Paulo, a quarta mais motorizada do país, foi incluída entre as principais causas do câncer de pulmão, segundo a Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Fizemos uma pesquisa que media o acúmulo de fuligem de carbono no pulmão de uma pessoa exposta ao trânsito diário de São Paulo. Só para ressaltar, essa fuligem possui componentes cancerígenos semelhantes aos do cigarro. Por meio de alguns cálculos conseguimos chegar à conclusão de que duas horas de trânsito equivalem a fumar dois cigarros por dia. Infelizmente, cada hora que passamos presos no trânsito corresponde a inalar um composto cancerígeno sem que isso tenha sido uma escolha. Portanto, um motorista preso no engarrafamento está mais exposto a poluentes do que um pedestre ou um ciclista”, alerta o prof. dr. Paulo Hilário Nascimento Saldiva, patologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Dr. Heleno, que tem acompanhado o congresso da Sociedade Europeia de Oncologia (Esmo) 2022, um dos congressos de oncologia mais importantes da Europa, destacou as pesquisas clínicas explicando o paralelo entre câncer de pulmão e poluição.
Uma das pesquisas evidenciava como a exposição a determinadas partículas no ar promove o crescimento de células nos pulmões que carregam mutações causadoras de câncer.
“Eles descobriram que os cânceres eram mais propensos a começar a partir de células portadoras de mutações, em comparação com os camundongos não expostos à poluição do ar. Não se entendia essa relação de causalidade, mas nesses casos é como se a poluição realmente fosse um gatilho. Entretanto, se não houvesse esse fator ambiental, talvez eles não desenvolvessem câncer.”
É importante destacar que tais mutações genéticas não têm correlação com fatores hereditários. “Ao longo da vida acumulamos mutações, sejam elas somáticas [que atingem células da pele, fígado, pulmão] ou germinativas [gametas]. Quando a mutação ocorre em alguma célula somática dizemos que houve mutação somática, pois ela não será transmitida aos descendentes, visto que somente 10% dos tumores têm caráter hereditário”, diz dr. Heleno.
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