Hábitos saudáveis, vacinação e diagnóstico precoce podem reduzir os riscos de um dos tipos de câncer mais graves da cabeça e pescoço.
O câncer de orofaringe é uma das formas mais comuns de câncer de cabeça e pescoço, afetando, principalmente, a parte intermediária da garganta. Essa região inclui estruturas importantes como as amídalas, a base da língua e o palato mole.
Embora seja mais comum em pessoas acima dos 50 anos com histórico de tabagismo e consumo de álcool, o câncer de orofaringe também está associado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV).
Essa é uma doença que, embora grave, pode ser enfrentada com medidas adequadas de prevenção e informação.
Causas do câncer de orofaringe
As causas do câncer de orofaringe estão relacionadas a fatores como tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção pelo HPV. Segundo o dr. Cheng Tzu Yen, líder do Núcleo de Tumores Torácicos e de Cabeça e Pescoço do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, tanto o consumo de tabaco quanto de bebida alcoólica, isoladamente, são fatores de risco importantes. Quando combinados, essa associação multiplica os riscos de desenvolver esse tipo de câncer.
O HPV, por sua vez, também é um fator a se considerar. O dr. Antonio Cavaleiro, coordenador médico do Centro de Oncologia do Hospital Santa Catarina, também em São Paulo, explica que o papilomavírus humano, especialmente os tipos de alto risco como 16 e 18, podem infectar as células da orofaringe, alterando seu DNA e favorecendo o surgimento do câncer.
Outros fatores como histórico familiar do câncer e exposição prolongada a substâncias químicas nocivas (como solventes e poeiras), também desempenham papel no desenvolvimento da doença. Pessoas com predisposição genética podem ser mais vulneráveis, especialmente se combinarem esse fator com hábitos prejudiciais à saúde.
Além disso, a falta de cuidados regulares com a saúde bucal pode aumentar a exposição a infecções crônicas, que por sua vez, favorece o aparecimento de tumores.
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Principais sintomas do câncer de orofaringe
Os sintomas iniciais do câncer de orofaringe podem ser confundidos com condições mais corriqueiras, como infecções de garganta. “É importante que os pacientes reconheçam e não ignorem os sinais e sintomas persistentes (mais de 3 semanas), como: dificuldade ou dor para engolir, crescimento de nódulos no pescoço, dor de ouvido, manchas na boca que não cicatrizam e perda de peso inexplicada”, explica o dr. Cheng.
“Uma dor de garganta que não melhora com medicamentos, dificuldade para engolir e a presença de nódulos no pescoço são sinais de alerta. Caso esses sintomas durem mais de duas semanas, é essencial procurar um médico”, complementa o dr. Antonio.
Outros sintomas menos comuns podem incluir alterações na voz, sensação de corpo estranho na garganta e sangramento inexplicável na boca ou garganta. Em estágios avançados, a doença pode causar dificuldade respiratória e dor irradiada para outras áreas da cabeça e pescoço. A observação cuidadosa de alterações no corpo é crucial, já que muitos pacientes só buscam ajuda médica em estágios mais avançados da doença, o que dificulta o tratamento e reduz as chances de cura.
É possível prevenir a doença?
A prevenção do câncer de orofaringe passa por evitar fatores de risco e adotar hábitos saudáveis:
- Abandono do tabagismo e do álcool: esses são os principais passos para reduzir o risco. Programas de apoio ao abandono da adição, como terapia comportamental e medicamentos, podem ser aliados importantes para pessoas que enfrentam dificuldades nesse processo;
- Vacinação contra o HPV: indicada, principalmente, para meninas e meninos de 9 a 14 anos, a vacinação é uma ferramenta importante para prevenir infecções que podem evoluir para o câncer. Se você passou dessa idade, converse com o médico para entender as vantagens de se vacinar (para outras faixas etárias, a vacina está disponível apenas no sistema de saúde privado). Mesmo que você já tenha tido contato com algum tipo de HPV, a vacinação pode ajudar na prevenção dos demais tipos;
- Higiene oral: boa saúde bucal também é essencial para prevenir a doença. Visitas regulares ao dentista podem identificar lesões suspeitas precocemente, além de garantir a manutenção da saúde da boca e da garganta como um todo;
- Exames preventivos: para pessoas com histórico familiar ou fatores de risco elevados, exames periódicos são recomendados. Centros especializados podem oferecer exames detalhados para detecção precoce;
- Alimentação balanceada e exercícios físicos: estilos de vida saudáveis ajudam a fortalecer o sistema imunológico, tornando o corpo mais resistente a infecções e ao desenvolvimento de tumores.
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“Estou com sintomas. Qual o primeiro passo?”
Ter atenção e conhecimento do próprio corpo é essencial na hora de reconhecer os sinais e procurar ajuda. Por isso, ao identificar algo diferente, não espere pela piora dos sintomas e busque auxílio médico. Um clínico geral, por exemplo, pode ajudar na investigação dos sinais clínicos para encaminhar o paciente ao especialista mais adequado.
O câncer de orofaringe frequentemente se manifesta de forma silenciosa nos estágios iniciais, tornando o tempo um grande aliado no prognóstico favorável.
Diagnóstico precoce é essencial
O diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de cura. “Tumores diagnosticados em estágios iniciais têm uma taxa de cura superior a 90%”, afirma o dr. Antonio. O dr. Cheng complementa que quanto mais cedo o câncer é detectado, menores são os riscos de metástase e mais conservadores podem ser os tratamentos.
Os métodos de diagnóstico incluem exames clínicos, biópsia de lesão suspeita, tomografia computadorizada e ressonância magnética. O avanço tecnológico também possibilita o uso de testes moleculares para identificar alterações genéticas associadas ao câncer. A implementação de ferramentas de inteligência artificial no diagnóstico tem mostrado potencial para aumentar a precisão e rapidez na identificação de tumores, facilitando o planejamento terapêutico.
Além disso, centros especializados têm investido em programas de rastreamento populacional, que identificam precocemente indivíduos em risco, como regiões que possuem um alto número de pessoas fumantes e aquelas com baixa cobertura vacinal contra o HPV. O envolvimento de profissionais da saúde em campanhas de conscientização e triagem ajuda na oferta de tratamentos mais eficazes e menos invasivos.
“Consultas regulares com um oncologista para avaliação clínica e exames de imagem também são recomendadas para detectar precocemente qualquer alteração que possa indicar o início do câncer”, orienta o dr. Antonio.
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