29% dos pacientes com degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EDM) abandonam o tratamento pelo menos uma vez. Entenda o que pode estar dificultando a adesão.
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EDM) são as principais causas de perda de visão irreversível entre pessoas acima de 55 anos. Mas quase 30% delas abandonam o tratamento. Um dos motivos é a necessidade de idas frequentes ao centro médico para receber a medicação.
Como é o tratamento para DMRI e edema macular diabético?
Tanto a DMRI quando o edema macular diabético são doenças crônicas que afetam a mácula, área central da retina responsável pela nitidez da visão. O comprometimento dessa área prejudica a realização de atividades simples, como ler, dirigir ou fazer compras, e pode até levar à cegueira.
A principal forma de tratamento para as duas doenças são as injeções intravítreas. Elas consistem na aplicação de medicamentos diretamente no vítreo, substância que preenche o interior do olho. Eles bloqueiam a ação do VEGF (fator de crescimento do endotélio vascular), proteína que, em excesso, estimula o crescimento de vasos sanguíneos anormais e provoca lesões na retina.
No início do tratamento para DMRI do tipo úmida, a forma mais grave da doença, recomenda-se uma dose de ataque de três a quatro injeções mensais. No caso do edema macular, podem ser até cinco injeções mensais iniciais. A partir daí, a frequência das injeções irá depender da gravidade da doença e elas só podem ser realizadas em ambiente ambulatorial. A orientação médica especializada é essencial para estabelecer a frequência e o tipo de aplicação conforme as necessidades de cada paciente.
Muitos pacientes abandonam o tratamento pelo menos uma vez
Essa frequência de aplicações é um grande empecilho para a adesão ao tratamento. Segundo pesquisa da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC), da ONG Retina Brasil e da Roche Farma Brasil, entre 155 pacientes de todo o Brasil com doenças oculares graves, 29% já desistiram do tratamento alguma vez e 45% afirmaram ter grave perda de visão.
Entre os motivos citados, estão o alto custo do tratamento na rede privada, a demora para conseguir acesso à medicação no Sistema Único de Saúde (SUS) e a dificuldade de chegar aos centros de aplicação. De acordo com relatos dos entrevistados, em muitos casos, a doença já estava tão avançada que o próprio médico afirmou que não adiantaria mais tratar.
“A retina não regenera. Os fotorreceptores são neurônios que não vão voltar se a gente perder. Se eles estiverem em sofrimento, a medicação vai tratar e vai melhorar. Mas se passar muito tempo, vai levar a uma atrofia. E a atrofia não tem o que fazer. Não tem como criar aquele tecido de novo”, explicou a oftalmologista Patricia Kakizaki, especialista em retina clínica e cirúrgica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), durante o evento Abril Marrom promovido pela Roche Farma Brasil.
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Alternativas para o tratamento
No SUS, a dificuldade de acesso e a demora para conseguir uma consulta com o oftalmologista são as principais reclamações. Especialistas apontam ainda a desorganização da rede: mesmo quando o paciente consegue a aplicação, pode ser que aquele centro em específico não tenha estoques do medicamento. Isso dificulta a adesão ao tratamento, que já exige do paciente o deslocamento até o local de aplicação.
Apesar das iniciativas serem raras, algumas prefeituras oferecem transporte. O Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), lançado pelo Ministério da Saúde em 2024, também tem auxiliado a agilizar esse atendimento.
“Hoje, estamos acompanhando o desenvolvimento de inovações capazes de impedir a progressão dessas doenças, estabilizando ou muitas vezes até melhorando a visão dos pacientes, além de proporcionar mais comodidade, diminuindo a frequência do tratamento e a necessidade de deslocamento até os consultórios e as clínicas”, detalha a especialista.
Uma delas é a tecnologia desenvolvida pela Roche e Genentech, um pequeno reservatório implantado na esclera — a parte branca do olho — que libera, de forma contínua e controlada, uma medicação no interior do olho. A tecnologia, chamada Susvimo, utiliza uma formulação específica e mais concentrada do ranibizumabe, diferente da disponível atualmente no mercado brasileiro. O dispositivo reduz a necessidade de reabastecimento para intervalos de seis meses ou mais. Aprovado pelo FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, em 2021, o implante ainda não está disponível no Brasil.
Por outro lado, existem dois medicamentos recentes liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que visam diminuir a frequência das injeções. Após algumas doses iniciais, a frequência máxima de administração do brolucizumabe pode ser a cada 12 semanas e o faricimabe, a cada 16 semanas, dependendo da resposta do paciente. Além disso, para um futuro próximo, cientistas estudam o desenvolvimento de terapias gênicas para o tratamento da DMRI e do edema macular diabético.
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