Manchas que parecem flutuar nos olhos são comuns com o envelhecimento, mas em alguns casos requerem atenção médica. Entenda.
As moscas volantes ou miopsias (termo científico) são pequenas manchas que surgem no campo de visão, e se movimentam conforme os olhos se deslocam para diferentes direções.
Podem durar desde algumas semanas ou meses até vários anos, dependendo do indivíduo e da causa. Elas se formam no vítreo – uma substância gelatinosa que preenche a parte interna do olho. Com o tempo, esse gel perde sua densidade por ser composto principalmente por colágeno.
À medida que o colágeno se degrada, o vítreo deixa de ser uniforme e passa a apresentar regiões mais líquidas e outras mais densas. Essa alteração provoca a sensação de que há algo flutuando na visão – como mosquitinhos pretos ou formas acinzentadas e translúcidas em movimento. Por isso, também são conhecidas pelo termo em inglês floaters, que significa “flutuantes”.
Na maioria dos casos, esses sintomas são benignos e não significam doenças graves. “São basicamente parte do envelhecimento. Os pacientes com mais miopia costumam ter mais mosca volante, mas, por exemplo, elas também podem acontecer depois de uma pancada nos olhos, depois de algumas inflamações e infecções nessa região”, explica o dr. Aníbal Mutti, oftalmologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
O médico destaca que pacientes que tiveram toxoplasmose e comprometeram a retina podem apresentar moscas volantes por mais tempo. “Se houver uma nova crise da infecção, os sintomas podem reaparecer ou se intensificar, dependendo do quanto a retina for comprometida”, diz Mutti.
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Quando é preciso se preocupar?
Em geral, as moscas volantes não mudam de forma nem de quantidade ao longo do tempo e não vêm acompanhadas de outros sintomas – o que indicam que são alterações fisiológicas comuns, sem risco à saúde ocular.
“Geralmente, a pessoa nota essas manchas com mais clareza ao olhar para superfícies claras, como uma parede branca, mas no dia a dia elas passam despercebidas”, explica o dr. Mutti.
O alerta se acende quando há aumento no número ou tamanho das manchas, flashes luminosos (fotopsias), dor nos olhos ou embaçamento da visão. Nesses casos, é importante buscar atendimento oftalmológico com urgência.
Pacientes com histórico de uveítes (inflamações intraoculares) também têm mais risco de desenvolver essas opacidades, já que o vítreo deixa de ser totalmente transparente e apresenta pontos mais densos, percebidos como manchas móveis na visão.
Além disso, em alguns casos, o vítreo pode se descolar da retina e puxá-la, causando rasgos e, se não tratado, até um descolamento da retina. “Na verdade, isso é a minoria dos casos, mas quase todo descolamento de retina começa com mosca volante, por isso que ao perceber esse sintoma, o médico oftalmologista deve ser prontamente procurado”, pondera o dr. Diego Monteiro Verginassi, oftalmologista do hospital Albert Einstein, também na capital paulista.
É possível prevenir?
Embora sejam comuns com o avanço da idade, algumas atitudes podem ajudar a reduzir o risco de surgimento ou agravamento das moscas volantes. Manter a saúde em dia é essencial. Doenças como hipertensão desregulada, diabetes sem controle e inflamações sistêmicas podem favorecer alterações no vítreo.
“Evitar pancadas nos olhos, não coçar com força e não usar colírios sem indicação médica também são formas importantes de prevenção”, afirma o dr. Mutti. Segundo ele, infecções como a sífilis podem causar inflamações intraoculares e, com isso, levar à formação de opacidades no vítreo. Essas alterações fazem sombra na retina e, por isso, são percebidas como manchas escuras que se movem com os olhos.
Em casos mais graves, as moscas volantes podem ser consequência de sangramentos dentro do olho, como em pacientes diabéticos, ou do descolamento do vítreo posterior – processo natural do envelhecimento que, se tracionar a retina, pode causar rompimentos e até levar a um descolamento de retina.
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Como é feito o tratamento?
Segundo o dr. Verginassi, os sintomas geralmente desaparecem sozinhos e o paciente se adapta. “A grande maioria tolera bem e não precisa de tratamento. Só em casos muito densos e persistentes se considera a vitrectomia, uma cirurgia que retira o vítreo do olho, mas ela é indicada para situações específicas, após um período de espera”, afirma o oftalmologista. Esse procedimento, porém, é indicado apenas quando há impacto significativo na qualidade de vida do paciente.
Quando há uma causa definida, como diabetes, traumas ou inflamações, o tratamento deve focar na condição de base. “No caso do diabetes, por exemplo, pode ser necessário cauterizar os vasos que sangram com laser ou aplicar medicamentos diretamente no olho”, conclui o dr. Mutti.