O que é a síndrome de Marcus Gunn?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Oftalmologia

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Publicado em: 29 de novembro de 2023

Revisado em: 29 de novembro de 2023

Condição que afeta a conexão entre olhos e mandíbula não tem cura, mas sintomas e tratamentos não devem ser ignorados.

A sincinesia trigêmino-oculomotora, conhecida como síndrome de Marcus Gunn ou ainda como “fenômeno do olho piscante”, é uma condição rara que afeta os nervos responsáveis pelos movimentos da mandíbula e dos olhos. Ela é caracterizada por uma resposta anormal do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face e do nervo motor ocular externo, que controla os músculos que movem os olhos.

Quando uma pessoa com a síndrome abre a boca ou mastiga, por exemplo, o olho afetado pela condição geralmente apresenta uma contração da pupila, ajudando no diagnóstico precoce do fenômeno.

“A síndrome de Marcus Gunn é uma sequência geralmente coordenada e é muito notada precocemente pelos pais em movimentos do dia a dia, como no simples amamentar. A partir da descoberta dessa condição, é de suma importância o segmento com o oftalmologista, e dependendo do grau do estágio do acometimento, a gente envolve também avaliações multidisciplinares com o neurologista e também o psicólogo”, explica o dr. Thiago Góes, médico oftalmologista especialista em plástica ocular, blefaroplastia, pterígio e catarata.

A condição é predominantemente congênita, ou seja, pode ser hereditária ou resultar do desenvolvimento embrionário anormal presente desde o nascimento. Não é comum que ela se desenvolva ao longo da vida, mas em casos ainda mais raros, pode ser adquirida devido a lesões ou distúrbios neurológicos.

Os principais sintomas da síndrome de Marcus Gunn podem variar de acordo com a gravidade. Em alguns indivíduos a síndrome pode manifestar-se de forma leve com sintomas sutis, enquanto em outros, pode haver uma manifestação mais intensificada. Além disso, algumas pessoas podem apresentar dificuldades na movimentação da mandíbula ou outros sinais neurológicos associados aos nervos cranianos afetados.

O dr. Thiago acrescenta que existem comorbidades associadas à síndrome que também precisam de atenção. “Esse distúrbio é responsável por 2% a 13% dos casos de ptose congênita, que é o caimento da pálpebra e que envolve níveis de caimento, comprometendo o eixo visual e causando obstruções na visão.”

Além disso, existe uma preocupação relacionada às crianças em fase de alfabetização, pois o aprendizado pode ser prejudicado por essas alterações secundárias derivadas da síndrome que podem impactar diretamente o desenvolvimento intelectual.

        Veja também: Como saber se algo não vai bem com os olhos do bebê

“Entre as alterações está a ambliopia, famosa pela expressão “olho preguiçoso”, em que o olho que sofreu maior comprometimento palpebral não desenvolve visão. E também em alguns casos temos a anisometropia, que apresenta diferença significativa da performance visual de um olho em relação ao outro, que pode acontecer concomitante a ambliopia, além também do estrabismo”, alerta o oftalmologista.

Portanto é importante que pais e cuidadores não ignorem nenhum sintoma, pois o diagnóstico precoce pode poupar as crianças de problemas futuros relacionados ao desenvolvimento cognitivo, à prevenção de comorbidades associadas e ao bullying.

O diagnóstico é geralmente realizado por oftalmologistas e neurologistas com base na observação dos sintomas clínicos, e quanto mais cedo procurar ajuda, melhor. Testes específicos, como a avaliação do reflexo pupilar durante o movimento da mandíbula, são realizados para confirmar o diagnóstico. Mas exames de imagem, como ressonância magnética, podem ser solicitados para analisar a anatomia dos nervos do paciente.

Não existe cura definitiva para a condição, mas as intervenções visam melhorar a qualidade de vida do paciente. O plano de tratamento é individualizado e depende da gravidade dos sintomas.

Em casos mais leves pode não ser necessário nenhum tratamento específico, enquanto em outros pode haver necessidade de correção cirúrgica funcional e estética, a depender da realidade do indivíduo. O dr. Thiago explica: “hoje, com o bullying, a gente sempre fica bastante preocupado em desenvolver uma condição anatômica muito próxima da normalidade, para que ela [a criança] não carregue estigmas sociais”.

Em casos em que não seja necessária cirurgia, o oftalmologista acrescenta que “existem óculos específicos com uma graduação que às vezes é diferente de um olho para outro ou a indicação de uso de tampões”.

Na identificação de sintomas é indicado procurar ajuda especializada, pois o acompanhamento médico regular é essencial para monitorar o desenvolvimento e ajustar as estratégias de tratamento que contribuam para o bem-estar de quem vive com a condição.

 

Sobre a autora: Gabriella Zavarizzi é jornalista especializada em conteúdos digitais. Tem interesse em assuntos relacionados a neurociências, saúde mental, autismo, TDAH e primeira infância.

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