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Como deve ser o cuidado bucal de pacientes com necessidades especiais?

menina com síndrome de down sorri. O cuidado bucal de pacientes com necessidades especiais pode evitar o surgimento de doenças mais graves. 
Publicado em 03/05/2023
Revisado em 01/11/2024

O cuidado bucal de pacientes com necessidades especiais pode evitar o surgimento de doenças mais graves. 

 

Manter a boca limpa e longe de bactérias ajuda a evitar cáries, gengivites e outras doenças mais graves, como o câncer. Pessoas com necessidades especiais e acamadas, no entanto, muitas vezes não conseguem realizar adequadamente a limpeza da boca e dos dentes, seja por causa das limitações ou mesmo por falta de capacitação básica dos cuidadores.  

Uma revisão publicada na revista “Nature” em 2020, baseada em 33 artigos divulgados entre 2008 e 2018, mostrou que pessoas com dificuldades intelectuais, por exemplo, têm maior prevalência de cáries, periodontite (inflamação que compromete os tecidos ao redor do dente) e edentulismo (perda de parcial ou total dos dentes) do que o restante da população. Quase todos os estudos analisados relataram baixos níveis de higiene bucal e saúde gengival nos grupos investigados.

“A importância da saúde bucal em pacientes com necessidades especiais gira em torno da mesma importância de pacientes hígidos (sem limitações). Porém, as pessoas com limitações têm um agravo porque a maioria delas tem um problema sistêmico (que afeta todo o corpo), e hoje em dia é sabido que focos de infecção na boca, como cáries e abcessos, são portas de entrada para bactérias, que podem piorar e agravar o caso da condição sistêmica”, disse Marcus Bueno, cirurgião-dentista especialista em pacientes com necessidades especiais e Odontologia Hospitalar.

Na odontologia, segundo o Guia de Atenção Básica à Saúde Bucal da Pessoa com Deficiência, do Ministério da Saúde, indivíduos com deficiência não são apenas aqueles com limitações físicas ou mentais, mas também os que apresentam condições temporárias ou permanentes que o impedem de ter o atendimento convencional no consultório do dentista. 

 

Atendimento especializado

O tipo de assistência odontológica dada a cada paciente vai depender da condição e da gravidade. No geral, o atendimento é acompanhado por técnicas de manejo de comportamento, orientação comunicativa, criação de vínculos e comunicação não verbal, segundo a cartilha do governo federal.

Pacientes com transtorno do espectro autista (TEA), condição associada a perturbações do desenvolvimento neurológico, por exemplo, podem ser mais relutantes em relação à higiene bucal, dependendo do grau do transtorno. Por causa disso, os cuidadores, que muitas vezes são uma mãe ou um pai, podem não conseguir fazer a higiene correta.

“Por isso, é importante a visita regular ao dentista de seis em seis meses para que o indivíduo tenha uma saúde bucal adequada. Além disso, essa ida constante ao profissional da saúde especializado em odontologia evita que esses pacientes desenvolvam quadros de cáries e outras doenças infecciosas na boca”, falou Bueno. 

Em pacientes com problema nas válvulas do coração, ou que tiveram febre reumática na infância, bactérias da boca podem cair na corrente sanguínea e se alojar no coração, ocasionando uma doença grave chamada endocardite infecciosa, explicou Bueno. A falta de higiene bucal neles, portanto, teria um grande impacto na saúde. 

“O paciente cardiopata (termo genérico para se referir às doenças do coração), que pode não ter nenhum transtorno cognitivo, teoricamente poderia fazer a higiene dele sozinho sem comprometimento nenhum. Mas, se eu perceber em uma consulta que ele não é muito assíduo na higiene bucal, e sempre retorna ao consultório com muito tártaro, cálculo e placa de sujeira bucal, o correto seria reduzir esse tempo de consulta a cada quatro meses”, falou.

Pacientes com síndrome de down, alteração genética causada por uma alteração cromossômica, além de ter limitações cognitivas, também desenvolvem problemas no coração. Portanto, a atenção a eles deve ser redobrada, segundo Bueno, pois esses casos juntam as duas características vistas em pacientes autistas e cardiopatas. O ideal, segundo o especialista, é que a visita ao dentista ocorra a quatro meses. 

Veja também: Como é a vida de um adulto com síndrome de Down?

 

Pacientes acamados

Algumas limitações podem fazer o paciente ficar acamado. Outras pessoas também podem morar em locais distantes, longe de consultórios odontológicos. Nesses casos, o dentista pode ir até o local para realizar o atendimento, munido de equipamentos e a iluminação necessária, simulando a cadeira do dentista.

É possível realizar diversos tipos de tratamentos, segundo Marcus. Normalmente, os atendimentos feitos são remoções de cáries e restaurações, limpeza para remoção de cálculo, extrações e tratamento de canal

Nas visitas domiciliares, ou mesmo no consultório, os dentistas costumam dar aulas sobre os cuidados bucais para os cuidadores, que geralmente são pais e mães. Eles dão dicas sobre como deve ser feita a higienização corretora e ensinam técnicas gerais sobre o processo.

“Muitos cuidadores sabem bastante a respeito da saúde geral desses pacientes, mas a saúde bucal, por ser algo popularmente negligenciado, eles acabam deixando de lado, e fazem a escovação que dá, e não têm tanto conhecimento da importância que uma boa saúde bucal promove para os pacientes com necessidades especiais”, explicou. 

 

Quimioterapia e saúde bucal

As pessoas com limitações, assim como qualquer outra, também estão suscetíveis ao câncer, e podem precisar passar por tratamentos específicos para tratar a doença, como a quimioterapia. O procedimento, no entanto, tem um efeito colateral chamado mucosite oral, que é a inflamação da mucosa oral. O indivíduo acometido desenvolve lesões na boca, semelhantes a aftas, que doem muito.

“Com o paciente em quimioterapia geralmente buscamos fazer um tratamento com aplicação de laser, chamado fotobiomodulação, em toda região da bochecha, língua, céu da boca e gengiva, associado com tratamento odontológico. O objetivo é deixar ele ou ela em condições perfeitas para não ter nenhuma bactéria que possa prejudicar a quimioterapia.”

O ideal é começar o tratamento antes do início da quimioterapia. O procedimento, no entanto, também pode ser aplicado em indivíduos que já iniciaram o processo. Além da fotobiomodulação, segundo Marcus, também é possível lançar mão de um elixir de bochecho de corticoide para diminuir as lesões na boca.

Veja também: Você está escovando os dentes do jeito certo?

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