Tensão muscular, má postura e doenças mais graves podem afetar o pescoço e a saúde como um todo; veja recomendações para proteger essa região.
O pescoço, por vezes, é subestimado e visto apenas como um suporte para a cabeça. No entanto, a função dessa estrutura cilíndrica vai muito além: ela serve como passagem para vasos sanguíneos e nervos essenciais e protege outras partes importantes do organismo, como traqueia, laringe e coluna cervical.
Por isso, segundo especialistas, cuidar bem do pescoço é essencial. Afinal, lesões nessa região podem gerar uma série de problemas de saúde, como dores de cabeça, tontura, alterações respiratórias, complicações neurológicas e até mesmo paralisias.
“A região do pescoço é extremamente importante no corpo humano. Por ela passam estruturas extremamente delicadas de conexão, muitas vezes do cérebro com os membros e tronco e também da face com o restante do corpo”, explica o neurocirurgião funcional Maurício Marchiori, que trabalha em uma série de instituições de saúde, como Hospital São Paulo e Hospital Beneficência Portuguesa, ambos na capital paulista.
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Principais problemas do pescoço
O pescoço, assim como o restante do corpo, pode ser acometido por uma série de problemas. Um deles é a tensão muscular, caracterizada pelo enrijecimento ou contração involuntária dos músculos da região cervical, que vai da base do crânio até a parte superior do tronco.
Na região cervical, formada por sete vértebras, outros problemas comuns são dor crônica, desgaste, hérnia de disco, artroses facetárias, compressões da medula e até tumores.
Queixas recorrentes nos consultórios, segundo o dr. Maurício, também envolvem problemas na tireoide, como nódulos, doenças e cistos, e nas artérias – principalmente nas carótidas e nas artérias vertebrais –, o que “denota então problemas de vascularização que chegam ao cérebro, podendo resultar em eventos isquêmicos e síncopes”, diz o especialista.
O que pode prejudicar o pescoço?
A tensão muscular no pescoço, um dos problemas mais comuns, pode estar relacionada a diversas atividades rotineiras, como o uso de aparelhos eletrônicos com postura inadequada e até dormir em posições incorretas, segundo a dra. Adriana Banzzatto Ortega, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR).
“A posição em que ficamos ao usar o computador – sentados na cadeira, com as mãos nem sempre bem alinhadas – e o uso constante do celular, olhando para baixo, fazem parte do dia a dia de praticamente todo mundo. Passar muito tempo nessa postura pode desalinhar a musculatura do pescoço, o que acaba gerando dor”, elucida a médica.
Ela também destaca a importância da posição ao dormir. “A questão dos travesseiros é fundamental. Durante o sono, mesmo que a gente se mexa, acaba permanecendo pelo menos uma hora ou uma hora e meia em uma mesma posição. Se essa posição não estiver adequada, pode gerar tensão, desconforto e dor no dia seguinte.”
Atividades que envolvem hiperflexão (quando a cabeça se dobra excessivamente para frente) e hiperextensão (movimento exagerado da cabeça para trás) ou rotações forçadas também podem prejudicar o pescoço, segundo o dr. Marchiori. Esses movimentos podem forçar estruturas da região cervical a assumirem uma posição irregular, levando a dificuldades funcionais.
“Alguns movimentos de hiper-rotação [rotação excessiva], como os que podem ser vistos em algumas atividades específicas, podem gerar problemas gravíssimos, como dissecção de artérias (rompimento parcial da parede de uma artéria) e a subluxação da articulação cervical (desalinhamento parcial entre as vértebras do pescoço), que pode gerar um problema de artrose (desgaste da articulação) após um certo tempo”, disse.
Outras doenças do pescoço, como na tireoide ou hérnia de disco, têm origens diversas e devem ser tratados por especialistas adequados.
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Pescoço e saúde cerebral
Há uma relação entre os problemas cervicais e a saúde cerebral, segundo a dra. Adriana. “Existe, é algo interligado. Temos vasos que vão para dentro da nossa cabeça, como as carótidas. Com o envelhecimento, pode ocorrer aterosclerose, que são placas endurecidas dentro desses vasos. Quando há placas ateroscleróticas nas carótidas, a circulação para o cérebro diminui, o que reduz a oxigenação e pode, de fato, causar problemas encefálicos. Em casos mais graves, pode até levar a um AVC”, afirma.
A médica também conta que alterações na postura da cabeça ou problemas no pescoço podem impactar o desempenho cognitivo, especialmente em crianças. “A gente vê isso mais nas crianças, como em casos de torcicolo congênito, quando o bebê nasce com o pescoço em uma posição incorreta. Essa condição pode causar dificuldades na interação social e no aprendizado, justamente por causa do posicionamento da cabeça. A inclinação constante pode levar a comprometimentos visuais, por exemplo.”
Segundo ela, quanto mais cedo o torcicolo congênito for identificado, melhor será a correção e a prevenção de consequências futuras. “Tem como detectar e resolver esse problema logo quando ele é identificado. Em algumas situações, é necessário fazer uma cirurgia para corrigir, porque às vezes a musculatura precisa ser solta para melhorar o posicionamento. Mas, muitas vezes, a fisioterapia é suficiente. O alongamento ajuda a soltar essas fibras musculares, deixando-as mais relaxadas e permitindo que o pescoço retorne à posição adequada”, comenta.
O tempo de tratamento varia, conforme explica a médica: “Depende muito do paciente. Em alguns casos, é algo mais demorado. Em outros, pode ser resolvido em algumas semanas.”
Câncer de pescoço
O pescoço também está suscetível ao câncer. O Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é um dos países com maior número de tumores nessa região. Entre eles estão os cânceres de boca, faringe, garganta e tireoide, entre outros.
“São vários os tipos de sintomas [que podem indicar algum câncer] porque a gente tem várias localizações. De modo geral, os sinais e sintomas estão relacionados a um sangramento, por exemplo em uma ferida que não cicatriza na boca. Muitas vezes a pessoa tem algo ali que ela acha que é uma afta que não cura, que pode ser um câncer, uma alteração de cor na mucosa”, esclarece o oncologista clínico Bruno Ribeiro Batista, do Centro de Oncologia do Paraná (COP).
O médico ressalta que qualquer sintoma deve ser investigado. Exames como inspeção clínica, laringoscopia, videolaringoscopia, tomografias e ultrassom – este último muito eficaz para lesões no pescoço – costumam ser indicados para diagnóstico.
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Como prevenir problemas
Segundo os especialistas consultados, cuidados simples podem prevenir problemas na região do pescoço, especialmente no caso da tensão muscular. Praticar atividade física regularmente, com atenção ao preparo muscular do pescoço, é essencial, assim como evitar posturas curvadas, comuns no uso prolongado de celulares. Manter o aparelho na altura dos olhos ajuda a reduzir impactos.
Para outras doenças que podem surgir no pescoço, as formas de prevenção variam conforme a enfermidade. Em relação ao câncer, o primeiro passo é evitar fatores de risco, principalmente o tabagismo e o consumo de álcool. Como o HPV também está relacionado a alguns tipos da doença, a vacinação contra o vírus que causa a infecção também é uma importante medida de prevenção.
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