Você já ouviu falar que o lóbulo frontal só termina de se desenvolver aos 25 anos? Quase como se, ao completar essa idade, a pessoa atingisse um grau de maturidade que não tinha antes — e agora pudesse ser realmente responsável por todas as suas ações.
Mesmo em tom de brincadeira, de acordo com a ciência, essa ideia tem fundamento.
O que é e para que serve o lóbulo frontal?
O que as pessoas chamam de “lóbulo frontal” é, na prática, o lobo frontal, um dos cinco lobos que compõem o cérebro. Ele fica na parte da frente da cabeça e é responsável por funções executivas, como planejamento, resolução de problemas e tomada de decisões.
O lobo frontal é composto por várias estruturas, como o giro pré-central, responsável pelos movimentos; o giro frontal inferior, responsável pela linguagem; o cíngulo anterior, responsável pela iniciativa; entre outras. Existem ainda áreas mais ligadas ao comportamento, à socialização, ao raciocínio e ao julgamento social.
Cada uma delas se desenvolve no seu próprio tempo. O córtex visual, o auditivo e o circuito límbico, que não fazem parte do lobo frontal mas se comunicam diretamente com ele, estão relacionados às memórias e se desenvolvem quando ainda somos crianças. Por isso, conseguimos enxergar, ouvir e construir lembranças desde pequenos.
Mas, quando falamos de amadurecimento, estamos nos referindo especificamente à região do córtex pré-frontal anterior. E ela realmente demora mais para chegar a sua formação completa.
“É muito interessante, porque se você parar para pensar, o adolescente, em geral, já têm comportamentos e até algumas responsabilidades de adulto, mas não reage da mesma forma. Muitas vezes, o adolescente é mais impulsivo, não planeja muito bem o que vai fazer, não reflete antes de tomar determinadas atitudes. Por isso, essa fase é tão vulnerável. Quase todas as regiões do cérebro já estão maduras, mas essa parte ainda não”, explica Raphael Spera, neurologista e membro do Departamento Científico e da Comissão de Comunicação da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
Processo de maturidade do cérebro
Esse assunto começou a ser muito discutido a partir da década de 1990, especialmente depois que o exame de ressonância magnética passou a ser usado clinicamente. Ele permite medir o volume das estruturas, bem como a quantidade de substância branca e cinzenta, a mielinização e a densidade axonal. Todos esses critérios mostram o quanto cada área cerebral está amadurecida.
Outra condição analisada é a conectividade entre elas, pois existem circuitos específicos de conexões relacionados a capacidades como o pensamento, o raciocínio e o julgamento. Muitas das conexões que não são utilizadas vão sendo eliminadas, enquanto outras se fortalecem. E essa “poda” começa desde cedo, mas acontece de forma mais intensa na adolescência e no início da vida adulta.
“Existem estudos que analisaram grupos populacionais em diferentes idades — 10, 20, 30, 40, 50, 60 anos — e compararam os cérebros. Esses trabalhos mostraram que a região frontal atinge sua maturidade por volta dos 25 anos. Esse dado é legitimado pelos exames de neuroimagem”, detalha o neurologista.
Fatores que podem afetar o amadurecimento do lobo frontal
Algumas condições podem afetar esse processo de amadurecimento, como a esquizofrenia e o transtorno afetivo bipolar. As doenças neurodegenerativas também entram nesse grupo, especialmente a demência frontotemporal. Nesse caso, os impactos cognitivos são tardios, mas bastante relevantes. Outro fator é o uso de entorpecentes, principalmente a cannabis.
“Por isso, sempre que se discute a legalização da cannabis, é enfatizado que adolescentes não devem estar incluídos, já que nessa fase existe maior vulnerabilidade”, destaca o dr. Raphael.
Curiosamente, os estudos sugerem ainda que o amadurecimento do lobo frontal seja mais precoce em mulheres do que em homens. As amostras, no entanto, são pequenas e não há como afirmar com certeza absoluta. As teorias acreditam que essa possível tendência tenha a ver com o sistema endócrino e os hormônios femininos.
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