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“Protocolo super bebê” não tem comprovação científica e oferece riscos à saúde materna e fetal

Publicado em 23/07/2025
Revisado em 22/07/2025

Protocolo que circula nas redes sociais não possui respaldo científico e ainda oferece riscos à saúde das gestantes e bebês. Conheça as recomendações adequadas para o pré-natal 

O chamado “protocolo super bebê” propõe a aplicação de vitaminas e aminoácidos em mulheres grávidas com o objetivo de melhorar o desenvolvimento fetal — com promessas que incluem aumento de QI e fortalecimento imunológico do bebê. A prática tem circulado nas redes sociais, mas entidades de saúde alertam para a falta de evidência científica e os riscos de seguir tal protocolo. 

O que dizem os órgãos de saúde? 

O Ministério da Saúde alertou, em publicação no Instagram, que não há comprovação científica quanto à eficácia ou segurança do protocolo, e que seu uso pode causar efeitos graves e até irreversíveis em crianças, e reforçou que a ciência recomenda para as gestantes acompanhamento pré-natal, vacinação em dia e alimentação equilibrada. 

A Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) informou, em nota, que as práticas não têm respaldo em evidências científicas robustas, nem estão incluídas em diretrizes clínicas reconhecidas. “A adoção indiscriminada de suplementos e substâncias injetáveis na gestação, fora de indicações clínicas comprovadas, pode representar riscos sérios à saúde materna e fetal”, diz o posicionamento. 

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também se pronunciou sobre o assunto: “Esta conduta pode trazer riscos sérios à saúde da mãe e do feto, especialmente no primeiro trimestre da gestação. Além disso, a promoção sensacionalista desse tipo de protocolo viola o Código de Ética Médica e a Resolução CFM nº 2.336/23, que vedam a divulgação de tratamentos sem respaldo científico”.

A médica Lílian de Paiva Rodrigues Hsu, presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Febrasgo, reforça o posicionamento da entidade, afirmando que as práticas clínicas que foram divulgadas promovendo o uso do suposto protocolo não têm fundamentação científica ou aprovação por sociedades médicas como a Febrasgo. 

        Veja também: Gravidez de alto risco: qual é a importância do obstetra?

Quais são os riscos?

“O uso indiscriminado de substâncias injetáveis ou suplementos em gestantes, fora das indicações reconhecidas por diretrizes clínicas, pode representar um risco à saúde materna e fetal. Para o bebê, o excesso de determinadas substâncias pode impactar o desenvolvimento neurológico ou até mesmo causar malformações. Para a gestante, os riscos vão desde reações adversas a complicações metabólicas”, alerta a dra. Lílian. 

O Ministério da Saúde esclareceu que pode ainda haver riscos como problemas no fígado, nos rins e no metabolismo dos bebês; e infecção local, trombose, arritmia cardíaca, intoxicação e anafilaxia (reação alérgica grave) nas gestantes. 

Quais suplementos são indicados na gravidez?

Suplementos podem e devem ser utilizados na gestação, mas sempre com avaliação individualizada e orientação do profissional que acompanha o pré-natal. 

“Os principais são: ácido fólico, que deve ser iniciado antes da concepção e mantido até 12 semanas para prevenção de defeitos do tubo neural; ferro; vitamina D, indicada se houver deficiência comprovada ou fatores de risco; e cálcio. A suplementação deve sempre ser orientada por um profissional de saúde, baseada em exames e histórico clínico”, explica a médica.

        Veja também: Quais exames pré-natais as grávidas devem realizar?

Recomendações para o pré-natal

aDe acordo com a especialista, as diretrizes para um bom pré-natal envolvem o planejamento pré-concepcional com uma visita médica para avaliação e orientações para a concepção. Além disso, outras outras recomendações incluem:

  • Suplementação: a suplementação de micronutrientes (ácido fólico, ferro, cálcio) deve ser adequada e seguir as orientações médicas. Outros nutrientes podem ser suplementados de acordo com a necessidade, conforme a avaliação do profissional de saúde; 
  • Vacinas: o esquema de vacinação deve ser atualizado (dTpa, influenza, covid-19, hepatite B);
  • Rastreamento de infecções: infecções com possível transmissão vertical (como toxoplasmose, HIV, sífilis, hepatites, entre outros) devem ser rastreadas; 
  • Acompanhamento fetal: manter o monitoramento adequado do crescimento fetal durante a gravidez;
  • Acompanhamento de doenças prévias: controlar condições pré-existentes (como diabetes, hipertensão e doenças autoimunes);
  • Hábitos saudáveis: manter bons hábitos de saúde, como alimentação equilibrada, hidratação e atividade física orientada;
  • Consultas regulares de pré-natal: as consultas devem ser mensais até a 28ª semana, quinzenais até a 36ª semana e semanais até o parto.
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