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Perda gestacional: o que é e o que pode causar a perda precoce do bebê?

Estima-se que uma a cada cinco gestações não evolua, resultando em perda gestacional. 
Publicado em 11/04/2023
Revisado em 05/07/2023

Estima-se que uma a cada cinco gestações não evolua, resultando em perda gestacional. 

 

Quando a mulher faz um ‘teste de farmácia’ e vê os dois risquinhos ou o sinal de positivo que indicam a possibilidade de gravidez, ela é tomada por um misto de emoções. É comum que um dos sentimentos seja o medo de perder o bebê. Estima-se que uma a cada cinco gestações não evolua, resultando em uma perda gestacional.     

A perda gestacional ocorre quando a gravidez “por algum motivo, não finaliza com o bebê vivo no colo da mãe”, afirma a dra. Maria Virgínia de Oliveira e Oliveira, ginecologista, obstetra e professora da Faculdade de Ciências Médicas de Santos (SP).

Ela explica que a perda gestacional mais comum acontece no primeiro trimestre (até 12 semanas) de gravidez.  A perda gestacional precoce ou aborto espontâneo precoce ocorre em cerca de 15% das gestações.

Segundo a dra. Maria Virgínia, a principal causa é genética. “Até esse primeiro trimestre, 70% [das perdas gestacionais] são [causadas por] alterações cromossômicas do embrião. É uma alteração como se o corpo entendesse que é uma gestação que não vai formar um bebê viável. Aí a gestação é interrompida, e o coraçãozinho [do feto] para de bater”, detalha.

Outro tipo de perda gestacional é a tardia (ou abortamento tardio), que acontece quando o feto tem até 22 semanas ou pesa menos de 500 gramas. Depois dessa idade gestacional e acima desse peso, a perda gestacional é classificada como óbito fetal, e as causas podem estar relacionadas a diversos fatores, inclusive alterações cromossômicas.  

“Quando a gestação vai um pouco mais além, a gente tem que investigar outros motivos: se tem alguma alteração anatômica do útero; se o colo do útero tem algum problema, que se chama incompetência istmo cervical, e às vezes esse colo abre, e o corpo elimina o bebê”, diz.

A dra. Maria Virgínia cita também causas orgânicas para o óbito fetal depois de 22 semanas de gestação: “Hipertensão; diabetes; algumas causas infecciosas; as trombofilias, que são alterações referentes à coagulação do sangue, que causam trombos na placenta ou no bebê e podem fazer com que o coraçãozinho pare de bater; [causas] imunológicas”.

A ginecologista afirma que há a possibilidade de a causa ser multifatorial, ou seja, uma associação de vários fatores. E, quando é assim, não se consegue identificar o motivo do óbito fetal, o que é chamado de causa idiopática ou desconhecida.

 

É possível evitar a perda gestacional?

A dra. Maria Virgínia afirma que, nos casos de alteração cromossômica, que é a causa de 70% das perdas gestacionais no primeiro trimestre de gravidez, não há o que ser feito.

Segundo ela, o que a mulher pode fazer para ter uma gestação mais saudável é, para aquelas que ainda estão planejando a gravidez, ir a uma consulta pré-concepcional, para investigar possíveis doenças, como hipertensão e diabetes, e poder tratá-las da forma mais adequada. Já para aquelas que engravidaram sem planejamento, o recomendado é fazer um bom pré-natal e adotar um estilo de vida mais saudável.

“Existem alguns gatilhos de ação que a mulher pode identificar e tratar para que ela tenha um organismo mais bem preparado na hora da gravidez e que diminua esses riscos, mas alguns a gente não vai conseguir impactar, tem fatores que são imutáveis, e tem fatores que a gente consegue interagir para ter um melhor desfecho, principalmente nas mulheres que têm alguma patologia”, afirma a médica. 

Veja também: Quais exames pré-natais as grávidas devem realizar?

 

Saúde mental após uma perda gestacional

Quando a perda gestacional ocorre, independentemente da idade do feto, é comum a mulher ser tomada por um profundo sentimento de culpa. “E junto com esse sentimento de culpa vêm vários outros: de fracasso, porque teoricamente seria algo que qualquer pessoa consegue fazer, que é gerar um bebê; e as mulheres ficam com vergonha, como se elas tivessem algum defeito”, diz a dra. Maria Virgínia.

Por conta disso, a ginecologista chama a atenção para o cuidado com a saúde mental após uma perda gestacional. Ela ressalta a importância de um suporte não só médico, como também psicoterápico. 

“Os psicólogos são muito importantes nessa acolhida, porque a mulher tem que viver esse processo, que pode ser bem difícil, e isso vai impactar de certa forma a próxima gestação. Ela fica com medo que isso aconteça de novo, que não dê certo novamente. Às vezes, a mulher passa pelo processo de perda gestacional, e mesmo numa próxima gestação, ela precisa de apoio, porque fica com o ‘fantasma’ da gestação anterior”, afirma.  

Na opinião da médica, o cuidado com a saúde mental da mulher que passou pela experiência de um aborto espontâneo ou óbito fetal, também cabe a parentes, amigos e à sociedade em geral. 

“A sociedade tende, às vezes, a culpabilizar a mulher por esse processo e, na grande maioria das vezes, ela não vai ter culpa de nada. [Além disso, as pessoas] às vezes tentam consolar de uma forma que não é a ideal. As pessoas tendem a falar: ‘Pelo menos foi no comecinho’, ‘Logo mais você engravida de novo’, ‘Ah, você já tem outro filho, você tem que ser agradecida porque você já tem outro’. As pessoas tentam consolar a mulher de forma que não acolhe os sentimentos dela”, lamenta. 

A dra. Maria Virgínia também defende um maior cuidado nas instituições de saúde que atendem as mulheres que vivenciaram algum tipo de perda gestacional. “A gente vê casos que chegam a ser até uma violência quando essas mulheres precisam ser submetidas a um procedimento, induzir um parto ou mesmo uma curetagem, elas ficarem na mesma enfermaria das mulheres que acabaram de ganhar neném, os bebês chorando”, relata. 

Por fim, a ginecologista afirma que esse assunto da perda gestacional precisa ser mais falado para que as mulheres possam ser mais bem acolhidas. “Mesmo no próprio ambiente íntimo da mulher, é um assunto que é meio velado porque ele traz vergonha, traz um sentimento de culpa, de fracasso. E a mulher é culpabilizada na maioria das vezes. É um assunto que tem que ser falado mais para que essas mulheres possam perceber que elas não estão sozinhas nesse processo e que também existem alternativas, dependendo da causa, para minimizar perdas gestacionais em gestações futuras”, conclui.

Veja também: Complicações que podem ocorrer na gravidez

Sobre a autora: Fabiana Maranhão é jornalista desde 2006 e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por temas ligados à infância e à adolescência, alimentação saudável e saúde mental.  

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