Disfunção na tireoide causa sintomas que podem se confundir com outras doenças comuns no puerpério, como a depressão pós-parto.
A tireoidite pós-parto é uma inflamação na glândula tireoide que normalmente se desenvolve no primeiro ano após o parto, atingindo de 5% a 10% das mulheres nesse período. É muito importante atentar aos sinais do problema, que podem se confundir com os de outras doenças, dificultando o diagnóstico.
“Normalmente começa com um período de hipertireoidismo (causado por excesso de hormônios tireoidianos circulantes), em que os sintomas podem incluir ansiedade, irritabilidade, taquicardia, perda de peso e tremores, podendo ser seguido por uma fase de eutireoidismo [quando os níveis hormonais da tireoide estão normais] e, finalmente, hipotireoidismo com sintomas como fadiga, ganho de peso, prisão de ventre, pele seca e depressão. É importante, entretanto, lembrar que nem todas as mulheres passam por todas as fases e em alguns casos a evolução é para eutireoidismo”, explica Rosália Padovani, endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP).
A especialista diz que a causa exata da disfunção na tireoide no pós-parto não é totalmente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada às alterações do sistema imunológico que ocorrem durante e após a gravidez. “O sistema imunológico, que é suprimido durante a gravidez para proteger o feto, pode se recuperar no pós-parto e atacar a glândula tireoide em mulheres suscetíveis, especialmente aquelas com histórico de problemas de tireoide ou doenças autoimunes”, afirma.
Problema na tireoide ou depressão?
Os sintomas da tireoidite pós-parto podem se confundir com de outras condições comuns nesse período, como a depressão pós-parto e o baby blues. Segundo a médica, sintomas como fadiga, sentimentos de tristeza, irritabilidade, choro fácil, alterações de humor, problemas de concentração e redução de energia são comuns nos três casos.
“Entretanto, o baby blues é uma condição temporária que surge logo após o parto e depois desaparece por si só, sem tratamento, à medida que a mãe se ajusta às demandas e seus hormônios se estabilizam. Geralmente, esses sintomas são atribuídos a flutuações hormonais e ao estresse da adaptação à nova maternidade. Na depressão pós-parto, diferente do baby blues, os sintomas persistem e a mãe pode mostrar desinteresse pelas atividades diárias, e inclusive dificuldade de cuidar do bebê”, explica a dra. Rosália.
Para fazer o diagnóstico diferencial de ambos os problemas e da tireoidite pós-parto, é preciso avaliar o quadro clínico criteriosamente e a função tireoidiana.
Risco de hipotireoidismo
A tireoidite pós-parto aumenta o risco de a mulher desenvolver o hipotireoidismo de forma permanente. “Cerca de 20% a 40% das mulheres com tireoidite pós-parto podem desenvolver hipotireoidismo permanente. O monitoramento regular da função tireoidiana, especialmente em mulheres com histórico de doença da tireoide ou anticorpos tireoidianos positivos pode ajudar a controlar e tratar precocemente o hipotireoidismo, caso ele ocorra”, explica a endocrinologista.
Diagnóstico e tratamento da tireoidite pós-parto
O diagnóstico de tireoidite pós-parto normalmente é feito por meio de uma combinação de avaliação clínica e exames laboratoriais. “Exames de sangue que avaliam a função tireoidiana são cruciais. Anticorpos antitireoidianos também podem ser avaliados para apoiar o diagnóstico”, diz a médica.
Já o tratamento vai depender da fase e da gravidade dos sintomas. “A fase hipertireoidiana pode não exigir tratamento se os sintomas forem leves. Os betabloqueadores podem ajudar a controlar sintomas como taquicardia e tremores. Para a fase hipotireoidiana, a terapia de reposição hormonal da tireoide pode ser prescrita para aliviar os sintomas. O acompanhamento regular com um profissional de saúde é essencial para monitorar a função da tireoide e ajustar o tratamento conforme necessário”, detalha a dra. Rosália.