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Como a menopausa impacta a saúde mental?

Publicado em 27/08/2024
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Revisado em 27/08/2024

Transtornos mentais podem piorar na menopausa, em virtude das alterações hormonais comuns a esse período. Saiba como amenizar os problemas de saúde mental durante a menopausa.

 

A menopausa é um assunto cercado de dúvidas e tabus. Ela pode estar associada a diversos sintomas desagradáveis que causam impacto na qualidade de vida, mas nem sempre é simples falar sobre o tema e procurar ajuda. 

Na verdade, o termo menopausa é definido como a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos, e geralmente acontece entre 45 e 55 anos. Porém, os sintomas do climatério – período de transição menopausal, ou seja, transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva, em que começa a ocorrer um declínio dos níveis hormonais – podem aparecer muito antes, a partir dos 40 anos de idade. 

Alguns dos sintomas mais comuns associados às mudanças hormonais desse período são os fogachos (ondas de calor), irritabilidade aumentada e problemas de sono. Da mesma forma, pode haver impactos na saúde mental, como sintomas psíquicos e maior risco de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, especialmente nas pessoas com histórico dessas condições. 

“Algumas mulheres que são mais vulneráveis do ponto de vista genético têm uma tendência maior a apresentar sintomas de humor, como sintomas depressivos, falta de energia e alterações de apetite nessa fase em que há oscilações de hormônios de forma geral. Isso pode ocorrer também no período da TPM, por exemplo, na fase que antecede a menstruação, que a gente chama de fase lútea do ciclo menstrual, pode acontecer antes mesmo da primeira menstruação, [pode acontecer] no período pós-parto”, explica Christiane Ribeiro, psiquiatra, mestre em medicina molecular e doutoranda em medicina molecular na área de cognição, gestação e cérebro feminino na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

        Veja também: Como saber se estou entrando na menopausa?

É importante ressaltar, contudo, que esses sintomas não ocorrem, necessariamente, com todas as mulheres. Há mulheres que são mais sensíveis às oscilações hormonais e, portanto, têm uma tendência genética a apresentar sintomas nessa fase.

“Os hormônios estradiol e progesterona participam da síntese dos neurotransmissores como a serotonina, a dopamina, o gaba e o glutamato. Então, [com a queda hormonal] a gente acaba tendo uma desregulação desses neurotransmissores. Isso também propicia os sintomas de depressão, ansiedade, insônia e dificuldade de concentração. O que temos de verdade é uma célula neuronal que começa a ter falhas no seu funcionamento e impacta as funções cerebrais principais”, afirma a psiquiatra Adriana Pereira. 

 

Transtornos mentais e principais sintomas 

Assim, quem já enfrentou quadros de transtornos mentais ao longo da vida está mais vulnerável a esse tipo de problema no período do climatério e da menopausa.

“Nessas mulheres que são vulneráveis geneticamente a ter mais oscilações de humor nessas fases de oscilações hormonais, há sim um risco aumentado de desenvolver transtornos mentais, como quadros depressivos e ansiosos, no período da perimenopausa até chegar ao período da menopausa. Elas podem ter uma reagudização de sintomas que já tenham apresentado antes, às vezes podem ser sintomas que elas já tenham apresentado em fases de oscilação hormonal. Se elas já tiverem tido algum quadro prévio, uma vulnerabilidade genética para um quadro depressivo, elas podem piorar esse quadro nessa fase”, explica a dra. Christiane. 

“As mulheres mais vulneráveis para ter esses sintomas, principalmente a depressão perimenopausal, que é conhecida com essa terminologia, são aquelas que tiveram uma depressão em algum momento da vida, na infância, na adolescência, pode ser uma depressão pós-parto ou em qualquer outro momento. Então, as mulheres que tiveram depressão são as mais vulneráveis, aquelas que tiveram ansiedade generalizada, [síndrome do] pânico, elas podem agravar e, claro, as mulheres com transtorno bipolar, embora sejam as menos estudadas. Cogita-se que elas também possam ter uma maior propensão a ter um episódio de depressão nessa fase”, completa a dra. Adriana. 

A especialista explica que, com o declínio da progesterona, logo no início da transição hormonal pode haver piora da síndrome pré-menstrual (também chamada de tensão pré-menstrual ou TPM) ou mesmo a ocorrência do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma forma mais grave do quadro que pode ser incapacitante, exigir acompanhamento psiquiátrico e uso de medicações. 

Em muitas situações, os sintomas físicos da menopausa também afetam o bem-estar e a qualidade de vida. Por exemplo, sintomas como ondas de calor e incontinência urinária podem prejudicar o sono, o que tende a causar uma piora do humor, cansaço, desânimo e dificuldade para realizar as atividades do dia a dia. Transtornos de sono como a apneia do sono também são mais frequentes nessa fase da vida. 

Além disso, podem ainda ocorrer sintomas cognitivos, como perda de memória, dificuldade de atenção e piora da função executiva (capacidade de planejamento e organização). 

Outros sintomas importantes são a diminuição da lubrificação vaginal, que muitas vezes leva à alteração da libido, sintomas gástricos e perda de massa muscular – daí a importância ainda maior da atividade física, conforme falaremos mais à frente. 

“Nós, psiquiatras, sabemos que é uma fase muito parecida com a adolescência, de vulnerabilidade para depressão, ansiedade, surto psicótico, na mulher que já teve histórico. Precisamos fazer, muitas vezes, um tratamento em conjunto com endocrinologista ou com ginecologista, porque muitas mulheres vão passar por essa fase, vão fazer terapia de reposição hormonal e vão melhorar”, diz a dra. Adriana. 

O risco também é maior em mulheres que passaram pela chamada menopausa cirúrgica (a retirada dos ovários), o que em muitos casos ocorre antes mesmo dos 40 anos. “Uma vez que você passa pela menopausa cirúrgica, você retira os ovários e, em uma semana, você passa a ter os sintomas, sendo que seu corpo não foi preparado para isso. Então, também é uma mulher de risco e que elas ficam, muitas vezes, à deriva, porque elas não são orientadas que elas podem ter depressão, ansiedade, insônia”, esclarece a psiquiatra. 

        Veja também: Por que é importante ter uma rede de apoio na menopausa?

 

Tratamento e hábitos importantes na menopausa

Em muitos casos, a reposição hormonal pode ajudar a reduzir os sintomas causados pelas alterações hormonais. No entanto, nem todas as mulheres têm indicação para uso de hormônios – às vezes por um risco aumentado de eventos trombóticos, doença cardíaca ou câncer de mama, por exemplo.

“E, geralmente, quando ela pode fazer reposição hormonal, a gente soma as forças. É importante esse acompanhamento multiprofissional: trabalhar com psiquiatra, endocrinologista, ginecologista, psicólogo, tudo isso vai ser importante para a melhora da mulher nessa fase”, explica a dra. Christiane.

É importante também mencionar que nem todas as mulheres vão passar por situações de aumento de sintomas depressivos na menopausa. A depressão tem causas genéticas que tornam algumas mulheres mais vulneráveis à doença. “Quando a gente vai fazer o acompanhamento, é sempre muito importante investigar quadros prévios de depressão, como que foi ao longo da vida em relação às questões de oscilações de humor, do período pós-parto”, completa. 

Para amenizar os sintomas associados às alterações hormonais desse período, é muito importante, além do acompanhamento médico, a manutenção de hábitos saudáveis. “[É preciso] entender que não é somente a medicação, não é somente o hormônio que vai mudar a vida da mulher, ela precisa buscar mudanças de estilo de vida também”, afirma a dra. Christiane. 

Nesse contexto, a dra. Adriana destaca os pilares da medicina do estilo de vida, que incluem: 

  • Alimentação equilibrada;
  • Atividade física regular;
  • Sono de qualidade;
  • Gerenciamento do estresse;
  • Relacionamentos saudáveis;
  • Controle do consumo de substâncias (álcool, cigarro e outras drogas).

Todos esses hábitos são importantes, mas ela destaca três que são fundamentais para a paciente nessa fase: alimentação, sono e atividade física. “Não é apenas comer saudável, ela precisa ter uma alimentação ajustada ao seu perfil metabólico, porque é uma fase em que a mulher pode ganhar mais peso, pode ter resistência à insulina e ficar pré-diabética, pode desenvolver uma síndrome metabólica e tudo isso vai agravar os sintomas psiquiátricos. A atividade física hoje tem nível de evidência para auxílio no tratamento [de transtornos mentais] nos quadros leves a moderados, e é uma excelente coadjuvante ao tratamento medicamentoso para os quadros mais graves. Então, a atividade física é fundamental. Eu considero esses três pilares [muito importantes], e claro, a redução e, se possível, a abstinência do álcool, porque o álcool impacta o funcionamento hormonal e hoje é um fator de risco para o câncer de mama na mulher”, finaliza. 

        Veja também: Qual o impacto da menopausa na saúde mental? – Saúde sem Tabu #35

 

Conteúdo produzido em parceria com a TENA Brasil, marca líder mundial em produtos para incontinência urinária.

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