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Penicilina: o antibiótico que mudou o rumo da medicina

Publicado em 16/04/2025
Revisado em 17/04/2025

Descoberta por acaso, a penicilina transformou o tratamento de infecções e deu início a uma nova era na medicina moderna: a dos antibióticos.

 

A descoberta da penicilina é considerada um dos maiores marcos da história da medicina moderna. Antes dela, infecções simples podiam evoluir rapidamente para quadros graves e até fatais. Um corte infeccionado, uma dor de garganta ou mesmo um parto podiam colocar vidas em risco. Com a chegada da penicilina, os profissionais de saúde passaram a contar com uma ferramenta eficaz para combater infecções bacterianas e salvar milhões de vidas. 

“A penicilina representou o início da era dos antibióticos e a partir desse momento, mudou a forma como lidamos com as doenças infecciosas. Depois que passou a ser produzida em larga escala, impactou inclusive a expectativa de vida”, explica Alexandre Cunha, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

        Veja também: Para que servem e quando tomar antibióticos? – DrauzioCast #195

 

Uma descoberta por acaso

Em 1928, o médico escocês Alexander Fleming deixou algumas placas com culturas de bactérias em seu laboratório, em Londres. Ao voltar de férias, notou que uma das placas havia sido contaminada por um tipo de fungo. No entanto, em vez de atrapalhar a pesquisa, o fungo parecia ter impedido o crescimento das bactérias ao redor.

O fungo, identificado como Penicillium notatum, produzia uma substância capaz de inibir o crescimento bacteriano. Nascia ali a penicilina. Fleming logo entendeu que havia descoberto algo importante, mas o desenvolvimento do antibiótico em escala industrial só aconteceu anos depois, com o trabalho dos pesquisadores Howard Florey e Ernst Chain, que conseguiram isolar e purificar o composto em plena Segunda Guerra Mundial.

 

Por que a penicilina revolucionou a medicina?

Antes da penicilina, doenças causadas por bactérias não tinham tratamento eficaz. Situações que hoje se resolvem com rapidez, como uma infecção de garganta ou uma ferida infeccionada, podiam levar a complicações graves. O risco de morte por infecções comuns era alto, e os médicos tinham poucos recursos para conter esse tipo de quadro.

Foi durante a Segunda Guerra Mundial que o uso da penicilina se popularizou. O antibiótico começou a ser administrado em soldados feridos no campo de batalha, ajudando a evitar infecções graves nas lesões. A redução no número de mortes chamou atenção para a eficácia daquele novo medicamento.

Com o fim do conflito, a penicilina passou a ser usada em larga escala também fora dos hospitais militares. Seu uso se expandiu para o tratamento de diversas doenças, como pneumonia, sífilis, escarlatina, erisipela e infecções de pele. Rapidamente, o medicamento se tornou parte do dia a dia da medicina, mudando completamente a forma como as infecções passaram a ser tratadas.

        Veja também: Por que ainda não acabamos com a sífilis congênita?

 

Como a penicilina atua no organismo? 

A penicilina pertence ao grupo dos antibióticos conhecidos como betalactâmicos. Ela age interferindo na formação da parede celular das bactérias, uma estrutura essencial para a sobrevivência desses microrganismos. Ao inibir a enzima responsável por essa síntese, a penicilina enfraquece a parede da bactéria, levando à sua destruição. 

É bastante eficaz contra bactérias Gram-positivas, como os estreptococos e estafilococos, embora algumas variações da penicilina tenham espectro mais amplo, alcançando também bactérias Gram-negativas. 

 

Quando é indicada?

A penicilina é usada no tratamento de diversas infecções causadas por bactérias sensíveis ao medicamento. Costuma ser prescrita quando se busca uma resposta rápida e segura contra microrganismos já conhecidos por responderem bem ao antibiótico. As indicações mais comuns incluem:

  • Infecções de garganta, como amidalite e faringite bacteriana;
  • Pneumonia de origem bacteriana;
  • Sífilis, especialmente em estágios iniciais;
  • Erisipela, caracterizada por vermelhidão e dor na pele;
  • Febre reumática, como forma de prevenção e controle;
  • Infecções dentárias que envolvem a gengiva ou raízes;
  • Infecções na pele ou articulações.

        Veja também: Resistência bacteriana: por que não se deve usar antibióticos por conta própria?

 

Reações adversas: quando a penicilina pode causar problemas

Mesmo sendo um antibiótico seguro, a penicilina pode causar reações alérgicas em algumas pessoas. Os sintomas variam de leves, como coceira e irritações na pele, até casos mais graves, como dificuldade para respirar e inchaço – sinais de uma possível anafilaxia, que exige atendimento urgente.

Por isso, antes de prescrever o medicamento, é fundamental que o médico verifique se o paciente já teve alguma reação a antibióticos da mesma classe. Quando há dúvida, é possível optar por alternativas mais seguras para evitar complicações.

“Toda medicação possui efeitos colaterais, as penicilinas não são exceção. As reações mais comuns relatadas em bula são náusea, vômitos, diarreia, apresentação de candidíase oral ou vaginal, dor de cabeça. Outras reações mais raras podem ocorrer como reações alérgicas e outros quadros mais graves”, afirma Emy Gouveia, infectologista do Hospital Albert Einstein.

 

Uso responsável da penicilina

A penicilina não deve ser usada por conta própria nem em tratamentos incompletos. Parar o uso antes do tempo ou guardar o restante da medicação para uma próxima vez são atitudes que favorecem a resistência bacteriana, problema crescente que torna as infecções mais difíceis de tratar.

“Atualmente, por conta do avanço da resistência bacteriana, o uso da penicilina é reservado para situações bem específicas. A maioria dos microrganismos já apresenta resistência, por isso é fundamental que o agente causador da infecção seja sensível ao medicamento. Trata-se de uma medicação segura para todas as faixas etárias, desde que a prescrição seja feita com base no microrganismo envolvido”, finaliza o dr. Cunha.

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