O Brasil apresenta baixa cobertura vacinal das principais vacinas oferecidas pelo SUS. Leia na coluna de Mariana Varella.
O dia 9/6 é o Dia Nacional da Imunização, e o Brasil, conhecido por suas altas coberturas vacinais e por ser referência em vacinação ao longo de décadas, não tem motivos para comemorar. Ao contrário, desde 2016 vemos nossas taxas de vacinação despencarem.
O país é hoje considerado de alto risco para o retorno da poliomielite e pode perder outras conquistas, como a eliminação da rubéola, síndrome da rubéola congênita e do tétano materno e neonatal e o controle da difteria. O sarampo, que também chegou a ser eliminado, voltou.
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Esses são os alertas emitidos pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que aponta, também, os motivos para o fenômeno: dificuldade de acesso aos imunizantes; ausência de campanhas de comunicação adequadas; falta de orientação dos profissionais da saúde aos pacientes; e, principalmente, perda da percepção do risco das doenças. Além disso, destaca-se, nos últimos anos, o crescimento de discursos contra as vacinas, o que gera receio em muitos.
Sempre houve desinformação envolvendo vacinas, é importante ressaltar. Nos últimos anos, as vacinas contra HPV e sarampo foram alvo de inúmeras campanhas de desinformação articuladas por grupos antivacinistas.
No entanto, nunca houve tanta difamação a respeito das vacinas como agora. A eficácia e a segurança da vacina contra a covid-19, doença que matou mais de 700 mil brasileiros, foram questionadas inclusive por autoridades que ocupavam o Ministério da Saúde e outros órgãos federais, além do próprio presidente da República, durante o auge da pandemia.
Não é de se espantar que a cobertura vacinal da bivalente contra a covid, que deve ser aplicada em todos os adultos com mais de 18 anos que tenham tomado no mínimo duas doses das vacinas monovalentes, esteja ao redor de 12%.
Em nota enviada à imprensa, o vice-presidente da SBIm, Renato Kfouri, afirmou: “É importante destacar que, historicamente, a origem desses boatos está ligada a grupos com interesses econômicos, ideológicos ou políticos no descrédito dos imunizantes. É perfeitamente compreensível que uma pessoa que não conheça o tema fique com medo ao se deparar com conteúdo criado para causar pânico e decida alertar os seus familiares e amigos. Para o benefício de poucos, todos pagam”.
A vacina contra a gripe também não atingiu a cobertura desejada até o momento. Apenas 44,53% dos grupos prioritários, que incluem crianças, trabalhadores na saúde, gestantes, puérperas, indígenas, idosos e professores, tomaram a vacina até o começo de junho deste ano, ante 68,1% em 2022.
O Unicef lançou um relatório, em abril deste ano, em que afirma que o Brasil tem a 2ª pior taxa de vacinação em bebês da América Latina, ficando atrás apenas da Venezuela. A taxa de vacinação contra a pólio, que deveria chegar a 95%, passou de 84,2% em 2019 para 67,6% em 2021.
O Brasil ocupa a 12ª posição entre os 20 países com a maior taxa de crianças que não receberam nenhuma dose de vacinas em 2021: cerca de 26% das crianças brasileiras não haviam tomado nenhuma dose de vacina neste ano. Esse índice é pior que o de países mais pobres, como a República Democrática do Congo, Tanzânia e Índia.
O brasileiro também está mais descrente nas vacinas. Ainda segundo o Unicef, a confiança da população nas vacinas caiu depois da pandemia: antes, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis, taxa que hoje está em 88,8%.
Até o dia 2/6, segundo o Ministério da Saúde, a cobertura do primeiro reforço da vacina contra a pólio estava em pouco mais de 39%. Difícil imaginar que esse número chegará, até o fim do ano, aos 95% de cobertura vacinal recomendados pelo Ministério da Saúde.
É no mínimo lamentável que o Brasil, que até pouco tempo atrás era reconhecido internacionalmente por ter o maior programa de imunização do mundo, hoje seja visto como um país com baixas coberturas vacinais e que, por isso, merece atenção das organizações de saúde do mundo todo.