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Infectologia

Coqueluche: por que o Brasil está vivendo um aumento de casos?

Publicado em 30/07/2024
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Revisado em 30/07/2024

Na semana em que a primeira morte por coqueluche é registrada no país após três anos, entenda a importância da vacinação na prevenção da doença.

 

A coqueluche, também conhecida como tosse comprida, é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Bordetella pertussis, que afeta o trato respiratório, incluindo traqueia e brônquios. 

Nos últimos anos, os órgãos de saúde têm observado um aumento significativo nos casos da doença, especialmente entre adolescentes e adultos jovens. São Paulo e Rio de Janeiro estão entre os estados mais afetados. 

Somente em junho, o estado de São Paulo registrou, até a 23ª semana epidemiológica deste ano, encerrada em 8 de junho, 139 casos de coqueluche, representando um aumento de 768,7% em comparação ao mesmo período no ano passado. 

No dia 27 de julho, foi confirmada a primeira morte por coqueluche em 3 anos. A vítima foi um bebê de seis meses, residente em Londrina, no Paraná. 

A dra. Rosana Richtmann, infectologista e consultora em vacinas do Alta Diagnósticos, destaca que a coqueluche é uma doença de alta transmissibilidade: “Uma pessoa doente pode transmitir a Bordetella pertussis para até 17 pessoas suscetíveis.” 

Este dado sublinha a gravidade do surto atual. A coqueluche tem uma abrangência universal, ou seja, acontece no mundo inteiro e, de tempos em tempos, há um aumento no número de casos devido a vários fatores, incluindo a perda de imunidade, como explica a dra. Rosana: “A proteção contra a coqueluche, seja pela doença natural, seja pela vacina, não é para sempre. Esta proteção tem um tempo, é limitada e normalmente dura entre 7 a 10 anos.”

 

Sintomas e fases da coqueluche

A coqueluche é caracterizada por uma tosse seca e irritativa que pode durar semanas ou até meses. Outros sintomas, geralmente, incluem febre baixa e dor de cabeça

A doença é dividida em três fases:

1 – Fase catarral: Pode durar de 1 a 2 semanas, com sintomas leves como febre, mal-estar geral, coriza e tosse seca. É a fase mais infectante. A frequência e a intensidade dos acessos de tosse aumentam gradualmente até o surgimento das crises de tosse paroxística.

2 – Fase paroxística: É a fase mais severa, com crises de tosse intensa que podem levar ao vômito e dificuldade respiratória. Pode durar de 2 a 6 semanas. 

3 – Fase de convalescença: É a última fase da doença, onde os sintomas começam a diminuir gradualmente, embora a tosse possa persistir por semanas ou meses.

        Veja também: Coqueluche: o que é e quem deve se vacinar

 

Diagnóstico 

“O diagnóstico é feito através de exames das secreções respiratórias, seja por cultura, que é mais difícil ter acesso, ou por teste de biologia molecular. Com um teste de PCR, é possível detectar a Bordetella pertussis nos pacientes,” explica a dra. Richtmann.

O teste PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) para coqueluche detecta a presença da bactéria Bordetella pertussis através da amplificação do seu material genético, proporcionando resultados rápidos e precisos. A cultura bacteriana, embora seja um método tradicional, é menos acessível devido ao seu tempo prolongado para resultados e à necessidade de condições laboratoriais específicas.

O método da cultura bacteriana para detectar coqueluche é difícil porque a Bordetella pertussis tem crescimento lento e exigente, necessitando de meios de cultura especializados e condições de incubação precisas. Além disso, a coleta adequada de amostras nasofaríngeas e o transporte rápido e adequado ao laboratório são cruciais para o sucesso do cultivo, tornando o processo mais complexo e menos acessível.

 

A importância da vacinação

A vacinação é a principal medida preventiva contra a coqueluche. No Brasil, a vacina está incluída na pentavalente (disponível no SUS) e na hexavalente (disponível na rede privada). 

O esquema de vacinação para crianças inclui doses aos 2, 4 e 6 meses de idade, com reforços entre 12 e 15 meses e entre 4 e 5 anos.

É crucial que as gestantes recebam a vacina tríplice bacteriana tipo adulto a partir de 20 semanas de gestação. Esta vacinação materna passiva confere proteção ao bebê nos primeiros meses de vida, quando ele ainda não completou o esquema vacinal e está mais vulnerável às complicações graves da doença. “Para a gestante que está nos lendo: a partir de 20 semanas de idade gestacional, deve tomar a vacina. A vacina chama-se tríplice bacteriana tipo adulto, e essa vacina pode salvar o bebê dela de ter uma coqueluche grave, porque ela vai passar anticorpos de forma passiva para o bebê, e com isso, ele já nasce com anticorpos maternos e alguma proteção,” ressalta a Dra. Richtmann.

 

Desafios

A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) da cidade de São Paulo emitiu um alerta devido ao aumento de casos de coqueluche no município. Apenas em 2024, de janeiro a julho, foram notificados 466 casos suspeitos.

A recente onda de casos pode ser atribuída a vários fatores, incluindo a diminuição da imunidade vacinal ao longo do tempo e a falta de cobertura vacinal adequada. Isso significa que adolescentes e adultos que foram vacinados na infância podem se tornar suscetíveis novamente.

Outro desafio é a detecção da doença em adolescentes, que geralmente apresentam quadros menos graves, mas atuam como vetores, transmitindo a bactéria para bebês e outras pessoas vulneráveis. “O que está acontecendo no Brasil neste momento, em especial em São Paulo e no Rio de Janeiro, é a detecção da coqueluche nos adolescentes, exatamente aqueles que tomaram suas vacinas na infância, perderam agora a sua imunidade e estão tendo um quadro de coqueluche. Essas pessoas, elas não costumam ter um quadro mais grave na adolescência, porém, elas servem de vetores, de transmissores”, explica a dra. Richtmann.

O aumento dos casos de coqueluche no Brasil é um lembrete contundente da importância contínua da vacinação e da vigilância epidemiológica. A coqueluche é uma doença séria, particularmente perigosa para bebês, que requer uma abordagem abrangente para prevenção e controle. Garantir a vacinação adequada é essencial para proteger a população e prevenir futuros surtos.

        Veja também: Por que doenças infantis que foram erradicadas estão voltando?

 

Sobre a autora: Tarima Nistal é jornalista e especialista em comunicação digital e marketing. Interessa-se por questões relacionadas à saúde das mulheres, alimentação saudável e meio ambiente.

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