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Gastroenterologia

Você já ouviu falar sobre doença de Crohn e retocolite ulcerativa?

Se você recebeu o diagnóstico para uma dessas doenças, não se desespere. Convidamos uma gastroenterologista para tirar as principais dúvidas sobre o assunto.
Publicado em 31/05/2022
Revisado em 31/05/2022

Se você recebeu o diagnóstico para uma dessas doenças, não se desespere. Convidamos uma gastroenterologista para tirar as principais dúvidas sobre o assunto.

 

Cólicas abdominais, diarreia, sangue nas fezes, emagrecimento e febre são alguns dos principais sintomas das doenças inflamatórias intestinais, as DIIs. Essas condições são caracterizadas pela inflamação de parte ou de todo o trato gastrointestinal, podendo ter várias etiologias, isto é, causas. Entre elas, estão os fatores relacionados à alimentação industrializada, à predisposição familiar,  ao sistema de defesa do organismo ou ligados às bactérias que fazem parte do ambiente intestinal. 

Podem se manifestar em qualquer faixa etária, porém, a frequência é maior entre os 20 e os 40 anos – apesar de, nos últimos anos, ter-se observado o aumento de casos entre crianças e idosos.

A retocolite ulcerativa afeta o intestino grosso (cólon) e o reto, com o processo inflamatório mais superficial. Os sintomas mais frequentes são vontade de ir ao banheiro muitas vezes ao dia (poli evacuações), geralmente com a eliminação de muco e sangue; vontade intensa de evacuar, mas com a sensação de que não ocorreu o esvaziamento completo (tenesmo); e urgência evacuatória.

A doença de Crohn pode se manifestar da boca ao ânus e região perianal com o surgimento de fístulas, ou seja, um canal anormal que liga duas estruturas normalmente não conectadas. A sua principal característica é ser um processo inflamatório mais profundo, causando lesões. Os sintomas são semelhantes à retocolite ulcerativa e, em algumas situações especiais em que há o estreitamento das estruturas intestinais (estenose), a manifestação clínica pode ser constipação e distensão abdominal. 

Tanto a retocolite ulcerativa quanto a doença de Crohn podem provocar outros tipos de sintomas, como dores articulares e na coluna e problemas dermatológicos, oculares e musculoesqueléticos.

Para quem convive com uma dessas doenças, os impactos são muitos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD) em 2017, 43% dos pacientes entrevistados se sentiram impedidos de realizar seu potencial nos estudos ou no trabalho.

Os sintomas de fadiga, por exemplo, estavam presentes em 80% dos casos, mesmo com a doença em remissão. Outras manifestações como ansiedade, depressão e tristeza afetavam em torno de 50% dos pacientes, fazendo com que as doenças acarretem em uma péssima qualidade de vida quando não tratadas adequadamente.

“Imagine acordar de manhã e ir cinco vezes ao banheiro com diarreia, muco e sangue. Como você vai pegar o ônibus e ir trabalhar? No seu trabalho, existe privacidade de banheiros? São doenças com impactos biopsicossociais na vida do paciente, já que ele acaba se isolando por medo de passar mal ou ficar exposto”, explica a dra. Marta Brenner Machado, presidente da ABCD.

Em compensação, a gastroenterologista ressalta que, com o tratamento correto e as informações necessárias, o paciente com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn pode voltar à normalidade. “Uma vez que a doença esteja controlada, o paciente é capaz de voltar a ter uma alimentação sem restrições, praticar esportes, recuperar o lado social. Enfim, voltar a viver com qualidade de vida”, afirma a especialista.

 

Recebi o diagnóstico. E agora?

De acordo com a dra. Marta, os primeiros passos são: estabelecer uma boa relação médico-paciente, entender a doença, esclarecer todas as dúvidas e inseguranças e, a partir daí, aceitar a doença e iniciar o tratamento correto. Para serem bem tratadas, as DIIs precisam ser individualizadas, levando em consideração todas as características do paciente.

Ambas as doenças podem se apresentar de forma leve, moderada, grave ou fulminante. Essa classificação é feita de acordo com as manifestações clínicas, laboratoriais, endoscópicas, nutricionais e de localização no trato digestório.

“Não basta dizer que tem a doença de Crohn ou retocolite durante uma consulta médica. É importante que o paciente tenha sempre consigo todos os exames realizados e um diário de seus sintomas, como número de evacuações, presença de sangue ou dor, necessidade de analgésicos, peso atual… E, assim, assumir a responsabilidade de informações adequadas sobre a sua doença”, destaca a especialista.

Na próxima vez que for ao profissional, a dra. Marta recomenda anotar todas as dúvidas em uma planilha, sem medo de perguntar. Algumas sugestões: 

  • Quais são os exames necessários para o diagnóstico correto? 
  • Como saber se os sintomas representam uma emergência? 
  • De quanto em quanto tempo é preciso retornar para o acompanhamento?
  • Existe algum exame que deve ser feito rotineiramente?
  • Qual o planejamento terapêutico da doença?

Veja também: Doenças Inflamatórias Intestinais em 5 perguntas | Rogério Saad

 

Como é o tratamento?

Por ainda não existir a cura para a retocolite ulcerativa e para a doença de Crohn, o tratamento consiste em bloquear a cascata inflamatória e, assim, diminuir as crises até que o indivíduo entre em remissão. Ou seja, até que ocorra a completa cicatrização, com ausência de sintomas e normalização dos exames laboratoriais.

“Esse é o sucesso do tratamento. É o paciente que volta a ter uma vida completamente normal, com seus planos de trabalho, de lazer e de estudos. Vida que segue”, explica a dra. Marta.

As linhas terapêuticas costumam fazer uso de medicamentos orais, como corticoides, sulfassalazina e mesalazina, especialmente para quadros que atingem o cólon de forma leve ou moderada. Em algumas situações, utilizam-se os imunossupressores, como azatioprina e metotrexato. Nos últimos anos, houve um grande avanço terapêutico com a chegada das terapias biológicas, que revolucionaram o manejo destas doenças.

Cada caso deve ser corretamente estudado e analisado para a tomada de decisão de qual tratamento será utilizado. Em algumas situações, a cirurgia se faz necessária.

A gastroenterologista ressalta a importância do acompanhamento médico e da adesão ao tratamento. No Brasil e ao redor do mundo, existem equipes multidisciplinares especializadas no atendimento dessas enfermidades.

Veja também: Doença de Crohn | Entrevista

 

Quando vou começar a perceber os resultados do tratamento?

“Não existe uma data exata para que a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa entrem em remissão, depende muito da gravidade e do tempo da doença”, pontua a presidente da ABCD. Se o quadro é leve ou moderado, a expectativa é que os resultados comecem a aparecer em poucas semanas. Se for mais grave, pode levar alguns meses, mas o acompanhamento médico rotineiro será fundamental para saber se tudo está dentro do previsto ou se é preciso trocar o tratamento.

“Mas o mais importante, especialmente para os pacientes graves, é saber que a melhora chega gradativamente. Hoje, no Brasil, nós temos várias opções de tratamento capazes de deixar o indivíduo bem e fazer com que a doença entre em remissão”, destaca a gastroenterologista.

 

Vou ter que mudar a minha alimentação?

Por serem doenças gastrointestinais, uma das maiores preocupações dos indivíduos com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn é com a alimentação.

A dra. Marta salienta a importância de um acompanhamento nutricional para adaptar os alimentos adequados em cada fase da doença.

“Basicamente, nós indicamos uma dieta saudável, que contenha verduras, frutas, carboidratos e proteínas em equilíbrio. O ideal é evitar alimentos com muito teor de gordura, açúcar ou conservante, os chamados alimentos inflamatórios, porque podem prejudicar a mucosa já doente. As refeições balanceadas e adequadas para cada indivíduo são fundamentais”, indica a especialista.

Veja também: DrauzioCast #44 | Alimentação saudável

 

Além do médico, quem mais pode me ajudar durante o tratamento?

Durante o tratamento para retocolite ulcerativa e doença de Crohn é fundamental que o paciente não esteja sozinho. Veja quem pode ajudar a passar por esse processo de uma forma mais leve:

  • Associações de pacientes: Atualmente, existem várias instituições que reúnem pacientes com DII espalhadas pelo Brasil, como a própria ABCD. Através de campanhas, reuniões e ações, eles trocam experiências e oferecem o apoio necessário para continuar o tratamento. Hoje, em praticamente todos os estados e municípios existem associações locais de pacientes portadores de DIIs. Procure a mais próxima da sua casa.
  • Amigos e familiares: A família e as pessoas próximas também são um pilar importantíssimo durante o processo, pois eles podem oferecer a base emocional durante os momentos mais difíceis.
  • Psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais: Às vezes, o auxílio de profissionais especializados se faz necessário. Consultar um psicólogo ou psiquiatra ajuda a aceitar e aprender a lidar com o diagnóstico e tratamento de forma mais positiva, entendendo que a vida não será resumida àquela doença.
  • Equipe multidisciplinar: Médicos de outras especialidades que conheçam bem a doença também podem contribuir para a eficácia do tratamento, tranquilizando o paciente. É o caso, por exemplo, dos coloproctologistas, reumatologistas, oftalmologistas, nutricionistas e fisioterapeutas.

“Você, que tem essa doença há mais tempo, ajude quem está começando agora. Se organize na hora da consulta. Confie no seu médico e não abandone o tratamento. Saiba que existe uma solução para todas as formas da doença”, incentiva a dra. Marta.

 

Conteúdo feito em parceria com a biofarmacêutica Takeda https://www.takeda.com/pt-br/

C-ANPROM/BR/GEN/0010 – Maio/2022 – Material destinado ao público em geral

Veja também: Funcionamento dos intestinos | Entrevista

 

Referências

Viver com a Retocolite Ulcerativa | ABCD

Vivendo com a Doença de Crohn | ABCD

Retocolite Ulcerativa | Biblioteca Virtual em Saúde MS

Doença de Crohn | Biblioteca Virtual em Saúde MS

Colite ulcerativa | Drauzio Varella

Doença de Crohn | Drauzio Varella

Retocolite ulcerativa: o que é, sintomas, tratamentos e causas | Santa Paula

Aspectos Psicológicos na Doença Inflamatória Intestinal | GAMEDII

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