Meningite eosinofílica é causada por um verme chamado Angiostrongylus cantonensis, que foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2006.
Meningite eosinofílica (angiostrongilíase cerebral) é uma inflamação que afeta as meninges, membranas que envolvem o sistema nervoso central. A doença é causada por um verme chamado Angiostrongylus cantonensis,que foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2006. Ela é transmitida para os humanos por crustáceos (por exemplo, caranguejos, camarões e o tatuzinho de jardim, que vira uma bola quando se sente acuado) e por moluscos (animais de corpo mole protegido, em geral, por uma concha).
O caramujo gigante africano (Achatina fulica) é o vetor mais frequente desse verme. Ele foi introduzido no Brasil por criadores de escargot interessados em difundir o produto comercialmente. Como a utilização para a culinária fracassou, os caramujos foram soltos na natureza e transformaram-se numa praga, que prolifera nas plantações de frutas, hortas e em terrenos baldios. Exceção feita ao Rio Grande do Sul, já foram encontrados caramujos gigantes africanos em praticamente todos os Estados do País.
Transmissão da doença
Larvas do A. cantonensis são eliminadas nas fezes de roedores, especialmente das ratazanas, que são os hospedeiros naturais desses parasitas. Os moluscos (caramujos, caracóis, lesmas, entre outros) passam a funcionar como hospedeiros intermediários, quando ingerem as fezes contaminadas, ou por penetração direta do verme em seu corpo.
Os humanos são hospedeiros acidentais das larvas. A infecção ocorre quando ingerem os moluscos crus ou mal cozidos ou, então, quando ingerem o muco que eles liberam para facilitar seu deslizamento. Uma vez dentro do organismo humano, as larvas penetram na circulação sanguínea do trato digestivo, migram para o sistema nervoso central, se alojam nas meninges e morrem. Tem início, então, o processo inflamatório da meningite eosinofílica. Através da corrente sanguínea, larvas do A. cantonensis podem migrar para os olhos, instalam-se no humor aquoso e provocam distúrbios visuais.
O período de incubação dura de 2 a 45 dias. Seres humanos não transmitem a doença, porque as larvas morrem antes de completar o ciclo vital que termina nas veias pulmonares do hospedeiro.
Sintomas
Embora, na quase totalidade, a meningite eosinofílica seja uma doença de evolução benigna, os sintomas podem durar de poucos dias a meses. Os mais prevalentes são dor de cabeça forte e intermitente, febre alta, parestesias (sensação de formigamento, queimação, pressão na pele). A rigidez na nuca, comum nas meningites provocadas por vírus ou bactérias, é um sinal nem sempre presente na meningite provocada pelo A. cantonensis.
Num número menor de casos, falta de coordenação motora, paralisia facial e muscular transitória, distensão abdominal e febre de baixa intensidade são outros sintomas possíveis da doença. Por sua vez, a presença de larvas no humor aquoso pode causar perda parcial ou total da visão.
Diagnóstico
O exame do liquor, líquido existente dentro das meninges extraído por punção lombar, é fundamental para o diagnóstico diferencial das meningites, sejam elas provocadas por vírus, bactérias ou vermes. A concentração de eosinófilos (células de defesa do organismo) no líquido cefalorraquidiano é indicativa da presença dos parasitas responsáveis pela ocorrência da meningite eosinofílica.
Tratamento
Não se conhece nenhum medicamento eficaz contra a meningite eosinofílica. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas e evitar complicações e sequelas, como a deficiência motora e redução ou perda da visão. O uso de anti-inflamatórios à base de corticoides, assim como o de analgésicos e antipiréticos tem-se mostrado útil nesse sentido.
Prevenção
Não existem vacinas contra a meningite eosinofílica. Crianças e pessoas que entram em contato com a terra em hortas, canteiros ou jardins são consideradas grupos de risco para a doença. Até o momento, a única possibilidade de prevenção é evitar o contato com os vetores ou com as secreções que eles eliminam.
Recomendações
Algumas medidas bastante simples podem evitar a contaminação pelo A. cantonensis. Entre elas, destacam-se:
- Lavar as mãos com frequência, especialmente antes de lidar com os alimentos;
- Não comer crustáceos ou moluscos crus ou mal cozidos;
- Lavar bem verduras, legumes e frutas antes de colocá-los de molho em um litro de água com uma colher de sopa de água sanitária ou numa solução com hipoclorito de durante 30 minutos;
- Proteger as mãos com luvas ou saco plásticos quando for necessário combater os caramujos que, por acaso, apareçam em casa. Antes de jogar as conchas no lixo é importante mantê-los numa solução composta por uma parte de água sanitária e três de água, ou numa vasilha com água e bastante sal durante 24 horas.