Manchas arroxeadas que surgem na pele sem traumas devem ser avaliadas por especialistas
É bastante comum que após um trauma ou uma queda apareçam manchas arroxeadas na pele. Conhecidos como hematomas, esses sinais costumam surgir quando há um extravasamento do sangue após o rompimento dos vasos sanguíneos.
No entanto, quando surgem “do nada”, de forma espontânea, merecem atenção, uma vez que podem indicar problemas de saúde mais graves.
É importante ressaltar que quando o sangramento ocorre superficialmente na pele, eles são chamados de equimoses; já quando atingem camadas mais profundas surgem os hematomas.
“Quando esses sinais são pequenos e esparsos, mesmo que recorrentes, não há motivo para preocupação. O problema é quando são manchas extensas, volumosas e surgem sem um trauma, principalmente em áreas como rosto, dorso, abdômen ou torso. Nesses casos, demandam avaliação médica”, explica a dra. Martha Mariana, hematologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.
A seguir, confira algumas causas dos hematomas “espontâneos” que merecem atenção.
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Problemas de coagulação
As manchas arroxeadas podem indicar algum problema na coagulação sanguínea. Entre eles, destaca-se a hemofilia, que é uma doença genética que provoca a dificuldade do organismo realizar a coagulação, levando a sangramentos mais intensos e espontâneos (internos ou externos).
Além disso, pessoas com a doença de von Willebrand apresentam deficiência em uma proteína que participa da coagulação do sangue. Por isso, têm dificuldades para estancar hemorragias. Geralmente, há a presença de hematomas em todo o corpo, sem causa aparente.
Púrpura trombocitopênica imunológica
Quando surgem manchas roxas ou avermelhadas na pele, pode ser uma condição conhecida como púrpura trombocitopênica imunológica. Nesse caso, trata-se de uma doença autoimune que causa a destruição das plaquetas, células responsáveis pelo processo de coagulação sanguínea.
Doenças na medula óssea
Entre as condições que podem provocar hematomas espontâneos está a aplasia de medula. O problema ocorre quando há uma diminuição acentuada na produção de células do sangue.
Apesar de mais raro, quem tem leucemia, que é um tipo de câncer que leva à produção anormal de células sanguíneas, também pode sofrer hematomas na pele. Isso porque há uma queda na produção das plaquetas, responsáveis pelo processo inicial da coagulação.
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Doenças infecciosas
Problemas de saúde como dengue, HIV, hepatites virais, leishmaniose, tuberculose e febre amarela podem interferir na produção das plaquetas, ou até mesmo contribuir com a sua destruição. Portanto, há o risco de surgirem hematomas na pele.
Uso de alguns medicamentos
Quem usa medicamentos anticoagulantes (AAS/aspirina) pode ficar mais suscetível a sangramentos e hematomas. A recomendação é evitar a automedicação e realizar consultas médicas regulares para afastar o risco do problema.
Púrpura senil
É bastante comum que os idosos tenham aquelas manchas avermelhadas e/ou arroxeadas na pele. Conhecidas como púrpura senil, elas são mais frequentes em pessoas com mais de 65 anos, com perda de tecido subcutâneo, fragilidade vascular e que usem anticoagulantes. Costumam aparecer nas mãos, antebraços, pernas e punhos.
Deficiências de vitaminas
A falta de vitamina C ou K também contribui para o surgimento de hematomas. Esses nutrientes ajudam na coagulação do sangue. Quando estão em falta no organismo, os vasos sanguíneos tendem a ficar mais frágeis, rompendo mais facilmente e causando sangramentos.
Fragilidade vascular
Os hematomas também surgem quando há uma fragilidade vascular, ou seja, os vasos sanguíneos estão mais fragilizados (enfraquecidos) e se rompem mais facilmente. Dessa forma, há sangramentos sob a pele, provocando manchas arroxeadas.
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Quando procurar um médico?
Vale lembrar que há muitos hematomas de causas idiopáticas, ou seja, não se sabe exatamente as razões pelas quais surgiram. Geralmente, tendem a ser manchas benignas que não trazem maiores consequências além de incômodo.
“Muitas vezes, os hematomas podem surgir por conta de pequenos traumas que não são perceptíveis no dia a dia. É mais comum identificar em pessoas de pele clara, idosos e mais frequentemente em mulheres, por questões hormonais. De qualquer forma, vale a pena considerar uma avaliação médica”, afirma a dra. Ana Clara Kneese, hematologista e coordenadora da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
O médico deve ser consultado quando surgem hematomas de forma simultânea em várias áreas do corpo. Também é preciso se atentar caso apareçam outros sintomas, como dor, febre, anemia, palidez, fadiga ou outros sinais hemorrágicos (sangramentos de gengiva, nariz ou urina).
“A gravidade e a frequência são importantes: pacientes com manchas generalizadas e/ou com grande volume de sangue sob a pele e frequentes podem ser mais propensos a ter sangramentos. É preciso se atentar quando há cinco ou mais lesões com mais de 1 cm de diâmetro ou de aparecimento súbito”, complementa a dra. Mariana.
Formas de tratamento
O especialista precisa averiguar qual é a causa do hematoma para indicar o tratamento adequado. Durante a consulta, avalia-se o histórico do paciente, se está usando algum medicamento, doenças de familiares e também há quanto tempo a mancha está visível.
De forma geral, os hematomas por traumas são autolimitados, ou seja, serão absorvidos sozinhos em poucos dias. A recomendação é aplicar compressa gelada para que não aconteça um aumento das manchas. Também é preciso evitar exposição solar no local.
Existem algumas pomadas específicas (à base de anticoagulantes) que podem aliviar a dor local. Porém, os hematomas devem ser avaliados e tratados de acordo com a doença ou complicação que gerou o sintoma.
Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.