Os sintomas da covid longa permanecem indefinidamente ou somem depois de um tempo? Entenda o que já se sabe sobre a duração da síndrome e por quanto tempo duram os sintomas da covid.
Quase três anos após o início da pandemia da covid-19, alguns pacientes ainda relatam sequelas da doença. A chamada covid longa afeta em torno de 10% a 20% das pessoas infectadas, especialmente aquelas que tiveram quadros graves, que já tinham comorbidades ou que ainda não se vacinaram.
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Entre as principais queixas, estão fadiga, tosse persistente, dificuldade para respirar, a perda do olfato ou paladar e dores de cabeça frequentes. Mas, afinal, por quanto tempo esses sintomas podem persistir?
Sintomas logo após a infecção
“A covid longa é uma doença sistêmica. Embora o que mais se teve por causa da covid-19 foi a pneumonia (porque o órgão de choque é o pulmão), a doença também provoca alterações neurológicas, hepáticas, entre várias outras”, explica a dra. Rosana Rodrigues, radiologista especialista em doenças inflamatórias do pulmão e cientista do Instituto D’OR de Pesquisa e Ensino (IDOR).
É que o vírus provoca uma resposta inflamatória intensa a partir da disseminação de uma “tempestade de citocinas” do pulmão para o resto do corpo. Como consequência, o sistema imunológico reage no mesmo nível, atacando até mesmo os próprios tecidos. Um exemplo é a famosa sensação de “névoa mental”, provocada por danos nos vasos sanguíneos do cérebro, segundo uma pesquisa publicada pelos NIH, Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.
A lista de órgãos e sistemas atingidos é extensa. Ela inclui coração, fígado, rins, sistema endócrino, sistema gastrointestinal, sistema nervoso, sistema respiratório e sistema vascular. Além de diversos, os sintomas da covid longa costumam se manifestar em conjunto: sempre um ou mais.
Através de uma pesquisa utilizando uma técnica de diagnóstico por imagem, a dra. Rosana avaliou que mesmo depois de quatro meses da infecção, a atividade inflamatória de pacientes que haviam tido quadros graves a moderados de covid-19 continuava alta. Entre os 53 participantes, todos apresentavam pelo menos um sintoma da covid longa.
“A nossa conclusão é que essa atividade inflamatória, tanto no pulmão quanto no sangue, é sustentada no pós-alta. E que esses pacientes tendem a ser muito sintomáticos. Quase metade deles tinha mais de seis sintomas”, relata a coordenadora do estudo.
Sintomas depois de 1 ano
Essas descobertas são reforçadas por uma pesquisa longitudinal, publicada pela Fiocruz Minas em maio de 2022, que avaliou os efeitos da covid-19 em 646 pacientes após 14 meses da infecção – ou seja, mais de um ano depois da infecção.
Os resultados mostraram que metade dos pacientes continuou com sintomas. Além dos mais conhecidos, como fadiga e tosse persistente, havia ainda transtornos mentais, como insônia, ansiedade e tontura. A trombose, uma das sequelas mais graves, também aparece na população monitorada.
Esses sintomas se mostraram em três níveis: graves, moderados ou leves. A apresentação moderada foi a mais comum, em 75,4% dos pacientes. Em alguns casos, as queixas são iguais às que apareceram durante a infecção; em outros, completamente novas.
Sintomas depois de 2 anos ou mais
Atualmente, já é possível avaliar se as consequências da covid-19 perduram em quem teve a doença há, pelo menos, dois anos. Ainda não há respostas concretas, mas várias pesquisas têm se debruçado sobre o assunto.
“Nós vamos dar continuidade ao nosso estudo. Na segunda fase, convidaremos os mesmos pacientes para repetir todos os exames e saber o quão sustentada são essas alterações. Será que até mesmo dois anos depois, essas pessoas ainda podem ter sintomas? As alterações vão se perpetuar? E por quanto tempo? Acho que talvez essa seja a pergunta mais importante”, destaca a dra. Rosana.
Nesse contexto, a vacina pode ser um importante aliado. Como o imunizante atua na diminuição da inflamação provocada pelo vírus, conforme a vacinação avançava, as queixas de manifestações da covid longa nos hospitais diminuíram. Portanto, enquanto ainda não se sabe se quem teve covid poderá um dia se recuperar completamente, a recomendação dos especialistas é não deixar de se vacinar.