Médicos insistem para que grávidas se vacinem contra a covid-19

mulher grávida toma vacina contra covid-19.

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Publicado em: 28 de junho de 2021

Revisado em: 27 de janeiro de 2022

Médicos e entidades médicas recomendam a vacina contra a covid-19 para grávidas e puérperas. Mortalidade pela doença é alta nesse grupo.

 

A gravidez é um período cheio de incertezas. Enfrentá-las durante uma pandemia de uma doença nova, para a qual a ciência ainda não tem todas as respostas, pode ser bastante angustiante. Além do temor de adoecer gravemente, há também o receio de tomar uma vacina recém-lançada, sabendo que grávidas e puérperas (mulheres que deram à luz nos últimos 45 dias) não foram incluídas nos ensaios clínicos.

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Talvez isso justifique a baixa adesão dessas mulheres à vacinação contra a covid-19, apesar do alto número de mortes entre esse grupo e da recomendação de médicos e do Ministério da Saúde para que gestantes e puérperas se vacinem contra a doença. Até 27/6/2021, foram vacinadas com uma dose pouco mais de 280 mil gestantes e 83 mil puérperas no país, segundo o Ministério da Saúde. “As gestantes e puérperas não foram incluídas nos ensaios clínicos das vacinas, mas dezenas de milhares de mulheres grávidas foram vacinadas, e os efeitos adversos foram similares aos da população geral”, explica a ginecologista e obstetra Renata Lopes Ribeiro, especializada em gestação de alto risco e Medicina Fetal.

A notícia da morte de uma mulher grávida, no Rio de Janeiro, por trombose após tomar a vacina da AstraZeneca pode ter contribuído para que gestantes hesitassem em se vacinar. Apesar de o caso ainda estar sendo investigado pelas autoridades sanitárias e não haver certeza da relação da morte com a vacina, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a recomendar que grávidas não tomem a vacina da AstraZeneca/Fiocruz. Assim, os estados começaram a vacinar as gestantes com as vacinas CoronaVac e da Pfizer.

Embora sejam vacinas novas, médicos têm ressaltado que os benefícios da vacinação superam os riscos. “Ainda não temos dados de longo prazo sobre a segurança das vacinas para esse público; a doença é nova e as vacinas também. Mas já temos mais de 100 mil gestantes que receberam a vacina da Pfizer em outros países, sem relatos de complicações para a gestante, o feto ou o recém-nascido. Já a CoronaVac tem tecnologia semelhante a de outras vacinas utilizadas em gestantes, cuja segurança já foi comprovada há muitos anos. Os riscos em relação à morbidade e mortalidade materna e fetal por covid superam muito os possíveis riscos da vacinação”, afirma a ginecologista e obstetra Carolina Corsini.

 

Mais vulneráveis

 

No início da pandemia de covid-19, médicos e órgão de saúde discordavam quanto à necessidade de considerar grávidas e puérperas como mais vulneráveis a desenvolver quadros graves da doença. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmava, em setembro de 2020, que havia a necessidade de mais estudos para afirmar que grávidas sem doenças pré-existentes corriam mais risco de desenvolver covid grave e de morrer do que as mulheres não grávidas.

A situação mudou no fim do ano, quando um amplo estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos demonstrou que gestantes tinham risco aumentado de desenvolver a forma grave da doença. O CDC passou, então, a recomendar a vacinação de gestantes assim que fosse possível.

A OMS começou a indicar a vacinação de mulheres grávidas quando os benefícios da vacinação superassem os riscos potenciais. Vários países passaram, então, a vacinar gestantes, em especial com as vacinas de RNAm (Pfizer e Moderna).

Em 2021, o mundo viu o número de mortes por covid-19 entre gestantes aumentar consideravelmente. Na comparação entre os anos 2020 e 2021, a mortalidade materna semanal cresceu 283% ante um aumento de 105% na população geral.

No Brasil, de acordo com dados do SIVEP GRIPE, houve 455 mortes de gestantes e puérperas em 2020 e 814 em 2021 (até 2/6/21), o que representa 10 mortes maternas por semana em 2020 e 38 mortes maternas por semana em 2021.

“Foi observado um aumento da mortalidade de grávidas e puérperas por covid-19 de 2020 para 2021. Esse aumento foi progressivo, confirmando que esse é, sim, um grupo de maior complicação para a doença, intubação e óbito”, diz a dra. Carolina.

Assim,  em 26 de abril deste ano, o Ministério da Saúde decidiu incluir todas as grávidas e puérperas no grupo prioritário para receberem a vacinação contra a covid-19.

“Os dados nacionais e internacionais mostram que mulheres no ciclo gravídico-puerperal são grupo de muito risco para as consequências da covid-19, incluindo óbito materno, complicações obstétricas graves e necessidade de internação. Mais de 75% dos óbitos maternos que aconteceram no mundo, aconteceram no Brasil.  As grandes sociedades obstétricas internacionais, como o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG) e o Royal College [do Reino Unido] apoiam a vacinação nesse grupo”, finaliza a dra. Renata.

Diante do aumento do número de mortes, a Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp), lançou, em 8/6/2021, nota técnica recomendando que “todas as gestantes e puérperas, do Estado de São Paulo, sejam vacinadas contra a covid-19, independente de apresentarem comorbidades”.

Diante das alta taxa de morte por covid-19 de gestantes e de fetos e recém-nascidos, é muito importante que as grávidas e puérperas conversem com seu médico para avaliar a possibilidade de vacinar-se, não importa a idade gestacional.

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