Anvisa determina a retenção de receita médica para a venda das canetas emagrecedoras como Ozempic e Mounjaro. Leia as implicações da medida na coluna de Mariana Varella.
O uso dos medicamentos agonistas do receptor GLP-1, como Ozempic e Mounjaro, se disseminou para além de suas recomendações médicas.
Indicados inicialmente para tratar diabetes tipo 2, essas drogas provocam perda de peso significativa, o que as tornou objeto de cobiça entre aqueles desejosos de emagrecer alguns quilos.
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Com isso, a venda das chamadas “canetas emagrecedoras” explodiu no mundo todo, movimentando um mercado estimado em aproximadamente 12 bilhões de dólares só em 2023.
No Brasil, a venda das drogas semaglutida, liraglutida, dulaglutida, exenatida, tirzepatida e lixisenatida é feita sem a retenção de receita médica, o que preocupa especialistas.
Todavia, isso muda a partir de agora. Para tentar conter o uso descontrolado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a obrigatoriedade da retenção de receita médica para a venda desses medicamentos, como já é feito no caso dos antibióticos, por exemplo.
Em resolução publicada em 16/4, a Agência afirmou que a medida “tem como objetivo proteger a saúde da população brasileira, especialmente porque foi observado um número elevado de eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas pela Anvisa”.
A atualização da norma deve ser publicada nos próximos dias no Diário Oficial da União. A partir da publicação, serão contados 60 dias para que a regra entre em vigor.
A medida foi elogiada por médicos porque, por se tratarem de drogas relativamente novas, ainda não é possível estabelecer seu perfil de segurança a longo prazo, o que requer vigilância e monitoramento.
Se as pessoas adquirem os medicamentos sem recomendação nem acompanhamento médico, o monitoramento dos efeitos adversos fica impossível.
Agonistas do GLP-1
Os medicamentos agonistas do receptor GLP-1 funcionam basicamente de três formas: 1) imitam a ação do GLP-1, o hormônio produzido no intestino que sinaliza ao cérebro quando estamos alimentados, induzindo a saciedade; 2) retarda o esvaziamento do estômago; 3) estimula o pâncreas a produzir mais insulina quando ingerimos carboidratos – aliás, esse foi o principal motivo de a droga ser usada para tratar diabetes.
Estudos mostram que pacientes perderam até 17% do peso com a medicação, além de terem apresentado melhora nos parâmetros metabólicos.
No entanto, há o risco de reações alérgicas e efeitos adversos. Os mais frequentes são os digestivos, como diarreia, náuseas e vômitos. Em geral, esses efeitos desaparecem com o uso.
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Uso indicado X uso indiscriminado
Os benefícios da perda de peso por aqueles que têm obesidade são incontestáveis. A obesidade está relacionada a uma série de doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer.
Os agonistas do receptor GLP-1 revolucionaram o tratamento da obesidade, doença multifatorial causada por fatores biológicos, sociais e psicológicos.
No entanto, o tratamento da obesidade implica outras medidas além das farmacológicas que levem em consideração as complexidades individuais de cada paciente.
Há cada vez mais estudos demonstrando que aqueles que apostam apenas nos medicamentos acabam recuperando o peso perdido após interromper o uso dessas drogas, além de perderem massa magra (músculo).
O medicamento é indicado para tratar diabetes tipo 2 e pessoas com obesidade (IMC maior que 30) ou com IMC igual ou maior que 27 que tenham ao menos uma comorbidade, ou seja, uma doença como hipertensão, diabetes, problema cardiovascular, entre outras, associada.
São essas as pessoas que têm recomendação para fazer uso dos agonistas do GLP-1. Sem indicação nem acompanhamento médico, além dos efeitos adversos, as pessoas podem recuperar o peso perdido e, desse modo, voltar a utilizar os medicamentos.
A comunidade médica ainda não sabe quais os efeitos a longo prazo do uso intermitente dessas drogas. Nesse sentido, a medida da Anvisa vem em boa hora.