Obesidade infantil: Brasil tem taxas mais altas que as globais

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Publicado em: 21 de março de 2024

Revisado em: 21 de março de 2024

Brasil apresenta taxas de obesidade infantil superior à média global. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

A cada sete crianças brasileiras, uma está com excesso de peso ou obesidade, segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) 2023, do Ministério da Saúde.

Isso significa que 14,2% das crianças com menos de cinco anos de idade têm excesso de peso ou obesidade no Brasil. A média global é de 5,6%, menos da metade da média do país.

Veja também: Obesidade infantil: o efeito na saúde mental das crianças

Entre os adolescentes, a taxa é ainda mais alta: 33%, ou seja, um terço dos adolescentes tem excesso de peso, ante a média mundial de 18,2%.

A obesidade na infância está relacionada a um risco aumentado de hipertensão arterial, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças crônicas na vida adulta. 

 

Obesidade infantil: problema multifatorial

Nas últimas décadas, a comunidade científica nacional e internacional tem mudado a forma de abordagem da obesidade. Se antes o excesso de peso era tratado como um problema individual de quem cometia excessos à mesa, hoje a tendência, com base em evidências científicas, é abordar o problema como algo associado a fatores genéticos, sociais, econômicos, psicológicos e culturais que precisa de tratamento multidisciplinar.

Nesse sentido, os hábitos adotados por grande parte dos países ocidentais estão intimamente relacionados às altas taxas de obesidade entre crianças e jovens brasileiros.

A alimentação do país mudou nos últimos anos. Se antes os brasileiros faziam as refeições em casa e se alimentavam de produtos in natura ou pouco processados, é cada vez maior o número de pessoas, incluindo crianças, que consomem alimentos processados e ultraprocessados.

A falta de recursos financeiros e de tempo para cozinhar as próprias refeições têm levado muitas famílias a optarem por alimentos prontos ou refeições ligeiras com baixo valor nutritivo.

De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago de Chile, o consumo de alimentos ultraprocessados é responsável por aproximadamente 57 mil mortes prematuras de pessoas entre 30 e 69 anos por ano no Brasil.

Alimentos ultraprocessados não são propriamente alimentos, mas formulações derivadas de alimentos, modificadas quimicamente a ponto de conterem pouco ou nenhum alimento inteiro. A esses produtos são adicionados corantes, aromatizantes, emulsificantes e outros aditivos para que se tornem mais palatáveis, o que agrada especialmente às crianças.

Exemplos desse tipo de produtos são os refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos, sorvetes e refeições prontas para consumo.

Outra questão apontada por especialistas como um fator de risco para a obesidade é o sedentarismo. A falta de segurança e de espaços públicos adequados onde as crianças possam brincar e realizar outras atividades físicas é problema comum à maioria das cidades urbanas brasileiras.

Além disso, pesquisas mostram que os jovens passam em torno de quatro a cinco horas diárias em frente às telas, muito mais tempo do que passavam as crianças e  adolescentes das gerações anteriores.

Uma revisão sistemática realizada por pesquisadores do Reino Unido mostrou que há evidência considerável quanto à relação entre o excesso de tempo em frente às telas e problemas de saúde como obesidade e sintomas de depressão em crianças e jovens.

 

Geração com baixa qualidade de vida

Pela primeira vez na história da humanidade, questiona-se se chegará um momento em que as próximas gerações viverão menos do que as anteriores. Isso porque os avanços tecnológicos têm colaborado para a deterioração da saúde dos indivíduos, ao contrário do que ocorreu com nossos antepassados, que presenciaram o surgimento dos antibióticos, das vacinas e do saneamento básico, descobertas que colaboraram para o aumento da expectativa de vida.

Embora a medicina tenha avançado em relação ao diagnóstico e tratamento da maioria das doenças crônicas, nunca tivemos tantas pessoas com doenças não transmissíveis no mundo.

Esse número pode ser explicado, em parte, pelo aumento da expectativa de vida, mas também é fruto do fato de que estamos adquirindo cada vez mais cedo doenças antes associadas ao envelhecimento.

Muitas dessas doenças, como diabetes, hipertensão e câncer estão associadas à obesidade e aos maus hábitos, como sedentarismo, consumo excessivo de álcool e má alimentação.

Os sistemas de saúde do mundo ocidental têm um desafio hercúleo para as próximas décadas: fornecer assistência e cuidados em saúde para populações cada vez mais velhas e com doenças não transmissíveis que poderiam ter sido prevenidas com mudanças de hábitos individuais e sociais.

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