Menopausa: novo medicamento para tratar fogachos é reflexo de mudança da sociedade

Novo medicamento para tratar fogachos durante a menopausa, lançcado nos EUA, reflete as mudanças de comportamento das últimas décadas. Leia na coluna de Mariana Varella.

mulher na menopausa em frente ao ventilador. Novo medicamento para tratar fogachos é promissor

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Publicado em: 18 de maio de 2023

Revisado em: 18 de maio de 2023

Estados Unidos lançam novo medicamento para tratar fogachos (calores da menopausa). Interesse pelo assunto mostra mudança da sociedade. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

As ondas de calor (fogachos) e suor noturno são um dos principais sintomas que levam as mulheres a buscarem ajuda médica durante o climatério e a menopausa. Apesar de comuns e, muitas vezes, intensos a ponto de afetarem a qualidade de vida, os sintomas costumam ser ignorados ou menosprezados por quem convive com essas mulheres.

Um tratamento não hormonal que promete reduzir a intensidade dos fogachos acaba de ser aprovado pelo Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA), agência reguladora cuja função é semelhante à da Anvisa no Brasil.

Veja também: Menopausa: quando acontece e como amenizar os sintomas

Trata-se do fezoniletante, medicamento oral que será vendido com o nome comercial de Veozah. Essa droga é um antagonista da neurocinina-3 (NK-3), substância produzida por um grupo de neurônios que desempenha um papel importante na regulação da temperatura corporal (termorregulação). Com a queda do estrogênio ocorrida na menopausa, há um aumento da expressão de NK-3 e, consequentemente, dos sintomas vasomotores como os fogachos. O fezoniletante atua nos neurônios ligando-se e bloqueando as atividades do receptor de NK-3, reduzindo, assim, a quantidade dessa substância no organismo. Dessa forma, há uma melhora nos sintomas.

Anos de estudos controlados e randomizados mostraram que a droga é efetiva e segura. Os efeitos adversos mais comuns, de acordo com o FDA, são dor de estômago, diarreia, insônia, dor nas costas, fogachos e aumento das transaminases, enzimas produzidas pelo fígado. Por esse motivo, a agência recomenda que as pacientes façam exames de sangue a cada três meses durante nove meses de uso da medicação, para checar o funcionamento do fígado, e a contraindica para pacientes com cirrose e doença renal grave.

A autorização para o uso do medicamento foi recebida com euforia na mídia dos Estados Unidos. O “New York Times” ressaltou que décadas de opções limitadas para tratar os efeitos da menopausa criaram uma enorme demanda de mulheres que desejam reduzir os efeitos adversos da menopausa.

O “Washington Post” e a “CNN” lembraram que apesar de a reposição hormonal, opção mais indicada até o momento para tratar os fogachos, ser segura, ela não pode ser usada por pacientes com histórico de AVC, infarto e outras doenças. Assim, o medicamento novo pode ser uma alternativa também para essas mulheres.

O maior problema do medicamento, que ainda não foi aprovado no Brasil, é o preço: 30 dias de tratamento sairão por cerca de R$ 2700,00. 

Mesmo assim, a notícia pode ser encarada como reflexo de uma mudança positiva. A indústria farmacêutica e a cosmética sempre tiveram pouco interesse em pesquisar e lançar produtos voltados para as mulheres na menopausa, mas isso vem mudando nos últimos anos.

 

Aumento da longevidade e quebra de tabu

Com o aumento da longevidade, a menopausa passou a representar até ⅓ da vida das mulheres. Considerar que passaremos esse período tendo de lidar com sintomas que comprometem nossa qualidade de vida, incluindo a sexual e produtiva, é sinal do descaso com que temas relacionados à saúde da mulher são tratados em boa parte do mundo.

Assim, cada vez mais mulheres falam abertamente sobre a menopausa e seus sintomas enquanto desempenham funções importantes no trabalho e na sociedade.

Há inúmeros estudos de medicamentos para tratar os sintomas da menopausa em andamento, e uma infinidade de lançamentos de produtos que vão desde absorventes discretos para incontinência urinária até lubrificantes para reduzir o ressecamento vaginal.

A menopausa deve ser considerada uma fase natural da vida e não doença, mas isso não significa que devemos fechar os olhos para o fato de que muitas de nós têm sintomas intensos, que impactam negativamente a qualidade de vida e que, portanto, devem ser amenizados.

Se vamos viver ⅓ da vida na menopausa, que ela nos seja leve.

 

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