Muitas pessoas acreditam que o consumo moderado de álcool protege contra doenças cardiovasculares. Mas o fato é que não existe nível seguro do consumo de álcool.
Até outro dia, a opinião pública afirmava que tomar uma taça de vinho tinto por dia era um hábito saudável. No entanto, desde a publicação recente de um estudo científico, circula a notícia de que beber moderadamente não faz tão bem à saúde.
Será que é verdade? DROSP checou!
QUEM DISSE? G1 (entre outros)
QUANDO DISSE? 24/08/2018
O QUE DISSE? “Não existe nível seguro de consumo de álcool, mostra pesquisa.”
CHECAGEM: VERDADEIRO
No último dia 23 de agosto a revista científica “The Lancet” publicou um estudo que imediatamente teve enorme repercussão na mídia. O trabalho em questão avaliava até que ponto o consumo de álcool em níveis moderados pode servir como proteção para algumas condições de saúde. Há muito tempo faz parte do senso comum a crença de que o consumo de doses baixas de alcool traz benefícios à saúde, em especial ao coração. No entanto, o relatório de pesquisadores ingleses publicado na “The Lancet” aponta para outra conclusão: a de que“os pequenos benefícios adquiridos com o consumo baixo e moderado de bebidas alcoólicas são superados pelo risco aumentado de outros danos relacionados à saúde, incluindo o câncer”.
Através da análise de dados de 195 países, o estudo encontrou um pequeno efeito protetor contra doenças cardíacas e diabetes associado ao consumo moderado de álcool. No entanto, é impossível concluir se esses resultados se devem ao consumo de bebidas alcoólicas ou a outras variáveis, como por exemplo diferenças de comportamento ou genética entre pessoas que bebem moderadamente e pessoas que não bebem. Os pesquisadores descobriram, também, que quando combinavam os riscos para todas as 23 doenças que estudavam, beber não oferecia proteção contra a mortalidade geral. Ou seja, o valor “seguro” calculado para consumo de alcool foi zero: beber em qualquer quantidade oferece riscos. Segundo o estudo, consumir apenas uma dose de bebida alcoólica por dia aumentou o risco de desenvolver problemas de saúde relacionados ao álcool em 0,5% em relação à abstenção; beber cinco doses por dia levou a um aumento de 37% no risco. Analisando-se essas estatísticas, vê-se que embora o risco seja muito baixo, o consumo de álcool não pode ser visto como uma escolha saudável.
A reportagem do site G1 está correta ao afirmar que o estudo em questão conclui que “Não existe nível seguro de consumo de álcool, mostra pesquisa”. Mas estaria também esta afirmação embasada por outras evidências científicas e posições oficiais de entidades de saúde pública de relevância? Checamos.
Veja também: Outras checagens
A Organização Mundial e Saúde (OMS) tem uma posição clara sobre o assunto e diz que:
“Não existe um nível seguro para o consumo de álcool. Claro que há formas de consumo que oferecem menos risco, mas a OMS não estabelece limites específicos, porque a evidência mostra que a situação ideal para a saúde é não consumir nenhuma quantidade de álcool. O álcool está intimamente relacionado com cerca de 60 diagnósticos diferentes e para quase todos existe uma estreita relação dose-resposta, por isso, quanto mais você bebe, maior o risco de doença”.
O Centers of Disease Control and Prevention (CDC), entidade vinculada ao governo norte-americano, mantém a mesma posição do estudo e afirma que “embora estudos anteriores tenham indicado que o consumo moderado de álcool traz benefícios protetores à saúde (por exemplo, redução do risco de doença cardíaca), estudos recentes mostram que isso pode não ser verdade”.
Segundo a Health Promotion Agency, entidade neozelandesa, mesmo bebendo dentro de limites de baixo risco, uma série de fatores pode afetar o nível individual de risco, incluindo a quantidade consumida, a composição genética e corpórea, o gênero, problemas de saúde existentes e idade. A entidade afirma ainda que o risco associado à bebida sempre existe, ele nunca é zero.
Em artigo assinado por sua equipe, a Mayo Clinic afirma que se a pessoa não bebe, não deve começar a consumir bebida alcóolica para obter os possíveis benefícios para a saúde provenientes do consumo moderado de álcool, pois eles não superam os riscos associados à bebida.
As demais referências buscadas por DROPS e listadas ao final do artigo tambem apontam para a mesma afirmação da reportagem do G1. Dessa forma, concluimos que é VERDADEIRA a frase “Não existe nível seguro de consumo de álcool, mostra pesquisa”.
Referências
Acesso em 13/09/2018:
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(18)31571-X/fulltext
https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2818%2931571-X
https://www.cdc.gov/alcohol/fact-sheets/moderate-drinking.htm
https://www.alcohol.org.nz/help-advice/advice-on-alcohol/low-risk-alcohol-drinking-advice
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/o-alcool-e-o-coracao/
https://www.cdc.gov/alcohol/faqs.htm
https://health.gov/dietaryguidelines/2015/guidelines/appendix-9/
http://www.who.int/topics/alcohol_drinking/en/
https://www.drinkaware.co.uk/alcohol-facts/alcoholic-drinks-units/alcohol-limits-unit-guidelines/