Quem se deparar com manchas brancas ou cinza na boca deve procurar um profissional da saúde para averiguar a condição. Leucoplasia oral é considerada uma lesão pré-maligna pode se transformar em câncer de boca.
Mais frequente entre as pessoas acima de 40 anos, a leucoplasia é uma mancha branca que aparece na boca e não sai quando raspada. Localiza-se normalmente na língua, mucosa oral e gengivas.
Arthur Vicentini, médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com residência médica em cirurgia geral e cirurgia de cabeça e pescoço pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que a leucoplasia é “um tipo de lesão que pode surgir na região da mucosa [camada de revestimento interno] da boca, que se apresenta como uma placa esbranquiçada, elevada, de limites normalmente pouco precisos e que não sai com o atrito, enxágue ou escovação”.
É considerada uma lesão pré-maligna, ou seja, não apresenta os componentes clássicos de malignidade, mas tem o potencial de evoluir para um câncer. Entretanto, vale salientar que existe outra lesão semelhante, porém de cor avermelhada, com potencial ainda maior de transformação maligna, chamada eritroplasia. Esta pode se apresentar isoladamente ou associada à leucoplasia, a depender do paciente e situação.
Causas da leucoplasia
De acordo com o dr. Vicentini, as principais causas que podem levar ao surgimento da leucoplasia são as mesmas que podem originar o câncer de boca, ou seja, em ordem de importância: tabagismo, consumo de álcool em grande quantidade, irregularidades dentárias/manutenção inadequada de próteses dentárias e higiene inadequada da cavidade oral.
“Todos esses mecanismos podem se somar, multiplicando os riscos de desenvolvimento das leucoplasias que, quando não tratadas e revertidos os fatores de risco, podem culminar em transformação maligna”, diz o médico.
Ainda de acordo com o especialista, em decorrência desses fatores de risco, as regiões mais comuns de surgimento da leucoplasia na cavidade oral são aquelas onde há mais acúmulo de substâncias nocivas, bem como onde há maior atrito entre os dentes/próteses e as demais estruturas da boca. “São os principais sítios de surgimento de leucoplasias e câncer de boca: borda lateral de língua, gengiva, região posterior ao dente do siso, soalho da boca e revestimento interno da bochecha”, explica.
Porém, o médico ressalta que o câncer de boca pode surgir diretamente, sem a necessidade de lesões precursoras.
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Sintomas e tratamento da leucoplasia
As leucoplasias se apresentam como uma placa esbranquiçada, elevada, de limites normalmente pouco precisos e que não sai com o atrito, enxágue ou escovação.
“Pode haver algum grau de retração, ulceração [áreas de feridas que não cicatrizam] e, em casos mais avançados, dificuldade de movimentação da língua e para engolir, sangramentos e dor intensa”, detalha o especialista.
A principal forma de tratamento consiste em reverter os fatores de risco, para evitar sua progressão e transformação maligna, pontua o médico. Por vezes, apenas a reversão e observação são suficientes para a regressão e até desaparecimento das lesões.
Em casos selecionados podem ser utilizados medicamentos sistêmicos como antivirais e medicações tópicas, como corticoides e barreiras de proteção para evitar o atrito local.
Em casos de piora ou não resolução com as medidas acima, ou mesmo quando já há suspeita de malignidade, opta-se por realização de biópsias ou mesmo pela retirada completa da lesão através de cirurgia, esclarece o dr. Vicentini.
Leucoplasia oral e risco para desenvolver câncer
O médico pontua que o potencial de transformação de malignidade das leucoplasias é maior do que nas outras áreas de mucosas. “Diferentes estudos foram publicados ao longo do tempo na tentativa de definir as taxas de transformação das leucoplasias em tumores malignos, tendo a taxa aumentado de 5,7% em 1963 para 10,9% em 1996.”
Mas o especialista sinaliza que existem distinções entre os estudos e os números coletados, principalmente relacionados à extensão das leucoplasias, atraso do diagnóstico, dificuldade de acesso a serviços de saúde e tratamento, bem como diferenças entre as populações estudadas e fatores de risco específicos em cada uma delas.
Outra dúvida é se leucoplasia é câncer. O dr. Vicentini afirma que não, mas observa que há “risco importante de transformação para malignidade, principalmente se não houver controle dos fatores de risco e tratamento adequados”.
Ainda conforme o especialista, existem subtipos da doença, como a leucoplasia pilosa, a leucoplasia verrucosa proliferativa e a leucoplasia homogênea.
As causas de base, formas de apresentação e possibilidade de transformação maligna podem variar de uma para a outra. Em caso de dúvida, marque uma consulta médica.
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Sobre a autora: Angélica Weise é jornalista e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por assuntos relacionados à saúde mental, atividade física e saúde da mulher e criança.