Não existe mágica: uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos é proibido e traz riscos


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Autor Convidado

close em mão de homem em academia segurando frasco de comprimidos com uma mãe e comprimidos com a outra. Uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos é proibido

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Publicado em: 10 de janeiro de 2024

Revisado em: 10 de janeiro de 2024

Em 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu o uso de esteroides anabolizantes para ganho de massa muscular e melhora do rendimento esportivo.

 

Embora seja proibida, ainda é comum a utilização de esteroides anabolizantes para fins estéticos, como ganho de massa muscular, e para a melhora do desempenho esportivo. Esses hormônios costumam “seduzir” por conta dos resultados considerados rápidos, mas é importante ter consciência dos riscos e perigos que seu uso traz à saúde, tanto a curto quanto a longo prazo.

O corpo humano produz esteroides, que são substâncias orgânicas fabricadas pelo córtex das adrenais, localizadas na região dos rins, ou pelas gônadas (testículos e ovários) e que servem de base para a produção de alguns hormônios. 

Já os esteroides anabolizantes são substâncias sintéticas, geralmente derivadas da testosterona, um dos principais hormônios sexuais masculinos. Os anabolizantes promovem o crescimento das células, resultando no desenvolvimento de tecidos como o muscular e o ósseo. É por isso que o uso desse tipo de substância gera ganho de massa muscular e aumento da força e da energia.     

O dr. Fábio Trujilho, endocrinologista e vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), explica que há casos em que a prescrição de anabolizantes é recomendada. “Geralmente, a principal indicação de um esteroide anabolizante é para homens que têm deficiência de testosterona, com falta de produção adequada”, exemplifica. 

Ele cita também casos de pessoas com câncer. “Em alguns casos de pessoas que têm uma neoplasia, um câncer numa fase mais avançada, que tem uma perda de massa muscular muito grande que impede elas, às vezes, de se movimentarem, o uso de um esteroide anabolizante pode ajudar um pouco na melhora da massa muscular”, explica.

 

Uso proibido

Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu o uso de esteroides anabolizantes para ganho de massa muscular e melhora do rendimento esportivo. A resolução explica que essas substâncias são destituídas “de comprovação científica suficiente quanto ao seu benefício e segurança para o ser humano”.

O documento do CFM autoriza apenas terapias de reposição hormonal “em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados”.

 

Efeitos colaterais dos esteroides anabolizantes

O dr. Fábio Trujilho chama a atenção para os efeitos colaterais do uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos, que, segundo ele, dependem da substância e da quantidade utilizadas e do sexo de quem usa. 

“Se uma mulher faz uso de anabolizantes, ela vai ter o lado bom de ganhar massa muscular e, talvez, melhorar a libido e de ter uma melhor definição [muscular]. Por outro lado, ela vai ter acne e uma pele mais oleosa. Eu já recebi pacientes, por exemplo, que foram ao otorrino por causa de rouquidão e, na verdade, não era rouquidão, era uma voz grossa por causa de anabolizantes. E, algumas vezes, eles podem também levar a lesões hepáticas, que podem ser até fatal”, alerta.

O endocrinologista explica que, no caso do homem, a pele também tende a ficar oleosa e aumenta a incidência de acne. Além disso, um das consequências a longo prazo no sexo masculino é a infertilidade.   

“Existe uma comunicação entre o cérebro e o testículo. O cérebro, a hipófise, produz hormônios, LH e FSH, que estimulam o testículo a produzir testosterona. Se você faz o uso de um esteroide anabolizante, que simula essa testosterona, o cérebro interpreta que não precisa estimular o testículo a produzir testosterona. Então, acontece atrofia testicular: ele acaba não produzindo espermatozoide, que é uma das causas que pode levar à infertilidade”, detalha.

        Veja também: Moda de anabolizantes | Comenta #16

 

Dependência emocional

O endocrinologista também destaca como risco à saúde a tendência, chamada por ele, de “dependência emocional” dos esteroides anabolizantes. “As pessoas muitas vezes procuram o uso desses esteroides anabolizantes porque é uma solução mágica, uma solução que é só aplicar e pronto. E isso acaba levando, por exemplo, a uma dependência até emocional.”

Ele explica que, assim como o ganho de massa muscular tende a ser rápido, quando a pessoa para de usar anabolizante, a perda de músculo também é rápida. “A pessoa acaba usando mais e, muitas vezes, acaba existindo até uma certa distorção, e essa pessoa acaba exagerando e ganhando músculo além do que normalmente ela pensava e precisava para ter um corpo que ela julgava atlético.” 

 

Alternativas ao uso de esteroides anabolizantes

O dr. Fábio Trujilho conta que existem alternativas mais seguras e até saudáveis ao uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos, como ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo, mas não existe “mágica”.

“Na verdade, existem hábitos de vida saudável. Exigem que você tenha uma boa alimentação, que você tenha uma fonte de proteína adequada. Mas não adianta você ter uma boa ingestão de proteína ou, às vezes, usar suplemento proteico, mas não fazer exercício. Você precisa fazer exercício para que isso se transforme em músculo”, alerta. 

O endocrinologista também recomenda que a pessoa procure orientação de um profissional que tenha experiência em hipertrofia muscular ou aumento da força e da energia de forma natural. “Isso não é mágico; exige muito esforço”, conclui. 

        Ouça: Como a musculação impacta a saúde? – DrauzioCast #194

 

Sobre a autora: Fabiana Maranhão é jornalista desde 2006 e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por temas ligados à infância e à adolescência, alimentação saudável e saúde mental. 

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