Por que os casos de AVC têm crescido entre os mais jovens?

mulher sentada no sofá com mão na cabeça. AVC em jovens é mais raro, mas pode ocorrer.

Compartilhar

Publicado em: 9 de dezembro de 2022

Revisado em: 4 de janeiro de 2023

Doença é associada a idosos, mas a incidência de AVC em jovens com menos de 45 anos tem chamado a atenção dos especialistas. Saiba como identificar os sintomas e se prevenir.

 

A cada cinco minutos, um brasileiro morre em decorrência de AVC (acidente vascular cerebral), também conhecido popularmente como “derrame”, o que resulta em mais de 100 mil mortes por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso torna a doença a segunda principal causa de óbitos no país. 

 

Tipos de AVC

 

Apesar do costume de usarmos “AVC” como um termo guarda-chuva, um acidente vascular cerebral pode ser dividido em duas categorias principais

  • Acidente vascular cerebral isquêmico: é o tipo de AVC isquêmico mais comum, responsável por algo entre 80% e 85% dos casos totais. Ele acontece quando um vaso sanguíneo é bloqueado por um coágulo ou por placas de gordura. O risco aumenta caso o vaso sanguíneo já esteja danificado por uma hipertensão arterial prévia, o que faz da doença crônica um fator de risco importante. 
  • Acidente vascular cerebral hemorrágico: menos comum, é responsável por cerca de 15% a 20% dos casos de AVC. Ocorre quando um vaso sanguíneo se rompe e há um extravasamento de sangue para o interior do cérebro ou para as meninges, as membranas que o envolvem. Um AVC hemorrágico pode ser intracerebral, quando o sangue vaza para o cérebro e danifica as células cerebrais; ou subaracnóidea, quando o vaso que se rompe fica próximo da superfície do cérebro, fazendo com que seja preciso retirar o sangue entre o crânio e a superfície do cérebro.

 

Sintomas do AVC

 

Os sintomas do AVC surgem de maneira repentina e variam de acordo com a região afetada do cérebro, uma vez que cada região do órgão é responsável por uma função específica. Conheça os mais comuns: 

  • Boca torta / rosto assimétrico;
  • Dificuldade para falar ou sorrir;
  • Perda de força em um dos lados do corpo;
  • Dificuldade para levantar os braços;
  • Dificuldade para caminhar. 
  • Perda ou alteração da visão;
  • Dormência ou formigamento no rosto, braços ou pernas;

Também podem ocorrer sintomas menos específicos, como desmaio, dor de cabeça muito intensa e vômitos. 

Veja também: 5 coisas que você precisa saber sobre AVC

 

Vida moderna e as novas vítimas do AVC

 

Embora culturalmente o AVC seja associado à população idosa (acima dos 60 anos) a incidência entre os jovens (abaixo dos 50) tem aumentado e preocupado especialistas: até 15% dos casos acontecem em pessoas entre 45 e 50 anos. Mas por que vemos essa mudança no perfil dos afetados pela condição?

Dr. Daniel Abud, médico coordenador do serviço de neurorradiologia intervencionista do Hospital 9 de Julho – DASA, pontua dois fatores como os principais responsáveis por isso. 

  • Mudanças no estilo de vida – aumento de casos de obesidade, estresse crônico / ansiedade, diabetes, colesterol elevado e hipertensão. Assim como alimentação nutricionalmente pobre e sedentarismo
  • Evolução do diagnóstico médico – a tecnologia permite exames e diagnósticos cada vez mais precisos, identificando casos que, antes, poderiam passar despercebidos. 

Semelhante a outras doenças cardiovasculares, o histórico familiar também é um fator de risco importante. Se um dos seus pais teve um AVC isquêmico (AVCI) antes dos 65 anos, o filho (a) tem um risco três vezes maior de sofrer um AVC;

 

Sintomas e fatores de risco específicos do AVC em jovens

A doença aterosclerótica (acúmulo de colesterol na parede das artérias) é o fator mais importante no AVCI, e é mais presente entre a população idosa. Em pacientes com até 45 anos de idade, a embolia de origem cardíaca e as dissecções arteriais são as causas mais comuns de AVCI. Porém, a falta de controle dos fatores de risco cardiovascular nos pacientes mais jovens pode aumentar a ocorrência de AVC associado à aterosclerose nessa faixa etária.

Outro ponto é que, embora os sintomas do AVC estejam relacionados à área do cérebro afetada, algumas causas de AVC podem ter outros sintomas associados, como explica o dr. Daniel Abud. 

“Um exemplo é a chamada dissecção arterial, causa mais comum nos pacientes jovens, que pode causar dor repentina na região do pescoço ou nuca, que costuma demorar a passar.”

 

E o ataque isquêmico transitório (AIT)?

Também chamado de “mini AVC”, o ataque isquêmico transitório (AIT) é um acidente vascular cerebral isquêmico de menor duração, pois o coágulo se rompe rapidamente, assim como os sintomas, que costumam durar apenas algumas horas ou minutos. 

Mesmo assim, o AIT não deve ser ignorado, pois pode ser prenúncio de um quadro definitivo que pode se instalar nas 48 horas seguintes. Por isso, o ideal é procurar atendimento médico, como orienta o dr. Eli Evaristo, médico neurologista. “Se a pessoa não der importância aos primeiros sintomas e marcar uma consulta médica para quinze ou trinta dias mais tarde, estará correndo um risco enorme de que algo mais grave aconteça.”

AIT foi o diagnóstico do ator Renato Aragão, de 87 anos, conhecido por interpretar o personagem Didi, internado na última quarta-feira (7) após se sentir zonzo. Logo após manifestar sintomas, ele procurou atendimento médico e segue em vigilância neurológica como o recomendado, apesar de já ter dito publicamente que está bem. 

Veja também: AVC também atinge crianças, principalmente as recém-nascidas

 

Diagnóstico e tratamento do AVC em jovens

Ao identificar os sintomas, o ideal é procurar atendimento médico imediato, seja através do 192, seja indo direto ao serviço pré-hospitalar. Receber o diagnóstico e a intervenção correta o mais rápido possível é fundamental para reduzir o risco de sequelas e de fatalidade.

No hospital, o médico irá investigar a causa dos sintomas, e, se necessário, solicitar exames como tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Após confirmar o AVC, o profissional de saúde poderá partir para a intervenção, a fim de minimizar o prejuízo ao cérebro e as sequelas.

Essa intervenção pode ser desde identificar uma doença cardíaca por trás de um AVC isquêmico e tratá-la, além de desobstruir a artéria em questão, até uma intervenção cirúrgica a depender do tamanho da lesão provocada por um AVC hemorrágico, a fim de retirar o excesso de sangue no cérebro e aliviar a pressão intracraniana.

Sequelas do AVC em jovens

As sequelas deixadas por um AVC podem ter um impacto gigantesco na qualidade de vida do paciente. Assim como os sintomas, as sequelas estão associadas à parte do cérebro atingida pelo derrame. 

Como pessoas mais jovens tendem a ter menos comorbidades, a prática de exercícios de reabilitação motora e da fala pode ser facilitada. Mas isso não significa que não haja motivo para preocupação. O dr. Daniel chama a atenção:

“Apesar das métricas principais avaliarem a recuperação baseando-se em independência para atividades diárias e capacidade de locomoção sem ajuda, estudos mostraram que pacientes jovens vítimas do AVC tendem a valorizar também outros parâmetros, como capacidade de retorno ao trabalho e de interação social, fatores estes comumente não relatados na literatura médica, podendo inclusive causar impacto psicológico negativo nesta população”.

 

Prevenção

De acordo com os especialistas, cerca de 80% dos AVC isquêmicos, os mais comuns, podem ser prevenidos através do controle dos fatores de risco, como:

  • Adotar hábitos de vida saudáveis;
  • Controlar o sobrepeso;
  • Deixar de fumar;
  • Evitar alimentos ricos em sal e gordura;
  • Praticar exercícios físicos regularmente. 

“Para os pacientes que têm indicação, é muito importante o uso correto e regrado das medicações prescritas, além de tratar outros eventuais fatores potencialmente causadores, como as estenoses das artérias carótidas, doenças das válvulas do coração ou as arritmias cardíacas”, finaliza o médico.

Veja também: Sono e AVC | Artigo

Veja mais