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Potes plásticos fazem mal? Veja como usar com segurança na cozinha

Publicado em 22/04/2025
Revisado em 17/04/2025

O uso diário do plástico é quase inevitável. No entanto, é preciso ter alguns cuidados, especialmente quando ele entra em contato com alimentos quentes.

 

Entre os itens mais comuns nos lares brasileiros estão os potes plásticos. Eles são versáteis, servindo para guardar desde sobras de comida até marmitas congeladas. Mas será que estamos usando esses recipientes da forma correta?

Tipos de plásticos

Para começar, é importante entender os diferentes tipos de plástico. Esse material sintético, geralmente derivado do petróleo, está presente em muitos objetos da cozinha. Contudo, nem todo tipo é seguro para armazenar ou aquecer alimentos. 

Observe os potes da sua casa: todos devem ter um símbolo triangular com um número dentro, que indica o tipo de material e a destinação correta para descarte. Esse código segue as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) divulgadas em 2008. Veja os principais:

1 – Polietileno tereftalato (PET): comum em garrafas de refrigerante;

2 – Polietileno de alta densidade (PEAD): presente em sacolas plásticas e tampas de garrafa;

3 – Policloreto de vinila (PVC): bastante usado em tubos e mangueiras;

4 – Polietileno de baixa densidade (PEBD): flexível e resistente, é usado em sacos de lixo;

5 – Polipropileno (PP): muito utilizado em embalagens de iogurte e sorvete. Sua formulação ajuda a conservar o aroma dos alimentos e suporta variações de temperatura;

6 – Poliestireno (PS): usado em embalagens de cosméticos e conhecido como isopor;

7 – Outros: são os tipos de plásticos que não foram incluídos nas categorias anteriores.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define regras específicas para o uso de plásticos em contato com alimentos, incluindo limites de substâncias que podem migrar para a comida. Ainda assim, estudos científicos mostram que alguns tipos — principalmente os marcados com os números 3, 6 e 7 — podem conter compostos como o bisfenol A (BPA), que potencialmente podem oferecer riscos à saúde.

 

O que é o bisfenol A?

O bisfenol A (BPA) é uma substância usada na fabricação de certos tipos de plástico, como o policarbonato. Estudos demonstraram preocupação quanto à sua segurança, o que movimentou a comunidade científica e órgãos supranacionais, como a OMS. Devido a incerteza dessas descobertas, desde 2012 o Brasil optou por proibir a importação,  fabricação e comercialização de mamadeiras e produtos voltados à alimentação de bebês que contenham o BPA. 

Segundo a Anvisa, “para as demais aplicações, o BPA ainda é permitido, mas a legislação estabelece limite máximo de migração específica desta substância para o alimento que foi definido com base nos resultados de estudos toxicológicos”.

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Por que isso importa?

Cientistas do mundo todo vêm investigando os impactos do plástico no corpo humano. Uma das grandes preocupações é a ingestão de microplásticos, pequenas partículas que resultam da degradação do plástico e que já foram encontradas na água, no ar, em alimentos (como peixes) e até dentro do corpo humano. 

“O problema dos microplásticos é que, por muito tempo, a gente imaginou que o plástico tinha seu tempo de decomposição e naturalmente sumia. Mas, na verdade, o que se entendeu após estudos é que ele vai se quebrando em partículas minúsculas, que vão se quebrando cada vez menores”, explica Beatriz Alexandre-Santos, biomédica e especialista em morfologia e biologia molecular. “Hoje em dia, quando a gente se alimenta de frutos do mar, por exemplo, estamos ingerindo microplásticos”, afirma.

Beatriz também destaca, em suas pesquisas, os possíveis efeitos de longo prazo do contato com microplásticos no corpo humano. Segundo ela, substâncias como o bisfenol podem interferir em diferentes sistemas do organismo, como o endócrino, o reprodutivo, o cardiovascular e o metabólico. Uma exposição breve pode gerar efeitos leves, mas os impactos mais graves costumam surgir com o tempo. “Então, o que a gente tem pensado a nível científico é justamente entender esses efeitos mais a longo prazo, porque isso, sim, melhora o que a gente está vivendo na sociedade atual”, explica Beatriz.


Armazenamento e aquecimento

Eliminar totalmente o plástico do nosso dia a dia não é viável  — e nem precisa ser. Mas é possível fazer escolhas mais seguras, especialmente quando se trata do contato com alimentos. Uma sugestão é armazenar comidas em potes plásticos apenas por curtos períodos ou substituí-los por recipientes de vidro.

“O que eu defendo muito é comunicar que o plástico não é um vilão. É impossível bani-lo de nossa sociedade e nem é o objetivo. Mas acho que é possível fazer escolhas conscientes. Então, por exemplo, você vai esquentar um recipiente no micro-ondas, prefira que ele seja de vidro, porque quando você esquenta o plástico, ele vai soltar substâncias. Se vai armazenar algo na geladeira, tente o vidro também. Vai tomar um cafezinho? Use um copinho de papel, ou de cerâmica”, ressalta Beatriz.

Se não for possível evitar o plástico, escolha potes feitos de polipropileno (PP), que geralmente são indicados como “seguros para micro-ondas” e não contêm BPA.


Dicas práticas

Especialistas sugerem evitar o contato entre plásticos e alimentos muito quentes ou congelados. Ana Carolina Junqueira Vasques, professora do curso de Nutrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e uma das fundadoras do Projeto MeNu – Medicina Culinária e Nutrição na Atenção à Saúde, indica algumas recomendações para reduzir o uso de plástico na cozinha:

  • Não aqueça alimentos em potes de plástico, a não ser que o rótulo indique que são próprios para isso;
  • Prefira armazenar comida em recipientes de vidro, porcelana ou aço inoxidável;
  • Evite consumir bebidas quentes em copos plásticos;
  • Descarte utensílios plásticos rachados, riscados manchados ou deformados;
  • Recicle corretamente, separando os plásticos conforme a numeração. “Caso não seja possível reciclar, tente dar uma nova função àquele pote, seja para guardar material de costura, ferramentas, itens de jardinagem, ou até um brinquedo”, indica Vasques.

Outro cuidado importante é com a lava-louças “Como ela esquenta a água, acaba gerando também um processo que pode levar à liberação de microplásticos, tanto na água quanto para os outros recipientes”, alerta a nutricionista. Ela também menciona o cuidado com utensílios como espátulas. “Uma vez que você coloca um item de plástico em contato com a panela pode haver liberação de microplásticos para o alimento. A recomendação é usar as de silicone, mas principalmente, as de madeira ou de bambu.”

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O que diz a indústria?

A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) afirma que todos os materiais aprovados para contato com alimentos passam por testes rigorosos, incluindo estudos sobre migração de substâncias. O mais importante, segundo a entidade, é seguir as instruções de uso que estão na embalagem do produto.

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