Com o passar dos anos, ocorre uma queda na quantidade de gametas masculinos, o que não deixa o homem infértill, mas pode afetar a saúde do bebê. Veja se homens mais velhos podem ter filhos.
Quando o menino chega à puberdade, a hipófise (glândula endócrina localizada na base do cérebro) envia um aviso para os testículos, por meio de dois hormônios, chamados LH e FSH, de que já é possível começar a produzir espermatozoides e mais testosterona. A partir de então, o garoto entra no processo de transição para a vida adulta e passa a fabricar cerca de 200 milhões de gametas (outro nome dado aos espermatozoides) por dia, segundo a literatura médica.
Essa linha de produção de gametas, no entanto, não tem a mesma eficiência a vida toda. Um estudo de 2013, com 5.081 norte-americanos com idade entre 16,5 e 72,3 anos, apontou que o número total de gametas presentes na ejaculação diminui 2% a cada ano a partir dos 34 anos. Além disso, as células reprodutivas do homem sofrem mudanças morfológicas e vão se tornando cada vez mais lentas a partir dos 40, assim como acontece com o ser humano quando fica mais velho.
“A maioria dos estudos sobre fertilidade masculina indica que, com a idade paterna avançada, o homem tem uma piora progressiva dos parâmetros seminais convencionais, o que pode influenciar negativamente a saúde da prole”, disse o dr. Sandro Esteves, professor colaborador da disciplina de urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor médico da Androfert, clínica de andrologia e reprodução humana na mesma cidade.
Por que cai?
As alterações nos espermatozoides ocorrem de forma natural. Com o envelhecimento, segundo uma revisão publicada em 2019, as células do testículo associadas à produção de gametas e de testosterona diminuem, o que provoca alterações nos parâmetros do sêmen. Mas não é só isso.
Outro fator que afeta os gametas é o estresse oxidativo, nome dado ao desequilíbrio entre os radicais livres (substâncias químicas superreativas) e os antioxidantes (moléculas que protegem contra a oxidação) presentes no organismo. Funciona assim: o ser humano precisa do oxigênio para realizar diversos processos metabólicos, como a respiração. Ao usar O2, no entanto, sobram os radicais livres, que, em excesso, podem causar diversos problemas, como doenças e morte celular, e acelerar o envelhecimento. Os seres vivos têm um sistema de defesa antioxidante, mas essa proteção perde um pouco da eficácia com a idade.
“O indivíduo com mais de 40 anos produz mais radicais livres, que afetam principalmente o material genético dos espermatozoides. Esses danos podem gerar mutações genéticas e epigenéticas (alterações químicas que modificam a atividade dos genes, mas não a estrutura do DNA), e têm um potencial efeito negativo na prole”, falou o dr. Esteves, que também é professor de endocrinologia reprodutiva da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
Para imaginar a situação, pense em uma carne deixada ao ar livre. Com o tempo, ela apodrece por causa do contato do oxigênio com a proteína. Se ela for colocada em um pote, no entanto, demora mais para ocorrer o estrago, visto que no recipiente há menos O2. Isso vale também para objetos de ferro, que enferrujam por causa do contato do oxigênio com sua superfície.
Outros fatores, como estilo de vida, obesidade, tabagismo, uso de álcool em excesso e de drogas, alguns medicamentos, dieta, poluição ambiental, exposição ao calor excessivo e doenças, como a varicocele (dilatação anormal das veias testiculares), também podem acelerar as mutações e prejudicar a qualidade dos espermatozoides.
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Embrião e filhos
Essas mutações no material genético dos gametas, causadas pelo avanço da idade e o estresse oxidativo, podem afetar o desenvolvimento do embrião e aumentar o risco de infertilidade. Mas aqui vai um adendo: quando o assunto é a dificuldade de um casal se reproduzir, a fertilidade feminina também deve ser levada em consideração.
Outro problema é que as alterações do DNA dos gametas aumentam o risco de os filhos desenvolverem algumas doenças, como a acondroplasia, enfermidade rara conhecida como nanismo. Diversas pesquisas também mostram que as mutações genéticas nas células reprodutivas de homens com mais de 40 anos estão associadas a maiores casos de filhos com esquizofrenia e autismo.
No caso do autismo, segundo estudo publicado em 2010 na revista científica “Molecular Psychiatry”, filhos de pais com mais de 50 anos têm 66% mais risco de desenvolver a condição. Em relação à esquizofrenia, de acordo com uma pesquisa de 2004, a idade avançada do pai aumenta em 1,8 vez o risco de a criança desenvolver a doença.
O que fazer?
O caminho para evitar problemas com os espermatozoides e possíveis enfermidades nos filhos, segundo o dr. Esteves, é a educação. “Os homens precisam ser orientados que a idade paterna após 40 anos vai ter efeito na qualidade seminal e pode afetar a prole. Portanto, a conduta mais adequada seria fazer o planejamento familiar de forma a considerar essa faixa etária.”
Outra questão, falou o médico, é o estilo de vida. “A piora da qualidade seminal, além de envolver idade e genética, também vai depender muito da condição de base do homem – ou seja, aqueles indivíduos que se cuidaram melhor, têm estilo de vida mais saudável, procuraram evitar situações que aumentam o estresse oxidativo e que não tiveram nenhuma doença ficam mais protegidos”, completou.
Se o homem, no entanto, decidir ter filhos mais tarde na vida, existe a possibilidade ainda de recorrer a técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro, que permitem a análise genética do embrião para detectar possíveis doenças. Outra opção para aqueles que desejam postergar a paternidade é fazer o congelamento de espermatozoides, procedimento chamado de criopreservação, o que preserva a fertilidade.
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Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.